O Dia Mundial do Braile, comemorado neste sábado (4), enfatiza a importância do sistema de escrita para deficientes visuais, cuja primeira versão foi apresentada pelo jovem francês Louis Braille, em 1825.

 
A assessora da direção do Instituto Benjamin Constant (IBC), professora Maria da Glória de Souza Almeida, disse que o sistema braile foi o grande passo dado para tirar toda uma parcela da sociedade do obscurantismo absoluto de séculos e mais séculos e deu a essa parcela a possibilidade de se educar, de adquirir cultura, de ter trabalho e lazer. Segundo Maria da Glória, o sistema de escrita e leitura em relevo desenvolvido por Louis Braille aos 16 anos de idade colocou o cego em pé de igualdade com a pessoa que enxerga em termos de escrita, de leitura e de mecanismo de aquisição de conhecimento.

Maria da Glória atualmente forma professores na área de alfabetização no IBC. Para ela, cega desde a infância, Louis Braille foi uma figura exponencial em toda a humanidade porque pensava no coletivo. Lamentavelmente, ele não pôde ver sua criação reconhecida em todo o mundo como um método ou sistema que daria ao cego a possibilidade de ultrapassar os seus limites, porque isso só ocorreu em 1854, dois anos após a morte de Braille. “Mas ele está na história e na memória de qualquer pessoa que pensa a sociedade de uma forma mais humanística, buscando uma inclusão verdadeira”.

A professora defendeu a preservação do código braile, apesar das novas tecnologias que vêm surgindo nos últimos tempos para apoio às pessoas com deficiência visual. “São coisas que se complementam, não se excluem”, disse. “O sistema braile não é excluído pela tecnologia, como também a tecnologia não pode ser obscurecida pelo sistema braile. São coisas diferentes que trazem à pessoa cega a possibilidade de conhecer, tanto quanto para os videntes”. Maria da Glória sustentou que o sistema braile não perdeu importância diante das novas ferramentas que surgem e “não pode ser jogado à margem. Não é justo”.

O IBC é o centro de referência nacional na área da deficiência visual e está vinculado ao Ministério da Educação. O sistema braile é baseado em um código criado pelo capitão Charles Barbier de la Serre para permitir a comunicação noturna entre os soldados do exército francês.

No ano passado, o IBC registrou um total de 340 alunos matriculados e 430 reabilitandos, isto é, pessoas que perderam a visão na juventude, na idade adulta e até na terceira idade e podem readquirir a capacidade da leitura por meio do código braile.

A coordenadora de Revisão da Fundação Dorina Nowill para Cegos e membro do Conselho Mundial e do Conselho Ibero-americano do Braile, Regina Oliveira, cega desde os 7 anos de idade e alfabetizada com braile, considerou que uma das maiores invenções da espécie humana foi a escrita. “E as pessoas que enxergam continuam usando a escrita. Mesmo quando manuseiam um smartphone ou laptop, elas estão em contato com a escrita. E as pessoas cegas, não. O único contato que a gente tem com a escrita é por meio do braile. No mais, a gente ouve”, disse.

Regina avaliou que as novas tecnologias são importantes e têm ajudado muito os cegos. Ela destacou, contudo, que não vê ainda uma maneira de alfabetizar crianças cegas, ensinando ortografia, pontuação, matemática, física, química, fonética, que não seja por meio da escrita. “O único contato natural que as crianças que nascem cegas ou que perdem a visão nos primeiros anos de vida podem ter é o braile”.

Para a coordenadora da Fundação Dorina Nowill, as tecnologias são aliadas do código braile, sobretudo à medida que os jovens vão avançando no ensino médio e na universidade. “Não tem como passar para o braile tudo que existe no mercado editorial. Faz muita diferença você poder usar um livro digital. Isso ajuda muito”, admitiu.

Regina acentuou, por outro lado, que estudos mostram que quando uma pessoa lê, seja com os olhos ou com o tato, é a mesma área do cérebro que ela ativa nas duas formas de leitura. “E isso faz muita diferença para o desenvolvimento intelectual dela”.

No Dia Mundial do Braile, a União Mundial de Cegos publicou um texto incentivando o uso do braile e estimulando pais e professores nessa direção. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há no Brasil 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual, sendo 582 mil cegos e os demais com baixa visão.

Tanto a Fundação Dorina Nowill como o Instituto Benjamin Constant planejam realizar eventos em comemoração ao Dia Nacional do Sistema Braile, que se comemora em 8 de abril.