INFLAÇÃO

Aumentos dos custos de produção, como ração, transporte e embalagem, também fizeram o ovo ficar mais caro para consumidor

Com o preço alto da carne e a renda apertada por causa da crise econômica, as famílias brasileiras têm optado cada vez mais por ovos como opção proteica para as refeições.

Em 2020, em média, cada brasileiro consumiu 251 ovos – há dez anos, a média anual era de 148 para cada habitante. A alta do consumo foi de 70% no período.

Em Minas Gerais, Estado responsável por 9,12% da produção nacional de ovos, mais de 5 bilhões de unidades foram produzidas em 2020 – um crescimento de 6,15% em relação ao ano anterior. Porém, o setor não prevê um novo crescimento em 2021.

De acordo com o médico veterinário Gustavo Ribeiro Fonseca, integrante da Associação dos Avicultores de Minas Gerais (AVIMIG), além da demanda, há outros fatores que interferem na produção.

“Caso o custo de produção continue elevado, o produtor poderá optar pela diminuição do alojamento das aves, com isso diminuindo a produção de ovos”, afirma.

Estima-se que no Estado existam 340 granjas destinadas ao produto. 

Conforme a lei da oferta e da procura, o preço do ovo, que já vinha subindo, poderá crescer ainda mais, especialmente se as empresas reduzirem a produção.

De acordo com levantamento do site Mercado Mineiro, o pente com 30 unidades teve uma elevação de 47% entre novembro de 2020 e abril de 2021. O preço médio é R$ 14,40 na região metropolitana de Belo Horizonte. 

Assim como o crescimento da demanda, o custo da produção também foi fundamental para a elevação do preço. Ao longo da pandemia, os produtores tiveram de lidar com o crescimento nos valores dos insumos – especialmente das embalagens, do combustível e da ração. 

Milho e farelo

Para se ter uma ideia do aumento dos custos, o saco de 60 kg de milho dobrou de preço, ao longo da pandemia, e hoje é vendido por cerca de R$ 100.

Já o farelo de soja, que também é usado na ração, subiu 56%. Esses aumentos não foram repassados para os consumidores. Dessa forma, estamos vendo produtores de ovos e frangos trabalhando no vermelho por meses seguidos”, diz Fonseca.

Mas a grande procura pelo alimento não significa aumento no faturamento para quem se especializou nesse produto.

No Paraíso dos Ovos, única loja especializada no Mercado Central, não houve mudança no volume de vendas durante a pandemia. Isso porque o estabelecimento se especializou em produtos diferenciados, de maior qualidade, e nem sempre consegue atender ao cliente que precisa cortar custos. 

"A granja está com dificuldade para produzir, porque teve aumento nos valores do milho, das embalagens, do transporte. Isso reflete no valor da dúzia. O meu produto é diferente, você não encontra em um sacolão, mas o preço acabou ficando alto”, afirma Emerson Marcelo de Oliveira, proprietário da loja do Mercado Central.

Em Belo Horizonte, a dúzia do ovo caipira custa de R$ 6 a R$ 12, dependendo do produtor. 

"Rei do omelete” reclama da alta do caipira 

O aumento no preço impacta de alguma forma toda a cadeia alimentícia, como restaurantes, bares e confeitarias. No Bar do Cláudio, conhecido como “o rei do omelete”, o prato à base de ovos continua sendo carro-chefe, mesmo em tempos de delivery.

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Cláudio, conhecido como “o rei do omelete”, reduziu a produção em 40% na pandemia
Foto: ALEXANDRE MOTA / O TEMPO - 04.05.21

 

Isso acaba sendo mais um elemento em um orçamento difícil de ser equilibrado em um momento de auge da Covid.

“Estou usando apenas 40% da minha capacidade. O ovo caipira aumentou muito e ficou ainda mais caro para mim, porque deixei de comprar no atacado e passei a comprar fracionado. Mas esse é um dos vários alimentos que subiram de preço. Na verdade, todos os insumos ficaram mais caros”, explica Cláudio Gonçalves Pedrosa, proprietário do bar localizado no bairro Santa Efigênia.

Substituição e impacto na mesa

Pesquisa realizada entre 2.000 famílias brasileiras, pela Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Universidade de Brasília (UnB), revelou que a maioria dos lares brasileiros passa por redução na qualidade ou quantidade de alimentos.

Quase 60% dos entrevistados demonstraram passar por algum grau de insegurança alimentar. 

Houve redução no consumo de carnes e alimentos saudáveis, como verduras, legumes e frutas. Na pesquisa, apenas um alimento teve crescimento de consumo: o ovo.

Milene Pessoa, professora do Departamento de Nutrição da UFMG e uma das participantes do estudo, explica que as famílias não passam por perdas nutricionais com a substituição, pois o ovo é uma fonte de proteína de qualidade.

Mas tirar a carne do cardápio é uma mostra do imenso abismo social pelo qual o Brasil vive neste momento.