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O estilista mineiro Ronaldo Fraga tem nítido, em sua memória, o início de sua segunda participação na São Paulo Fashion Week (SPFW), há exatos 20 anos. “O desfile começou ao som de marchinhas antigas de Carnaval, todo mundo animado. De repente, entrava um surdo com Arnaldo Antunes cantando ‘Bandeira Branca’. E o pessoal começou a ficar desconfortável na plateia”, relembra, sobre a coleção desenvolvida em torno do tema "Quem matou Zuzu Angel?". Não foi o único impacto. Ronaldo Fraga também inseriu bonecos pendurados em paus-de-arara na cenografia da passarela por onde as modelos desfilavam, simulando anjos. Nos dias seguintes, a repercussão da iniciativa - que voltava no tempo para relembrar uma "página infeliz da nossa história": o regime militar vigente no país entre as décadas de 60 e 80, e, neste contexto histórico, exaltar a coragem e a determinação da estilista mineira Zuzu Angel (1921-1976) - foi imensa. E necessária.
Nascida em Curvelo, tendo passado a infância na capital mineira, Zuleika de Souza Netto, é, de fato, uma figura merecedora de contínuas homenagens. Um nome a não ser jamais esquecido. Não bastasse seu talento para a moda, se tornou conhecida pela destemida e incansável procura pelo filho, Stuart Angel (1946-1971), assassinado pela ditadura em 1971, e cujo corpo nunca foi encontrado. Em 1976, a própria Zuzu morreu em um acidente na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos, investigado como extremamente suspeito - seu carro, segundo testemunhas, teria sido fechado, o que fez com que ela batesse na mureta e despencasse numa altura de cerca de 5 metros. Uma perda irreparável. Se estivesse viva, a costureira - como gostava de ser chamada - teria completado 100 anos no último dia 5. E foi exatamente em função do centenário que a reportagem do Magazine procurou Ronaldo Fraga, para falar sobre este ícone não só da moda, como da resistência.
Ronaldo Fraga conta que aquela coleção foi um marco em sua carreira. "Não se tem notícia de um desfile que tivesse causado um choro coletivo, do backstage à plateia. Foi a primeira vez que a moda brasileira falou sobre aquele capítulo da história. Eu me lembro que todo ano, durante muito tempo, eu era convidado para ir nas faculdades na Argentina falar sobre essa coleção”, conta o estilista. “Na época ainda teve repórter me perguntando se a Zuzu estaria na primeira fila do meu desfile. Acho que a confundiram com a Hildegard, sua filha”, conta, entre inconformismo com a falta de memória no país e risos. Em novembro passado, na edição virtual da São Paulo Fashion Week, Ronaldo Fraga repetiu a homenagem a estilista com a coleção “Quem matou Zuzu Angel?”, por meio de um curta-metragem que contava uma conversa imaginária com a personagem.
A homenagem do estilista ganha ainda mais pertinência ao lembrarmos que Zuzu Angel foi uma das responsáveis pela criação de um mercado nacional de moda. E como, em meio à lida com croquis e a máquina de costura, a incansável e aguerrida mineira nunca deixou de procurar o corpo do filho, não é necessariamente uma surpresa que tenha lançado uma coleção-protesto em 1971, em Nova York, com as suas personalíssimas peças bordadas trazendo imagens de tanques militares, soldados e canhões, denunciando os bastidores das torturas e das mortes ocorridas naqueles anos cinzentos.
Homenagens
Para celebrar o centenário de nascimento de Zuzu Angel em meio às restrições pandêmicas, a cidade de Curvelo, terra-natal da estilista, preparou uma exposição ao ar livre batizada de “100 anos costurando com Zuzu”, que pode ser conferida até o fim deste mês, na Praça Central do Brasil. Com imagens grandes e coloridas, em sua maioria vindas do Instituto Zuzu Angel (RJ), a mostra reúne obras e fatos da vida dessa mulher potente, bem como fotografias e croquis desenhados por ela, além de imagens de seus desfiles. “Infelizmente, nem todo curvelano conhece muito bem a história da Zuzu, mas, agora, começam a se dar conta da importância. Muita gente tinha conhecimento do nome pela rua batizada em homenagem a ela, que existe aqui na cidade, mas não sabia da história por trás dessa mulher mineira. É justamente isso que a gente quis levar para a população e, assim, fazer com que tenham noção da grandiosidade de seu trabalho e de sua estatura”, dizo artista plástico e curador da exposição, Ivan Penna.
