FAIXA DE GAZA

Nesta segunda-feira (7), os dirigentes de seis agências das Nações Unidas apelaram aos governantes mundiais para agirem com firmeza, urgência e de modo decisivo perante o total desrespeito pela vida humana na guerra na Faixa de Gaza para garantir que os princípios básicos do direito internacional humanitário sejam mantidos.

Em uma declaração conjunta, os líderes das agências ressaltaram que há mais de um mês que nenhum abastecimento comercial ou humanitário é permitido entrar no enclave palestino, o que resulta que mais de 2,1 milhões de pessoas estão encurraladas, enquanto estão sendo bombardeadas e sujeitas à fome novamente. "Enquanto isso, nos pontos de travessia, alimentos, remédios, combustível e materiais de abrigo estão se acumulando e equipamentos vitais estão detidos. Protejam os civis. Facilitem a ajuda. Libertem os reféns. Renovem um cessar-fogo", diz a nota.

A declaração é assinada pelo coordenador de Assistência Humanitária da ONU (OCHA), Tom Fletcher; pela diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Catherine Russell; pelo diretor executivo do Escritório da ONU de Serviços para Projetos (UNOPS), Jorge Moreira da Silva; pelo comissário-geral da Agência de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), Philippe Lazzarini; pela diretora executiva do Programa Alimentar Mundial (PAM), Cindy McCain; e pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom.

Os representantes da ONU indicam também que mais mil crianças foram mortas ou feridas por ataques israelenses apenas na primeira semana após a violação do cessar-fogo, sendo o maior número de mortes numa semana entre crianças em Gaza nos últimos 12 meses. "Estamos testemunhando atos de guerra em Gaza que mostram um total desrespeito pela vida humana. Novas ordens israelenses de deslocamento forçaram milhares de palestinos a fugir mais uma vez, sem um lugar seguro para ir. Ninguém está seguro", denunciaram, lembrando ainda que pelo menos 408 trabalhadores humanitários foram mortos desde outubro de 2023, quando o conflito teve inicio.

Segundo ainda o último balanço, o número de palestinos mortos na guerra ultrapassou mais de 50.700. Hoje, Israel atingiu tendas do lado de fora de dois hospitais em Gaza, matando dois jornalistas. Outras nove pessoas, incluindo seis repórteres, ficaram feridas, relataram autoridades médicas. Além disso, em todo o território, 60 pessoas foram mortas em ataques em diversas áreas. Aproximadamente 1.500 mortes ocorreram desde 18 de março, quando o governo de Tel Aviv quebrou o acordo de cessar-fogo alcançado em janeiro com o Hamas e os militares israelenses retomaram os bombardeios aéreos e a ofensiva terrestre.

Já o ataque de dimensões sem precedentes cometido pelo grupo extremista Hamas em território israelense em 7 de outubro de 2023 provocou cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e 251 sequestrados.

Morte dos funcionários humanitários choca o mundo

O exército de Israel anunciou hoje que uma investigação inicial sobre o assassinato de 15 trabalhadores de emergência (socorristas da Cruz Vermelha, do Crescente Vermelho, da ONU e do Serviço Civil de Emergência Palestino) na cidade de Rafah, no sul de Gaza, no mês passado, mostrou que o incidente aconteceu devido a uma ‘sensação de ameaça’. Em comunicado, os militares israelenses disseram estar conduzindo uma investigação mais aprofundada nos próximos dias e as suas descobertas serão apresentadas ao público. No entanto, o inquérito preliminar indicou que as tropas abriram fogo por causa de uma ameaça percebida após um encontro anterior na mesma área, e que seis dos indivíduos mortos foram identificados como militantes do Hamas. 

Já os trabalhadores humanitários foram mortos a tiros no dia 23 de março e enterrados em covas rasas, descobertas dias depois. O exercito israelense afirmou inicialmente que abriram fogo contra terroristas que se deslocavam em veículos não identificados. Mas, a versão foi desmentida com a divulgação de um vídeo pelo Crescente Vermelho, braço da Cruz Vermelha Internacional, que mostrava o comboio das ambulâncias e caminhões de bombeiros claramente identificados com as suas luzes acesas sob ataque. As imagens causaram indignação mundial e levaram Israel a admitir o erro.   

 Logo após o incidente,  o Crescente Vermelho apelou a uma investigação internacional independente. “O ataque ao seu comboio de ambulâncias foi um crime de guerra completo, refletindo um padrão perigoso de violação repetida do direito internacional humanitário", apontou a organização. O chefe de Assuntos Humanitários da Organização das Nações Unidas (OCHA) no Território Palestino, Jonathan Whittall, denunciou que Gaza é uma armadilha mortal, uma desumanização dos civis que desafia a decência, a humanidade e a lei. "Decidi não medir as palavras. Foi chocante vivenciar isto. Eram profissionais da área médica ainda com seus uniformes e luvas. Foram mortos enquanto tentavam ir salvar vidas”, acusou.

"Todas as alegações relacionadas com este incidente serão examinadas durante a investigação e apresentadas de forma detalhada e completa para decidir como lidar com este evento", assegurou hoje o chefe de Estado-Maior de Israel, tenente-general Eyal Zamir.

Premiê de Israel em Washington

Enquanto isso, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que esta na Casa Branca, afirmou que a sua equipe trabalha num acordo para retirar mais prisioneiros de Gaza.

O presidente dos EUA, Donald Trump, acrescentou que os EUA e Israel estão tentando arduamente retirar os reféns. “O povo israelense quer que os reféns sejam libertados mais do que tudo. Estamos pensando num novo cessar-fogo, veremos o que acontece”, garantiu.

Entretanto, em mais um fim de semana a população israelense, com a participação de parentes e amigos dos reféns, protestaram no sábado (5) em Tel Aviv contra o governo de Netanyahu. Os manifestantes acusam a administração do primeiro-ministro de continuar o conflito por razões e interesses políticos e que Netanyahu adia o fim da guerra para sobreviver no poder e ‘escapar’ dos processos judiciais que enfrenta nos tribunais do país.