O recente aumento no número de casos e mortes por coronavírus fez com que as férias infantis passassem, simbolicamente, para fevereiro. Foi a única alternativa para um projeto de exibição de filmes para crianças em versão online, que manteve no nome a ideia de um período em que, em outros tempos, seria marcado por muita interação e passeios.

“A gente achava que, em janeiro, já estaria tudo normal. O aporte da lei Aldir Blanc, em que o projeto está inscrito, só saiu no mês passado. E não seria possível adiar porque temos que prestar contas em abril.... Não teve outro jeito: era fazer agora, sem poder mudar de nome”, explica Patricia Durães, criadora do Festival Férias Brasileiras.


Composto por 23 filmes, entre longas e curtas-metragens, o festival pode ser acompanhado gratuitamente até o dia 25 pela plataforma Looke. Entre os títulos estão alguns sucessos nacionais do gênero, como “Menino Maluquinho”, de Helvécio Ratton, e “O Menino e o Mundo”, indicado ao Oscar de melhor animação após vencer o festival francês de Annecy.

“Neste momento de isolamento, com tudo acontecendo no universo virtual, dentro de casa, estamos propondo uma seleção que traga a sensação de estar de férias. São filmes que estimulam a imaginação para que as pessoas se sintam viajando. Cinema é o lugar do sonho, onde tudo é possível de acontecer”, registra Patricia.

Ela trabalha com cinema e educação há 35 anos, à frente “Escola no Cinema”, projeto que começou no Rio de Janeiro e depois se espalhou por várias cidades do país, entre elas Belo Horizonte. O festival é dedicado às crianças, mas também aos pais, professores, educadores e a todos que gostarem de boas histórias e muita diversão, segundo a organizadora.


“Ele não surgiu só por causa da Lei Aldir Blanc, mas dentro de um trabalho que temos feito há vários anos. Nosso objetivo com o festival é reunir filmes de qualidade e brasileiros. Ainda que seja num período de um mês, os pais podem ter certeza que lá estará um produto bacana para seus filhos. A lei veio, na verdade, como uma oportunidade de realização”, salienta.

A maior parte dos filmes selecionados pertence à fase de retomada do cinema brasileiro, com início em meados dos anos de 1990. Patricia confessa que a ideia era montar uma retrospectiva maior, mas que teria esbarrado num crônico problema de memória, devido ao desinteresse na conservação e preservação dos filmes produzidos no país.

O principal reflexo disso é o fechamento da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, onde está depositado um grande número de produções. “Queríamos muito passar o ‘A Dança dos Bonecos’, do Helvécio Ratton, um filme de 1986 que eu amo. Mas a cópia está na Cinemateca e não existe versão digital”, lamenta Patricia.

A concentração de títulos lançados nas últimas três décadas, por outro lado, ajuda a avaliar a investida brasileira no segmento, que cresceu a olhos vistos. “A produção para este público ganhou importância. Ele não é público meramente consumidor, mas também um público pensante. A escuta das crianças é muito importante”, assinala.