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Luiz Melodia já havia lançado o celebrado álbum “Pérola Negra”, que marcou sua estreia no mercado fonográfico em 1973, já havia sido regravado por Gal Costa e Maria Bethânia, e canções como “Magrelinha”, “Estácio, Holly Estácio” e “Vale Quanto Pesa” estavam na boca do povo quando o cantor e compositor carioca participou, em janeiro de 1977, de um festival de verão em Salvador. O que era para ser uma curta temporada se transformou em uma jornada de sete meses na capital baiana. O motivo: louco para entrar em estúdio, gravar mais um disco e sair em turnê, Melodia desafia a relutante gravadora e passa seus dias, inspirado pela Bahia, compondo, pescando e tomando cachaça de pés descalços.
Foi nesse período que ele conheceu Jane Reis, sua mulher por quatro décadas. Essa história acabou sendo decisiva para colocar no músico a pecha de arredio, rebelde e até “maldito”, rótulo com o qual personagens da nossa música popular são adjetivados por conta de seus posicionamentos e posturas desafiadoras ao mainstream. À época, ninguém soube de fato o que aconteceu. A tal fuga para a Bahia é um dos episódios da vida desse grande artista brasileiro revelado agora em uma biografia escrita pelo jornalista Toninho Vaz.
“Meu Nome É Ébano: A Vida e a Obra de Luiz Melodia”, lançado em 4 de agosto, data em que se completaram exatos três anos da morte do cantor, trata de jogar luz sobre esse capítulo que diz muito sobre a personalidade livre e corajosa do compositor. “Ninguém tinha essa informação que estou dando na biografia”, relata Vaz, que passou dois anos no processo de feitura da obra.
Depois da fase baiana, o que também contribuiu para essa fama de artista complicado foram algumas divergências com um diretor da Globo, emissora que o vetou durante alguns anos, e embates com produtores de gravadoras. “Melodia era um artista malandro carioca. Ele dizia o seguinte: ‘Eles pensam que sou um cantor, mas sou um artista: opino da capa do meu disco até o arranjo final’”, comenta o escritor.
Se, por um lado, Melodia tinha essa fama de indócil, podia ser sensível na mesma medida. Cria do Morro de São Carlos, no bairro do Estácio, importante reduto cultural da cidade do Rio de Janeiro, Luiz Melodia herdou do pai sambista o sobrenome artístico e absorveu da favela elementos culturais que levaria por toda a vida.
Musicalmente diverso, beliscando influências e passeando entre a MPB, o samba, o soul, o blues e tudo mais que fizesse a cabeça desse artista tão múltiplo quanto a identidade cultural de seu país, Melodia é reverenciado em depoimentos de gente do ramo, como Hyldon, Jards Macalé, Gal Costa, Frejat e Mart’nália.
A paixão pelo Vasco da Gama, a relação muito próxima com poetas da estirpe dos irmãos Jorge e Wally Salomão e de Torquato Neto e a maneira como a poesia entra na sua composição também são destacadas nas mais de 300 páginas de “Meu Nome É Ébano”. “Ele bebeu disso porque era um poeta, e ao ficar amigo desses caras pegou a embocadura da poesia”, relata Vaz.
Outro assunto que o livro levanta sob alguns aspectos é se Luiz Melodia é um artista subestimado. Em uma entrevista à “Revista Trip”, em 2002, o próprio cantor comentou: “Sou muito simples. Talvez pague um preço por isso”. Sobre isso, o livro de Toninho Vaz conta uma história. Certa feita, Melodia perguntou ao músico, produtor e empresário Líber Gadelha por que ele não vendia tantos discos e ganhava tanto dinheiro quanto Djavan e Gilberto Gil. A resposta saiu rápida: “Porque eles não são boêmios e não perdem tempo bebendo em botequim”.
Vaz pondera que o compositor dividia o tempo dele entre o trabalho e o lazer “sem carregar essa ambição toda”. “A vida na beira da praia com pés descalços era tão almejada quanto o sucesso na música. E ele pagou um preço por isso, embora tenha sido um vitorioso na carreira”, ressalta o jornalista.
