Após o lançamento do segundo trabalho do El Toro Fuerte, “Nossos Amigos e os Lugares que Visitamos” (2019), João Carvalho – baixista, guitarrista e vocalista da banda mineira de math/indie rock – sentiu a necessidade, como ele destaca, de “explorar questões mais verbais”. “É primeira vez que estou cantando em falsete e escrevendo letras mais complexas, acho, e mais visivelmente políticas”, emenda, a respeito do EP “Um Universo Brincando de Ser Gente”, novo e 10° rebento do projeto Sentidor.

Além de trazer uma crítica em termos líricos e uma linguagem até então inédita na trajetória musical de Carvalho – “acho que é um disco de música eletrônica, com influência da música brasileira e no qual mais flertei com o pop”, diz –, o álbum carrega uma aura de solidariedade. Todos os lucros obtidos com o material serão usados para a compra de suprimentos básicos a famílias em favelas e ocupações urbanas da Grande BH, durante o período de pandemia do novo coronavírus.

“Quando a quarentena começou, comecei a participar da elaboração de uma campanha solidária do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), que está arrecadando doações a mais de 3 mil famílias. A Kasa Invisível é outro coletivo que tem distribuído refeições e kits de higiene a moradores de rua em Belo Horizonte. Tenho uma certa proximidade dessas organizações e, como já estava envolvido com elas de alguma forma, me pareceu um processo natural fazer essa associação”, relata.

O EP está sendo vendido de forma digital e também foi lançado na plataforma Bandcamp. “Nas sextas-feiras, (a Bandcamp) está doando 100% de sua parte do lucro para os artistas”, conta Carvalho. E prossegue: “O Lá Petite Chambre Records, selo pelo qual lancei músicas inéditas do Sentidor durante a quarentena, está fazendo esse mesmo esquema de doações dos discos comprados pelo Bandcamp e fará doações ao Teatro Espanca!”.


Novo universo

Título, capa, letras e músicas fazem parte de um conceito criado por João Carvalho e que acaba por dialogar com o isolamento social nesta pandemia. “O título vem de uma lenda, que brinca com a possibilidade de o universo ser uma espécie de entidade, como se o mundo fosse um grande processo de colaboração e autoconhecimento”, destaca.

“Acho que de certa forma tem a ver com nossas relações neste período do coronavírus. E as letras falam um pouco sobre esse momento em que vivemos em meio a um governo genocida. Há letras que também falam de amor, de coisas que nos fazem passar por cima de tudo”, completa, a respeito das cinco composições do álbum.

Reprodução capa

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Capa do novo EP do Sentidor

 

Futuro

Além do Sentidor, João Carvalho se vê empenhado em outras frentes. “Estou gravando com o Nausea – projeto ao lado de Bruna Vilela (ex-Miêta, Agreste) e Marcela Lopes (ex-Miêta, Agreste, Polly Terror) –, uma banda muito diferente daquilo que eu vinha fazendo. Há também três ou quatro ideias de parcerias que podem se desenvolver durante a quarentena. E estou gravando algumas coisas com a Clara Tannure; devemos soltar isso em breve”, ressalta.