A fisionomia de desânimo do técnico Cuca no empate com o Cienciano-PER, pela Sul-Americana, é o retrato do sentimento da torcida atleticana com o pobre futebol do time /crédito: Alexandre Guzanshei/EM/D.A. Press
Acho melhor já começar pedindo desculpas. Pelo desalento, pelo pessimismo, pelo chato que só reclama. Pareço, eu sei, aquela hiena do desenho animado: ó céus, ó vida, ó azar. É que já faz algum tempo que a realidade nos esbofeteia a cara com aquele ditado feito sob medida para o pessoal do copo meio vazio: não há nada ruim que não possa piorar.

Eu juro que tentei. Mesmo assistindo boquiaberto a toda a sacanagem, mesmo consciente de como se deram as coisas, de alguma forma procurei relevar. Futebol é assim mesmo, dizia cá com meus botões quando eu próprio me cansava de reclamar. Também não gosto de parecer a Mãe Dinah, a todo tempo lembrando que avisei. Embora tenha avisado. Razão pela qual me tornei o Fred Apagado, realmente mais adequado a quem nunca esteve em cima do muro, a não ser grafitado.

Mas como eu ia dizendo, tentei. Tentei achar que a SAF, mesmo nascida de uma flagrante imoralidade (para dizer o mínimo), poderia se desenvolver de forma vencedora, afinal suas ações pertenciam a atleticanos bilionários, supostamente hábeis na administração do dinheiro.

Tentei achar que a sacanagem ficaria restrita à venda feita por eles para eles mesmos. Que o naming rights do novo estádio, negociado a preço de banana por eles para eles próprios, era só um detalhe que pouco afetaria o time dentro de campo.

Tentei parar de pensar que o novo estádio, o shopping, a Cidade do Galo e todo nosso patrimônio serviu, por fim, para quitar as muitas dívidas construídas com “mecenas” que eram, na verdade, credores. Credores que são os próprios gestores de uma dívida impagável construída principalmente com bancos dos quais são donos. Mas, bem, tentei não pensar nisso.

Tentei me concentrar no jogo. Apesar de nenhum pudor em reforçar equipes rivais com alguns dos nossos melhores jogadores, ainda tínhamos um bom elenco, ou pelo menos um bom time. Em 24, chegamos às finais de Libertadores e Copa do Brasil. Se a gente tivesse ganhado uma delas, se o balanço daquele ano tivesse sido positivo, eu teria queimado a minha língua com grande prazer. Infelizmente não foi o caso.

Mais infelizmente ainda, o caso é muito pior do que o mais pessimista de nós poderia ter imaginado. A situação financeira do Galo apresentada pelo balanço da SAF é de uma operação falimentar. A curto prazo, se não for feito um aporte gigantesco de dinheiro, não há outra saída a não ser a máxima austeridade: gasto zero, contratação nenhuma e venda de jogadores capazes de gerar caixa significativo, como Rubens. Ainda assim, a gravidade é tal que isso não garantiria nada.

A situação de falência já atinge os compromissos básicos com o atual elenco. Jogador de futebol é trabalhador. Ninguém trabalha do mesmo jeito se não está sendo pago com correção, na data combinada, nas condições contratadas. Elenco enxuto e piorado, técnico ultrapassado, dívidas com atletas e diretoria ausente – eis o quadro que melhor explica o bisonho segundo tempo do jogo de quinta-feira passada e a segunda colocação em um grupo em que até o Mamoré estaria obrigado à primeira posição.

O mais assustador nesse estado de coisas é o desânimo generalizado que ela impõe ao torcedor. Veja bem, não é revolta, é desalento. A gente assiste o Galo morrer na nossa frente e ninguém faz nada.

Se eu tivesse ido ao estádio na quinta-feira, teria me juntado àqueles que, ao final da bizarra apresentação, chamaram o time de sem-vergonha. Mas teria me penitenciado pelo fato de que, antes de qualquer jogador, há pelo menos quatro sem-vergonhas na fila de prioridades. Uma gente que destruiu e seguirá destruindo o Galo enquanto os amansados seguem pendurados em suas bolas. Que imensa tristeza.

 

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