“Não queremos só esse ano. Queremos esse ano, que está terminando, 2021, 2022, 2023 e vou estar com vocês dando tudo aquilo que posso dar com minha contribuição de conhecimentos, amizades e tudo aquilo que o Cruzeiro me deu”. Essas foram as primeiras palavras de Felipão como técnico da Raposa, ainda em outubro de 2020, quando foi anunciado para o cargo.


Desde então, muita coisa mudou. Promessas não foram cumpridas, especialmente. A relação de Felipão com a diretoria do Cruzeiro se desgastou. Há alguns meses, o treinador decidiu, então, mudar o discurso: colocou em xeque a ideia de trabalho longo na Toca II. Hoje, não há qualquer convicção de que o projeto será mantido para a próxima temporada.


Na reunião de outubro, em Porto Alegre, Felipão foi convencido a aceitar o convite do Cruzeiro após ouvir que teria alguns pedidos atendidos. Além do fim do ‘transfer ban’, o treinador solicitou contratações específicas. Em algumas oportunidades, ele agiu para facilitar o trabalho da direção, mas se sentiu isolado. A avaliação é de que o clube não teve habilidade suficiente para conduzir os processos.


O Superesportes apurou que o treinador chegou a conversar com Thaciano, meio-campista do Grêmio. Na visão do treinador, o negócio poderia ser feito sem muitas complicações, especialmente porque o jogador desejava vestir a camisa celeste. Felipão também se envolveu para que o Cruzeiro contratasse Jonathan Copete, do Santos, mas a diretoria não conseguiu um acordo com o empresário do colombiano em relação às comissões envolvidas.


Dos reforços prometidos, o Cruzeiro acertou apenas com Rafael Sobis - outro que recebeu telefonema de Felipão -, e William Pottker, que já estava no radar celeste antes da chegada do treinador. Os portais UOL e Deus me Dibre revelaram que, para ter o ex-atleta do Internacional, a Raposa pagou R$ 1 milhão de luvas a Pottker, além de ceder o meia Maurício, atual camisa 10 da Seleção Brasileira Sub-20, ao Colorado. 


Conhecido pela força que tem no relacionamento com os jogadores, Felipão também se incomodou muito com os salários atrasados. Essa não era uma realidade frequente do Cruzeiro em outubro de 2020, quando ele aceitou o convite. A ausência do departamento de futebol neste momento, também, foi outro fator que decepcionou o comandante.


No último dia 14, Scolari defendeu seu grupo publicamente. Após a derrota do Cruzeiro por 1 a 0 para o Oeste, pela Série B, o treinador afirmou que o protesto realizado pelos jogadores, que não se concentraram para a partida na Toca II, era uma forma de buscar diálogo com o departamento de futebol. Já nessa quarta, ele agradeceu apenas ao elenco por alcançar o objetivo de permanência na Segunda Divisão.

Para seguir no Cruzeiro, Felipão quer segurança. A mudança no departamento de futebol, agora chefiado por André Mazzuco, o agradou, inicialmente. Ele não abre mão, no entanto, que a direção celeste apresente, com argumentos mais sólidos, que há alguma capacidade de investimento - para reformulação do elenco e também um mínimo de compromisso sobre o pagamento de salários. Se de fato terá isso, só o tempo dirá. 

Em entrevista à Rádio 98FM, na última semana, o presidente do Cruzeiro, Sérgio Rodrigues, mostrou otimismo sobre a permanência de Felipão. "Eu jantei com ele (Felipão) na semana passada e me surpreendeu (a notícia), porque na nossa conversa ele não tinha falado nada de sair", disse.

"Falamos de planejamento, de jogadores, de contratações, até sobre questões de expectativas salariais. E depois ele falou beleza, está chegando um diretor novo, vamos sentar e conversar para ver como vai ficar. Eu mesmo perguntei para o empresário dele, o Jorge Machado, existe isso de saída? Machado disse que não tem", completou.