Juliana Miranda de Arruda Coelho trabalha na fábrica da Fiat, em Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Trabalhava. Ela está de malas prontas para retornar, na semana que vem, a Pernambuco, onde nasceu, e morava, há bem pouco tempo, com a avó e a mãe na cidade de Olinda. Aos 30 anos de idade, a engenheira formada pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) volta à terra natal para assumir o cargo de plant manager, uma espécie de gerente geral, da maior e mais moderna fábrica do Grupo FCA (Fiat Chrysler Automobiles) no mundo.


A planta da Jeep, em Goiana, Região Metropolitana do Recife, é o local da nova missão de Juliana: comandar cinco mil operários da linha de produção na mesma fábrica onde ela, há sete anos, começou sua carreira profissional. Juliana recebeu a notícia da sua conquista pelo seu chefe, o engenheiro italiano Pierluigi Astorino, a quem ela vai substituir. Astorino, na verdade, troca de endereço com Juliana.  Ele vai para Betim, como diretor de manufatura. Juliana está de volta ao lar.

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Em 2017 como gerente da pintura na fábrica da Jeep em Goiana (PE) - arquivo pessoal
 

“Não tem como não passar um filme pela cabeça”, diz Juliana Coelho, falando por videoconferência da sede da Fiat, no Brasil, em Minas Gerais. “Lembro de chegar em um ônibus acompanhado por outros 38 engenheiros recém-formados num grande descampado na margem da BR 101, em Goiana”. Era janeiro de 2013, e a fábrica da Jeep se limitava a um canteiro de obras. Juliana iniciava sua trajetória na indústria automotiva como trainee, depois de ter passado por um processo de seleção de jovens talentos. Ela lembra da avó acompanhando cada etapa da seleção. “Já chamaram tanta gente, por que você ainda não?” recorda.

 

A trajetória


Juliana Coelho foi chamada para fazer parte do primeiro time de funcionários do polo automotivo de Goiana. E não se limitou ao Brasil. No extenso processo de formação de novos profissionais, ela foi enviada para a Itália e a Sérvia, onde estagiou por quatro meses em fábricas do Grupo FCA. “Foi na Europa onde eu aprendi o que é uma indústria automotiva”. Em 2014 retornou a Goiana para encontrar um novo horizonte. Onde antes um imenso canavial dominava a paisagem, agora havia prédios e galpões, robôs e operários.

 

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Em 2015, junto ao time de italianos que atuava no suporte a produção em Goiana (PE)

- arquivo pessoal
 

Por sua formação em engenharia química, Juliana foi designada para o setor de pintura. De chefe da cabine de pintura passou a supervisora e gerente, até chegar a montagem, etapa considerada a espinha dorsal de uma fábrica de automóveis. “Não demorou para eu me apaixonar por aquilo tudo. É engraçado ver agora como as coisas foram se encaixando”. Juliana não se refere ao seu trabalho com as partes metálicas da carroceria. O encaixe aqui é o encontro da vocação com a prática. “Sempre gostei de carros. Meu tio tinha uma locadora de veículos, onde meu pai, já falecido, trabalhava. Eu adorava ir lá”. Nesta época, Juliana participou da implantação do terceiro turno de trabalho, quando a fabricava passou a funcionar 24 horas, produzindo cerca de 600 carros por dia, em média.

 

 

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Iniciando os trabalhos na pintura, em 2015, na linha de produção em Goiana (PE) -

 Arquivo pessoal
 

Grande desafio


Foram cinco anos integrando o time da FCA Jeep e participando diretamente da produção dos três modelos fabricados em Pernambuco, os Jeeps Compass e Renegade e a picape Fiat Toro. Há um ano e oito meses, a engenheira trocou Pernambuco por Minas Gerais, para chefiar a área de desenvolvimento na manufatura para a América Latina, dentro do Polo Fiat, em Betim. Sem esquecer de construir a vida pessoal, casou com um pernambucano, professor de Educação Física e se mudaram para Minas. “Agora estamos de volta. Esse tempo de aprendizado em Betim foi muito importante. Mas vai ser bom ficar perto da família novamente. Eu, minha avó e minhas tias, somos muito unidas. Tem ainda meu sogro, minha sogra, além dos meus dois irmãos mais novos. Sinto que posso ser uma inspiração para eles”, acredita.

Juliana admite ter consciência do trabalho duro que a espera. “O foco, claro, é a qualidade do produto final. Mas o principal desafio será a adequação da produção ao novo mercado e as restrições impostas pela pandemia. É um mundo novo. Mas, tudo bem. Eu gosto de desafios”, se entusiasma. A fábrica da Jeep em Goiana voltou a produzir há menos de dois meses seguindo novos protocolos de segurança e higiene, depois de 48 dias paralisada por conta da necessidade de isolamento social.

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Juliana, em 2018, chefiou a área de desenvolvimento da manufatura para a América Latina da Fiat, em Betim (MG) - arquivo pessoal
 

Juliana não esconde o carinho que sente pelo local de trabalho. “Vi a fábrica de Goiana crescer junto com as pessoas. Muitos operários são de origem humilde, pescadores, marisqueiros, gente que teve oportunidade e humildade para aprender. Se esforçaram muito. Me sinto meio assim também. Não coloco limites onde eu e meu time podemos chegar”, diz a, agora, gerente geral.