Dos supermercados a restaurantes e fábricas, a escassez afeta o Reino Unido por problemas na cadeia de abastecimento provocados pelo Brexit e pela pandemia, o que leva os empresários a pedirem uma ação do governo.

Na terça-feira (24), o grupo McDonald's anunciou que, no momento, não poderá oferecer smoothies, nem bebidas engarrafadas, em seus 1.250 estabelecimentos no Reino Unido.

A rede de restaurantes Nando's se viu obrigada a fechar quase 50 estabelecimentos na semana passada por falta de frango, atribuída à carência de trabalhadores nas empresas fornecedoras.

 Recentemente, a rede americana KFC advertiu que as dificuldades logísticas estão provocando escassez de alguns produtos do cardápio, e os restaurantes de luxo Novikov estão ficando sem carne Wagyu.

Entre os supermercados, a rede Iceland e sua concorrente Co-Op também reclamam da falta de produtos.

Na indústria, as fábricas de automóveis tiveram de interromper a produção, devido à escassez de componentes. A consequência foi uma queda de 30% das vendas em julho e uma redução da produção ao menor nível desde os anos 1950.As pequenas e médias empresas também são afetadas, especialmente no setor de construção, onde algumas estão ficando sem material e sem funcionários.

A CBI, principal organização empresarial do Reino Unido, afirma que os estoques dos varejistas estão em seu menor nível em quase 40 anos.

Êxodo dos trabalhadores estrangeiros
Há vários meses, os problemas de abastecimento afetam as empresas britânicas e ameaçam prejudicar a recuperação econômica após a pandemia da Covid-19.

O Brexit, que dificulta a entrada de trabalhadores da União Europeia (UE) no Reino Unido, é um dos principais fatores. Estes constituem a maior parte da força de trabalho de logística, já que os britânicos evitam os empregos com longas jornadas e salários pouco atraentes.

A Covid-19 aumentou o êxodo dos trabalhadores estrangeiros, enquanto muitos, em desemprego técnico, ou demitidos, procuraram trabalho em outros setores.

Jonathan Portes, professor da King's College de Londres, destaca que as perturbações ligadas ao coronavírus são observadas em toda Europa. No Reino Unido, porém, a situação se agravou pelo "impacto do Brexit", pois muitos trabalhadores da UE "não retornaram e pode ser que não queiram retornar", explicou.

"O sistema de imigração pós-Brexit também pode alterar os padrões de contratação das empresas", completa.

A federação britânica de varejistas alerta que a situação deve piorar a partir de outubro, quando o Reino Unido vai adotar os novos controles pós-Brexit sobre produtos de origem animal importados da UE.

"Os suprimentos para o Natal já estão a caminho, e muitas empresas estão lutando para encontrar espaço nos navios", especialmente nos procedentes da China, que continua sendo a principal rota de entrega de produtos manufaturados, observa Jonathan Owens, especialista da Universidade de Salford.

Aumentos salariais
As empresas tentam se adaptar ao momento. A rede de supermercados Tesco e o grupo americano de vendas online Amazon não hesitam em prometer bônus para contratar motoristas e funcionários de depósito para atender os clientes no Reino Unido.

E a indústria da carne examina a possibilidade de fechar parcerias com presídios para empregar alguns detentos no processo de reinserção.

Os representantes da indústria pressionam cada vez mais o governo de Boris Johnson para que modifique a regra da imigração pós-Brexit e facilite o acesso dos caminhoneiros europeus ao Reino Unido.

Alguns pedem que eles possam ser beneficiados pelas facilidades de imigração concedidas aos trabalhadores qualificados.

Os caminhoneiros "deveriam ser substituídos por motoristas britânicos, mas levará tempo. Antes que isso aconteça, temos que conseguir muitos produtos para o Natal", afirmou o diretor dos supermercados Iceland, Richard Walker.

"Ninguém quer ter um segundo Natal ruim", acrescenta, insistindo em que o confinamento imposto em 2020 pode ser seguido este ano por uma árvore de Natal e mesas parcialmente vazias.