Obra ressalta postura antirracista
Como o título entrega e pega emprestado o primeiro verso da música “Ébano”, o livro também coloca Luiz Melodia como um artista altivo quando o assunto é a questão racial. A biografia explicita alguns casos de racismo que ele sofreu, como uma vez em que foi impedido de dormir em um hotel em Salvador com sua mulher. O orgulho da cor da sua pele, falado e cantado tantas vezes, permeia várias passagens de “Meu Nome É Ébano”.
Toninho Vaz é taxativo quanto ao tema. Segundo o biógrafo, Luiz Melodia representa virtudes da arte e da cultura do povo brasileiro “desde a coisa mais superficial e emblemática, que é ter nascido na favela carioca, passando por tudo que passou, deixando a certeza de que seu talento não era equívoco de ninguém, e se consolidando durante 40 anos como um valor da cultura e da resistência desse país cheio de contrastes”.
De acordo com o escritor, “Meu Nome É Ébano” cumpre o importante papel de enaltecer o valor de um artista mergulhado nesse contexto. “Termino o livro falando que Melodia representa a luta do negro contra o preconceito, a negritude ostensiva e a cultura das favelas”, diz Toninho Vaz.
“Meu Nome É Ébano: A Vida e a Obra de Luiz Melodia” (Editora Tordesilhas), de Toninho Vaz, 336 págs. R$ 55
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Foi nesse período que ele conheceu Jane Reis, sua mulher por quatro décadas. Essa história acabou sendo decisiva para colocar no músico a pecha de arredio, rebelde e até “maldito”, rótulo com o qual personagens da nossa música popular são adjetivados por conta de seus posicionamentos e posturas desafiadoras ao mainstream. À época, ninguém soube de fato o que aconteceu. A tal fuga para a Bahia é um dos episódios da vida desse grande artista brasileiro revelado agora em uma biografia escrita pelo jornalista Toninho Vaz.
“Meu Nome É Ébano: A Vida e a Obra de Luiz Melodia”, lançado em 4 de agosto, data em que se completaram exatos três anos da morte do cantor, trata de jogar luz sobre esse capítulo que diz muito sobre a personalidade livre e corajosa do compositor. “Ninguém tinha essa informação que estou dando na biografia”, relata Vaz, que passou dois anos no processo de feitura da obra.
Depois da fase baiana, o que também contribuiu para essa fama de artista complicado foram algumas divergências com um diretor da Globo, emissora que o vetou durante alguns anos, e embates com produtores de gravadoras. “Melodia era um artista malandro carioca. Ele dizia o seguinte: ‘Eles pensam que sou um cantor, mas sou um artista: opino da capa do meu disco até o arranjo final’”, comenta o escritor.
Se, por um lado, Melodia tinha essa fama de indócil, podia ser sensível na mesma medida. Cria do Morro de São Carlos, no bairro do Estácio, importante reduto cultural da cidade do Rio de Janeiro, Luiz Melodia herdou do pai sambista o sobrenome artístico e absorveu da favela elementos culturais que levaria por toda a vida.
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Vaz pondera que o compositor dividia o tempo dele entre o trabalho e o lazer “sem carregar essa ambição toda”. “A vida na beira da praia com pés descalços era tão almejada quanto o sucesso na música. E ele pagou um preço por isso, embora tenha sido um vitorioso na carreira”, ressalta o jornalista.
Obra ressalta postura antirracista
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Toninho Vaz é taxativo quanto ao tema. Segundo o biógrafo, Luiz Melodia representa virtudes da arte e da cultura do povo brasileiro “desde a coisa mais superficial e emblemática, que é ter nascido na favela carioca, passando por tudo que passou, deixando a certeza de que seu talento não era equívoco de ninguém, e se consolidando durante 40 anos como um valor da cultura e da resistência desse país cheio de contrastes”.
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