A afirmação do ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares ao Superesportes, de que houve ‘corpo mole’ do Conselho Gestor do Cruzeiro ao não pagar a dívida de 850 mil euros ao Al-Whada, dos Emirados Árabes, pelo empréstimo do volante Denilson, firmado em 2016, gerou indignação nos integrantes do grupo.

 
Presidente do Cruzeiro entre 2012 e 2017, Gilvan de Pinho Tavares foi o responsável pela gestão que contraiu a dívida pela contratação de Denilson. Em julho de 2016, o clube celeste acordou com o Al-Wahda o empréstimo por seis meses do ex-jogador do Arsenal, mas não pagou os 500 mil dólares acertados durante as negociações. Corrigido, o valor chegou a 850 mil euros (R$ 5,1 milhões).
 
Cruzeiro tinha até segunda-feira, dia 18 de maio, para quitar o débito com os árabes, mas o Conselho Gestor não conseguiu os recursos a tempo. Como consequência, o clube foi penalizado pela Fifa e perdeu seis pontos na disputa da Série B do Brasileiro deste ano.
 
E esse pessoal da gestão do Wagner e do Conselho Gestor não pagou nada. Esse Conselho Gestor fez corpo mole. Fizeram nada. Fizeram o que? O início da dívida era 850 mil euros (na verdade, 500 mil dólares). Não é astronômico. Eles não pagaram e eu que sou culpado?”, disparou Gilvan ao ser indagado sobre o tema.
 
“Eu que fui pego de surpresa porque o Conselho Gestor jogou na minhas costas e não no Wagner. Era uma dívida de 800 mil euros (na verdade, 500 mil dólares). Não me lembro porque fomos discutir na Fifa, mas nosso advogado (Breno Tannuri) achava que ia ganhar. Não ia pagar antes disso, ainda mais para clube árabe, que você sabe que não recebe nunca um estorno. Não pagaria sem ter certeza de que é devido”, acrescentou Gilvan à reportagem.
 
Integrante do Conselho Gestor, Gustavo Gatti estranhou a afirmação de Gilvan de que o jurídico recomendou o não pagamento da dívida. “Esse problema na Fifa vem de sete, oito anos, em que o Cruzeiro nunca pagou nada. Então, falar que jurídico que disse para não pagar... Comprou, tem que pagar. Não existe esse negócio de meu jurídico não recomendou. Toda vez que comprei alguma coisa, eu tenho dinheiro em caixa para pagar. Isso não é correto”.
 
Gilvan foi infeliz. Faltou com a verdade ao dizer que fizemos corpo mole. O que estava ao nosso alcance, fizemos. Fizemos até mais. E não fizemos ainda mais por causa dessa eleição. Sem ela, com certeza o dinheiro estaria na conta. Somos um grupo de empresários. Não entramos no Cruzeiro para tapar buraco de roubalheira”, disse Gatti.
 
Gustavo Gatti explicou que, diante da eleição e da saída do Conselho Gestor do comando do Cruzeiro no fim de maio, ficou inviável uma operação para que os integrantes do grupo emprestassem o dinheiro.
 
“Faríamos um empréstimo para que fosse pago esse ano. Mas, sem ter certeza de permanência (do Conselho) até o fim do ano, como acreditaríamos que Sérgio ou Granata nos pagaria? Não vou tirar do meu dinheiro, que trabalho há 45 anos, para pagar roubo de ladroagem do Cruzeiro. Isso não vou fazer nunca. Ninguém vai doar dinheiro”, destacou.

Covardia e desrespeito
 
Presidente do Conselho Gestor, Saulo Fróes apontou irresponsabilidade de Gilvan no caso ao transferir a culpa pelo não pagamento da dívida de 2016.
 
“É tão descabido, que nem mereceria resposta. É muito fácil contrair dívida para contratar jogador, vendê-lo e não pagar nada, deixar para estourar na frente. Vem o outro presidente (Wagner) e faz a mesma coisa. A dele (dívida) vai estourar ano que vem. A culpa de o Cruzeiro estar assim tem nomes: Gilvan de Pinho Tavares e Wagner Pires de Sá. Soube que o Gilvan falou que quebrava o Cruzeiro, mas seria campeão brasileiro. Prefiro um time que não seja campeão brasileiro, mas que esteja em boa condição”, disse Fróes.
 
Eu acho uma covardia, um desrespeito ao Conselho Gestor, que tanto fez pelo clube. Se não fosse o Conselho Gestor, hoje seríamos uma Portuguesa, um America do Rio. Seria insolvente o Cruzeiro. Nós salvamos o Cruzeiro. Temos orgulho disso. Os torcedores sabem bem das coisas. Não adianta querer sair pela tangente, inventando situações, como se a gente não tivesse interesse de resolver. Por que ele não pagou, então? Ele sabia das dívidas da Fifa. Teria arrumado algum investidor. Nunca foi lá! A culpa disso tudo é das duas últimas administrações vergonhosas e desastrosas que o Gilvan teve”, completou Fróes.

Novo presidente vai atrás de recursos
 
O Conselho Gestor passará o comando do Cruzeiro ao novo presidente, Sérgio Santos Rodrigues, no dia 1º de junho. Mas, antes disso, o novo mandatário já estuda meios de pagar uma nova cobrança que bate à parte. No dia 29 de maio, o clube terá de pagar R$ 11 milhões ao Zorya FC, da Ucrânica, pela compra de Willian Bigode em 2014.
 
 
Se não efetuar o pagamento, o Cruzeiro será penalizado novamente com a perda de seis pontos. Nesse cenário, o clube iniciaria a Série B deste ano com menos 12 pontos, uma vez que já perdeu seis pela dívida não paga com o Al-Wahda relativa ao volante Denilson.