Foi num dia 30 de janeiro de 1869 que o desenhista italiano Angelo Agostini, radicado no Brasil, publicou as impressões de um caipira recém-chegado à cidade grande. “As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte” entrou para a história como o primeiro quadrinho do país.

Logo vieram as primeiras “bandas desenhadas” (como os gibis são conhecidos em Portugal) 100% nacionais, entre elas “O Tico Tico” (1905), “O Gibi” (1939) e “A Turma do Pererê” (1960), chegando ao auge do sucesso com os personagens da Turma da Mônica, criação de Mauricio de Sousa que ultrapassou as fronteiras do país.

Apesar da importância que as revistas em quadrinhos ganharam nas últimas décadas, revestidas de um caráter cult e atingindo grande número de leitores adultos, elas ainda são muito estigmatizadas – não são todas as bibliotecas que contam com gibis em seu acervo; quando têm, são poucos exemplares.

“Quadrinho não é inferior à literatura tradicional. Ele é diferente”, salienta Álamo Chaves, presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia para a 6ª Região, que envolve Minas Gerais e Espírito Santo. Ele lamenta a falta de incentivo de professores para o uso de histórias em quadrinhos em sala de aula.

Além da estigmatização, Chaves afirma que existe uma certa dificuldade de compra de gibis por parte das bibliotecas, devido à prioridade de venda em bancas. “Se não for um esforço do bibliotecário ou da equipe da instituição, o aluno acaba ficando sem acesso a eles nas escolas”.

Chaves assinala que os quadrinhos são um ponto de partida para a leitura, tanto para crianças como para adultos. Pelo fato de usarem muitas imagens e um linguajar que, normalmente não se faz presente na literatura tradicional, estabelecem um maior interesse das pessoas para o hábito da ler.

“No caso das  crianças, elas são muito atraídas pelo visual. Elas batem o olho num gibi e podem nem ler o que está escrito, mas conseguem entender o que estão vendo. É o que chamamos de letramento informacional. A gente imagina que, a partir dos quadrinhos, elas passem mais facilmente para outros tipos de literatura”, observa.

Para ele, o quadrinho une leitores completamente diferentes no que ele chama de mundo paralelo. "Você pode  colocar  pessoas de realidades sociais diferentes numa mesma sala, para falar de um quadrinho que gostam, e vai parecer que elas se conhecem desde sempre”, registra o presidente.

Como eles sabem muito sobre um determinado personagem, a impressão é de que vivem numa outra dimensão. ‘Talvez as pessoas que não gostam enxerguem as revistinhas como algo menor, menos importante que a literatura tradicional. Entre um gibi e um romance de Machado de Assis, na dúvida você dará o segundo de presente para  alguém que não conhece”.