Já o Instituto Itaú Cultural disponibilizou um conteúdo especial e online no site www.itaucultural.org.br com fotos e depoimentos em vídeo. Também reapresentou a mostra “Ocupação Zuzu”, realizada em 2014. Além de entrevistas com o próprio Ronaldo Fraga e com a jornalista Hildegard Angel, filha de Zuzu, que está escrevendo uma biografia sobre a mãe (ainda sem título definido), há também uma entrevista com a biógrafa Virginia Siqueira Starling, que está se debruçando sobre outra biografia da estilista, essa já com título - “Quem é Essa Mulher” -, mas ainda na fase inicial de pesquisas. Virgínia se propôs o desafio de recontar, por meio de estudos, acervos de jornais e revistas e entrevistas, a história da estilista mesmo sem a ter conhecido pessoalmente. “Infelizmente, não conheci mesmo Zuzu – ela foi assassinada duas décadas antes de eu nascer. Apesar de tudo o que nos separa, sinto-me muito atraída pela história de vida dessa mulher corajosa, criativa e fascinante”, contou Virginia.
Endossando o que disse Ivan Penna, a biógrafa também lamenta a constatação de que, no ano em que se comemora o centenário da estilista, ainda existam pessoas que desconhecem até mesmo a existência de Zuzu. “Ela tem tanto a nos ensinar hoje e possui um legado tão rico... ainda assim, pouca gente em nosso país sabe quem ela realmente foi, conhece a extensão de seu trabalho e de suas contribuições para nossa história”, pontua Virgínia. A afirmação é confirmada pelo estilista Ronaldo Fraga. “Não existe nenhum estilista que tenha usado a moda como a Zuzu usou, como manifesto político e usar matéria-prima genuinamente brasileira”, contextualiza ele, sobre as apropriações de símbolos da cultura popular e regional que marcaram o DNA de Zuzu.
Virginia ainda destaca que sua biografia quer explorar as várias “zuzus”. “Não quero falar apenas da Zuzu mãe ou da Zuzu estilista, mas também da Zuzu mulher, que trabalhou para transformar sua energia criativa em algo palpável e que enfrentou preconceitos, estigmas e, claro, a ditadura militar. Descobrir Zuzu, para mim, significa desvelar a energia e a força de uma mulher certa de seu potencial de transformar o mundo em que vivia”, pontua ela que pretende lançar o livro em 2023.
Das passarelas da moda às telas do cinema
Além das coleções “Quem Matou Zuzu Angel?” (2001) e “Zuzu Vive (2020)”, de Ronaldo Fraga, outras homenagens tentam fazer jus à trajetória de Zuzu Angel. Uma das mais emblemáticas - e tocantes - é a canção "Angélica" (1977), composta por Chico Buarque quatro anos antes da morte de Zuzu, e que conta com trechos que fazem referência à forma como Stuart Jones foi torturado e morto. Vale lembrar que o compositor foi um dos amigos da mineira que receberam bilhetes escritos por ela, que já temia ser morta pela ditadura.
Em 2006 foi lançado “Zuzu Angel” (2006), longa-metragem dirigido por Sérgio Rezende, um relato sensível, doloroso e forte sobre a busca pela verdade e a memória do crime. A personagem principal foi interpretada por Patrícia Pillar e seu filho, Stuart, pelo mineiro Daniel de Oliveira. “Em primeiro lugar procurei entender o que a tornava tão forte e, como ela mesma dizia, ter 'legitimidade’. Entendi também que o que a fazia não temer era o sentimento de coragem. Procurei, então, saber o significado da palavra ‘coragem’, que é uma ação que vem do coração. O amor por seu filho e seu senso do que era justo eram a matéria-prima de sua coragem”, contou Patrícia Pillar ao Magazine.
Ela lembra as gravações do longa e diz que a versão da clássica música francesa “Ne Me Quitte Pas”, feita pelo letrista Fausto Nilo, foi sua companheira durante as gravações. “Essa música me tocava profundamente, o mais próximo da dor sentida por Zuzu que eu poderia chegar”, salienta. “Me lembro vivamente de muitos momentos das filmagens, como o reencontro com seu filho em sonho; Zuzu ao escrever a carta para amigos caso ela fosse também assassinada. Zuzu ao receber a carta que o filho escreveu quando preso; Zuzu indo reconhecer o corpo de Stuart em sua imaginação (...) e principalmente a cena do julgamento, em que seu filho é sentenciado inocente depois de ter sido assassinado”, relembra.
