'O Pirotécnico Zacarias' vai estar em cartaz no CCBB

A inspiração na literatura é uma constante no trabalho do Grupo Giramundo, que agora faz uma imersão nos contos do mineiro Murilo Rubião (1916-1991), já reverenciado como um dos precursores do realismo fantástico na América Latina. O resultado desse diálogo é o espetáculo “O Pirotécnico Zacarias”, que se baseia na curta narrativa de mesmo nome e em outras, como “O Ex-Mágico”, “Teleco, o Coelhinho”, “O Bloqueio” e “Os Comensais”.

O novo trabalho, voltado para o público adulto, poderá ser visto a partir de amanhã, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde fica em cartaz até 8 de abril. Em seguida, a peça vai cumprir temporada no Rio e em São Paulo.

“Nós nunca fizemos temporadas tão longas em cada uma dessas cidades e esperamos com isso poder levar nosso trabalho a um número maior de pessoas. Nós vamos ficar dois meses tanto em São Paulo quanto no Rio, o que não é algo comum. Geralmente, ficamos pouco tempo em cartaz, e o ator precisa das temporadas mais longas. É por meio dessa repetição intensa que ele atinge níveis especiais de performance”, diz Marcos Malafaia, que assina a direção do espetáculo.

“O Pirotécnico Zacarias”, de acordo com ele, exigiu do elenco uma preparação abrangente, incluindo aulas de boxe, dança, além de workshop de preparação de máscaras e de cinema. Malafaia garante que, desta vez, os atores vão estar no palco de maneira mais efetiva, a partir do uso de máscaras e de movimentos coreográficos até então pouco usuais.

“O marionetista clássico do Giramundo era um ser dramático muito tímido, normalmente oculto atrás do boneco e de todo o aparato cenográfico. Isso veio mudando de alguns espetáculos infantis para cá, como ‘Pedro e o Lobo’ (1993), e agora isso cai por terra totalmente. Nós estamos buscando uma situação de equilíbrio entre o boneco, o ator-marionetista e as imagens projetadas na composição da cena”, frisa o diretor.

Malafaia sublinha que, esteticamente, “O Pirotécnico Zacarias” dá continuidade e avança na direção de uma dramaturgia expandida – a partir da interface com o cinema, entre outras linguagens. Tal tendência já se projetava em uma trilogia de peças, a seu ver, representativas de um marco para a companhia. São elas: “Pinocchio” (2005), “Vinte Mil Léguas Submarinas” (2007) e “Alice no País das Maravilhas” (2010).

“Nesse contexto, ‘O Pirotécnico Zacarias’ abarca um trabalho de ator novo para o Giramundo e integra uma produção de cinema de um modo que ainda não havíamos feito antes. As máscaras também fazem uma ponte entre o ator e o boneco, e esse é um caminho que não vai se esgotar no ‘Pirotécnico’”, comenta o diretor.
“Outro aspecto importante são as coreografias, que nós trabalhamos junto com Cristiano Reis, que é diretor da Cia. de Dança do Palácio das Artes. Até arrisco dizer que o Giramundo está cada vez mais migrando para a dança e para o cinema”, acrescenta.

Tamanha diversidade de elementos possibilitou que o grupo pudesse melhor construir plasticamente essa imersão no universo ficcional de Rubião. “O que ‘O Pirotécnico’ tem de novo é justamente essa união conceitual entre duas situações que são, aparentemente, antagônicas: o realismo e o fantástico. Para darmos conta de uma cena que fosse realista, mas que dela pudesse brotar o ingrediente fantástico, o Giramundo teve que mudar um pouco seu caminho, e acho que a construção baseada nos atores, nas máscaras e nos cinemas foi o que possibilitou trazer os conceitos literários para a cena”, ressalta.