O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificou nesta quinta-feira (8) como "epidemia" a violência com armas de fogo em seu país, durante uma cerimônia realizada na Casa Branca para apresentar as novas medidas que buscam prevenir a propagação das chamadas "armas fantasmas", que são impossíveis de rastrear.

"Isso é uma epidemia, pelo amor de Deus, e tem que parar", afirmou o presidente democrata, referindo-se também aos tiroteios como uma "crise de saúde pública".

O presidente recebeu pressões por parte de seus aliados democratas para que faça algo após os recentes tiroteios no Colorado, em Geórgia e na Califórnia.

Além das medidas relativamente modestas sobre este assunto politicamente sensível, Biden anunciará a nomeação de David Chipman, um defensor do controle de armas, para liderar o Escritório do Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF), uma agência central no combate à violência armada.

Como reflexo da falta de unidade política em qualquer assunto relacionado às restrições às armas de fogo, a ATF não tem um diretor confirmado pelo Senado desde 2015. 

Chipman é um veterano da agência que passou a trabalhar para um grupo de defesa do controle de armas e não há ninguém "melhor para fazer as leis de armas serem cumpridas", disse um alto funcionário do governo.

Pico histórico de homicídios
Ele destaca um novo regulamento proposto para "travar a proliferação das armas fantasmas", como são conhecidas as armas de fogo fabricadas de forma artesanal e que não possuem número de série.

O funcionário disse que essas armas são especialmente preocupantes porque quando estão na cena do crime "não podem ser rastreadas".

Outra regra endurecerá o regulamento sobre os suportes de braço fabricados para estabilizar as pistolas, um dispositivo usado pelo homem que matou 10 pessoas no Colorado no mês passado. De acordo com essa norma, as pistolas com suportes seriam classificadas como rifles de cano curto, o que as submeteria a um controle mais rígido.

Outras medidas incluem aumentar o apoio aos órgãos que combatem a violência e a elaboração do primeiro relatório desde o ano 2000 sobre o tráfico de armas de fogo nos Estados Unidos.

No ano passado, as armas de fogo deixaram mais de 43.000 mortos no país, incluindo os suicídios, segundo o site Gun Violence Archive. A organização registrou 611 "tiroteios em massa" em 2020, definidos como os que deixam ao menos quatro vítimas, contra 417 no ano anterior.

"A violência armada cobra vidas e deixa um legado duradouro de trauma dentro das comunidades todos os dias neste país", disse a Casa Branca em um comunicado.

"De fato, as cidades de todo o país estão em meio a um pico histórico de homicídios, violência que afeta desproporcionalmente os americanos pretos e pardos. O presidente se comprometeu a "tomar medidas para reduzir todas as formas de violência com armas de fogo", acrescentou o comunicado.

Primeiros passos
No entanto, não se espera um anúncio de medidas importantes para endurecer as leis que limitam o acesso às armas como, por exemplo, uma maior verificação dos antecedentes.

O funcionário destacou que as disposições a serem anunciadas por Biden - junto ao procurador-geral Merrick Garland - são só os "primeiros passos". Serão ações executivas, e não leis que exigem o voto do Congresso.

"Resta muito a fazer... mas esses são passos realmente importantes", tuitou a diretora de comunicação da Casa Branca, Kate Bedingfield.

Biden promete há muito tempo uma mão de ferro contra a cultura das armas nos Estados Unidos que, segundo ele, alimenta uma epidemia de tiroteios em massa, assim como o fluxo diário de crimes e suicídios.

O democrata se declara defensor de um controle mais rígido dos antecedentes para os compradores das armas de fogo e da proibição dos fuzis do tipo militar, como o AR-15. As duas ideias enfrentam uma forte resistência no Congresso.

O AR-15, uma semiautomática parecida com o emblemático fuzil militar M16, foi apontada por muitos como a arma escolhida em uma série de assassinatos em massa. Ao mesmo tempo, o fuzil é muito popular entre os tiroteios esportivos e os defensores das armas legais, simbolizando a divisão ideológica do país.

Em 1994, quando era senador, Biden apoiou a proibição os fuzis de assalto. A lei expirou uma década depois e nunca foi renovada, com os republicanos cada vez mais rígidos em sua oposição ao que descrevem como um ataque ao direito constitucional.

Depois dos tiroteios em Geórgia e Colorado, Biden pediu ao Congresso para proibir os fuzis de assalto e aprovar leis para uma melhor verificação dos antecedentes dos compradores de armas, mas as estreitas maiorias democratas em ambas as câmaras dificultam o trâmite de iniciativas sobre este assunto tão sensível nos Estados Unidos, onde a Constituição consagra o direito ao porte de armas.