Cena do Filme Zuzu Angel
https://www.youtube.com/watch?v=hSDxP4d9liA&t=7s
Ronaldo Fraga fala sobre o centenário de nascimento de Zuzu Angel (1921-1976)
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Nascida em Curvelo, tendo passado a infância na capital mineira, Zuleika de Souza Netto, é, de fato, uma figura merecedora de contínuas homenagens. Um nome a não ser jamais esquecido. Não bastasse seu talento para a moda, se tornou conhecida pela destemida e incansável procura pelo filho, Stuart Angel (1946-1971), assassinado pela ditadura em 1971, e cujo corpo nunca foi encontrado. Em 1976, a própria Zuzu morreu em um acidente na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos, investigado como extremamente suspeito - seu carro, segundo testemunhas, teria sido fechado, o que fez com que ela batesse na mureta e despencasse numa altura de cerca de 5 metros. Uma perda irreparável. Se estivesse viva, a costureira - como gostava de ser chamada - teria completado 100 anos no último dia 5. E foi exatamente em função do centenário que a reportagem do Magazine procurou Ronaldo Fraga, para falar sobre este ícone não só da moda, como da resistência.
Ronaldo Fraga conta que aquela coleção foi um marco em sua carreira. "Não se tem notícia de um desfile que tivesse causado um choro coletivo, do backstage à plateia. Foi a primeira vez que a moda brasileira falou sobre aquele capítulo da história. Eu me lembro que todo ano, durante muito tempo, eu era convidado para ir nas faculdades na Argentina falar sobre essa coleção”, conta o estilista. “Na época ainda teve repórter me perguntando se a Zuzu estaria na primeira fila do meu desfile. Acho que a confundiram com a Hildegard, sua filha”, conta, entre inconformismo com a falta de memória no país e risos. Em novembro passado, na edição virtual da São Paulo Fashion Week, Ronaldo Fraga repetiu a homenagem a estilista com a coleção “Quem matou Zuzu Angel?”, por meio de um curta-metragem que contava uma conversa imaginária com a personagem.
A homenagem do estilista ganha ainda mais pertinência ao lembrarmos que Zuzu Angel foi uma das responsáveis pela criação de um mercado nacional de moda. E como, em meio à lida com croquis e a máquina de costura, a incansável e aguerrida mineira nunca deixou de procurar o corpo do filho, não é necessariamente uma surpresa que tenha lançado uma coleção-protesto em 1971, em Nova York, com as suas personalíssimas peças bordadas trazendo imagens de tanques militares, soldados e canhões, denunciando os bastidores das torturas e das mortes ocorridas naqueles anos cinzentos.
Homenagens
Para celebrar o centenário de nascimento de Zuzu Angel em meio às restrições pandêmicas, a cidade de Curvelo, terra-natal da estilista, preparou uma exposição ao ar livre batizada de “100 anos costurando com Zuzu”, que pode ser conferida até o fim deste mês, na Praça Central do Brasil. Com imagens grandes e coloridas, em sua maioria vindas do Instituto Zuzu Angel (RJ), a mostra reúne obras e fatos da vida dessa mulher potente, bem como fotografias e croquis desenhados por ela, além de imagens de seus desfiles. “Infelizmente, nem todo curvelano conhece muito bem a história da Zuzu, mas, agora, começam a se dar conta da importância. Muita gente tinha conhecimento do nome pela rua batizada em homenagem a ela, que existe aqui na cidade, mas não sabia da história por trás dessa mulher mineira. É justamente isso que a gente quis levar para a população e, assim, fazer com que tenham noção da grandiosidade de seu trabalho e de sua estatura”, dizo artista plástico e curador da exposição, Ivan Penna.
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Endossando o que disse Ivan Penna, a biógrafa também lamenta a constatação de que, no ano em que se comemora o centenário da estilista, ainda existam pessoas que desconhecem até mesmo a existência de Zuzu. “Ela tem tanto a nos ensinar hoje e possui um legado tão rico... ainda assim, pouca gente em nosso país sabe quem ela realmente foi, conhece a extensão de seu trabalho e de suas contribuições para nossa história”, pontua Virgínia. A afirmação é confirmada pelo estilista Ronaldo Fraga. “Não existe nenhum estilista que tenha usado a moda como a Zuzu usou, como manifesto político e usar matéria-prima genuinamente brasileira”, contextualiza ele, sobre as apropriações de símbolos da cultura popular e regional que marcaram o DNA de Zuzu.
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Em 2006 foi lançado “Zuzu Angel” (2006), longa-metragem dirigido por Sérgio Rezende, um relato sensível, doloroso e forte sobre a busca pela verdade e a memória do crime. A personagem principal foi interpretada por Patrícia Pillar e seu filho, Stuart, pelo mineiro Daniel de Oliveira. “Em primeiro lugar procurei entender o que a tornava tão forte e, como ela mesma dizia, ter 'legitimidade’. Entendi também que o que a fazia não temer era o sentimento de coragem. Procurei, então, saber o significado da palavra ‘coragem’, que é uma ação que vem do coração. O amor por seu filho e seu senso do que era justo eram a matéria-prima de sua coragem”, contou Patrícia Pillar ao Magazine.
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