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Desemprego, preços subindo sem parar nos supermercados e uma crescente indiferença pelo outro. Parece o Brasil de hoje, mas o texto de “Não Vamos Pagar Nada”, filme que acaba de ser lançado nas plataformas digitais e no Telecine Premium, foi criado há quase 50 anos, escrito por Dario Fo como peça teatral e encenado na Itália.
Evidentemente que algumas adaptações foram realizadas devido à nova geografia e ao suporte. A impressão, porém, é que elas têm um caráter mais “higiênico”, limpando as referências italianas. No lugar de acrescentar uma linguagem mais próxima da cultura e do humor brasileiras, o filme se ressente de falta de identidade.
Se os temas são comuns à realidade política e econômica atual do país, as gags e a construção dos personagens estão desconectadas de qualquer brasilidade. Curiosamente, algumas características do casal de protagonistas, Antônia e João, são agregadas a partir dos trabalhos anteriores de Samantha Schmütz e Edmilson Filho.
Samantha com “Tô Ryca” e Edmilson com “Cine Holiúdi”, dois sucessos recentes da comédia nacional. A primeira trazendo a vivência sofrida da mulher pobre e o segundo apresentando um nordestino honesto e ingênuo. Personagens coadjuvantes parecem perdidos, só dando voz e corpo a estereótipos – o detetive burro e o policial boa-praça.
A premissa é muito boa e o filme se sustenta em sua meia hora inicial graças a ela: clientes revoltados com o aumento dos preços de um supermercado saqueiam a loja. A polícia vai à casa deles para descobrir o paradeiro do material roubado, encontrando várias mulheres “grávidas”, com os produtos sob a roupa.
Até o momento em que a amiga de Antônia deixa vazar um vinagre por entre as pernas, dando a desculpa de que a bolsa estourou, “Não Vamos Pagar Nada” garante os risos, mas logo em seguida o ritmo cai vertiginosamente, revelando a fragilidade da transposição brasileira, que traz o mesmo desenho narrativo do teatro.
São poucas locações, a maior parte delas acontecendo em interiores, e longas sequências num mesmo cenário, com câmera geralmente fixa e edição convencional. O diretor João Fonseca, que assina o sitcom “Vai que Cola!”, perde a mão pela falta de ousadia e por apostar demais no carisma de seus personagens centrais.
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Evidentemente que algumas adaptações foram realizadas devido à nova geografia e ao suporte. A impressão, porém, é que elas têm um caráter mais “higiênico”, limpando as referências italianas. No lugar de acrescentar uma linguagem mais próxima da cultura e do humor brasileiras, o filme se ressente de falta de identidade.
Se os temas são comuns à realidade política e econômica atual do país, as gags e a construção dos personagens estão desconectadas de qualquer brasilidade. Curiosamente, algumas características do casal de protagonistas, Antônia e João, são agregadas a partir dos trabalhos anteriores de Samantha Schmütz e Edmilson Filho.
Samantha com “Tô Ryca” e Edmilson com “Cine Holiúdi”, dois sucessos recentes da comédia nacional. A primeira trazendo a vivência sofrida da mulher pobre e o segundo apresentando um nordestino honesto e ingênuo. Personagens coadjuvantes parecem perdidos, só dando voz e corpo a estereótipos – o detetive burro e o policial boa-praça.
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