"Desde que o novo treinador chegou, eles estão com outra mentalidade", afirmou o técnico alemão

Em concorrida entrevista coletiva em Berlim, na véspera de Alemanha x Brasil, o treinador Joachim Löw demonstrou vasto conhecimento sobre a realidade atual dos adversários. Com inúmeras perguntas sobre o 7 a 1, absolutamente todas de jornalistas brasileiros, Löw falou com elogios a respeito do trabalho de Tite. Em especial, em adequar estrelas à equipe.

"Desde que o novo treinador chegou, eles estão com outra mentalidade. O treinador sempre fala que o que aconteceu contra a Alemanha não poderá mais acontecer no futebol [outra vez]. Tite diz 'a gente tem que ter mais disciplina defensiva', todos têm que saber defender. Individualmente, na frente, são os melhores do mundo, todos sabem o que fazer bem no mano a mano. Neymar e Coutinho trabalham muito defensivamente, estão muito mais estáveis, o que é o trabalho do treinador. É uma pena Neymar não jogar", declarou Löw.

Löw foi perguntado se o Brasil era superior em material humano e inferior no coletivo. Ele discordou dos dois pontos de vista. "Nos últimos dois ou três anos, o Brasil é a equipe onde cada um sabe sua posição. Não tem só uma estrela como Neymar ou Coutinho, eles estão dentro da filosofia da equipe. Em 2014, claro, a gente teve que fazer uma equipe, mostramos com cada um em sua posição que estávamos com um desempenho alto, senão não ganharíamos a Copa. Ao final, se vermos, o desempenho é mais importante que uma estrela. Se uma estrela não se integrar uma equipe, será super difícil, independente da nacionalidade", analisou.

"Não acho que o Brasil seja melhor individualmente. Temos também jogadores individualmente melhores. Não pode se dizer que esse [jogador] é igual a esse. Cada jogador é diferente, cada talento é diferente em cada equipe. O Brasil tem jogadores fenomenais com a posse de bola, cada jogador gosta da posse de bola, mas temos jogadores que sabem jogar", complementou o treinador.

Em um discurso que se repete ano após ano, o 7 a 1 foi relativizado por ele. "Tem mais importância para o povo que para nós. Claro que foi um bom jogo, mas foi um passo apenas para ganhar a Copa. No dia seguinte ao jogo, tiramos isso da cabeça. Depois do 7 a 1, estávamos 100% concentrados na final, ironicamente para jogar contra o grande rival do Brasil", declarou.

"Jogamos e ganhamos uma partida em que o Brasil não estava legal. Vimos isso no campo. O nosso foco era o próximo jogo, então por isso para nós não era tão importante de falar. Claro que no Brasil se fala disso, é normal porque perderam em casa. Se a gente perder de 7 a 1 em casa, seria outra reação. Talvez tenha um sentimento de revanche, mas já passou, foi uma semifinal de Copa e não dá para voltar", disse Löw.

Auxiliar do treinador Jürgen Klinsmann na Copa de 2006, e treinador da seleção desde então, Löw falou sobre a diferença de tempo. Tite ainda não tem 20 jogos no cargo. "A filosofia alemã e o tempo permitem o desenvolvimento. Precisávamos desse tempo para nos desenvolvermos. Se tudo ficasse como no passado, o Brasil seria sempre campeão, mas não é assim. O Brasil tem um alto nível individual que não tem em outro país, mas tem que se adaptar. Foi um desenvolvimento que tivemos que buscar anos atrás", comparou.

"Tivemos nossa parte mental forte, mas tivemos que desenvolver o futebol, porque o futebol se movimentou para outro lado e tivemos que nos adaptar. Agora, a Alemanha também pode falar que tem criatividade, vontade, filosofia, parte ofensiva...são coisas que os técnicos de antigamente não tiveram", declarou Löw.

Perguntado se daria uma sugestão para que o treinador do Brasil possa permanecer tanto tempo no cargo, ele negou. "Acho que Tite tem tanta experiência e treinou tantas equipes de nível alto que já mostrou saber da mentalidade brasileira. Ele conhece o futebol internacional, tem uma filosofia clara e não preciso dar conselhos a ele. Ele sabe o que fazer, eles ganharam as Eliminatórias e acredito que ele tem a possibilidade de mostrar identidade de sua equipe", concluiu.Confira mais respostas de Joachim Löw:

NÃO HÁ MAIS TRAUMA

Depois de 2014, os jogadores se desenvolveram e por isso estão na seleção brasileira. Todos os jogadores estão em grandes equipes como City, Liverpool...jogam em ótimas equipes da Europa, sabem lidar com a pressão. A motivação desses jogadores é alta para ganhar um amistoso contra o Brasil, e não acredito que entrarão com medo. Vão entrar motivados.

RELAÇÃO COM OS ATLETAS

Minha relação com os jogadores é forte na parte do desempenho e na parte de futebol, conversamos também entre os jogos [intervalos sem convocações]. Temos a possibilidade de falar de outros temas, da vida privada. Falo com os mais novos sobre o que fazem no tempo livre e não falamos só da parte esportiva. Mas, em si, é o que falamos mais.

BOATENG CRITICOU ATUAÇÃO CONTRA A ESPANHA

Acho bom que o jogador fale o que pensa, porque a Alemanha pode e deve se desenvolver mais. São várias coisas que falamos antes do jogo e do que queríamos fazer nos primeiros 15 ou 20 minutos. Queremos pressão, queremos deixar a Espanha na pressão. Não foi como queríamos e isso tem um porquê. Para fazer a pressão, temos que treinar uns com os outros e não fizemos. A Espanha já tem o costume de jogar contra equipes que fazem bastante pressão. Depois do jogo, falamos do nosso sentimento. Eu quero escutar e acho bom se um jogador tem autocrítica e fala 'isso e isso' não foi legal. São detalhes a melhorar. Se quisermos sucesso na Copa do Mundo, acho que é importante.

BRASIL COM MEIO FORTE

Casemiro, Fernandinho, Renato Augusto...são todos jogadores que são bons no mano a mano, fortes, robustos, bons tecnicamente. O meio do Brasil é bem forte, é mais forte que em 2014. Renato e outros já jogaram na Alemanha, como Geromel, Renato Augusto e Firmino. Vamos ver como eles começam o jogo.Depois de 2014, os jogadores se desenvolveram e por isso estão na seleção brasileira. Todos os jogadores estão em grandes equipes como City, Liverpool...jogam em ótimas equipes da Europa, sabem lidar com a pressão. A motivação desses jogadores é alta para ganhar um amistoso contra o Brasil, e não acredito que entrarão com medo. Vão entrar motivados. (Folhapress)