Setores estratégicos do governo, como é o energético e de combustíveis, ainda não sofreram grandes alterações com a mudança de governo. Os empresários, no entanto, entraram o ano muito otimista, investindo e fazendo planos, mas a sensação de que o país iria mudar foi tomada por uma grande nuvem cinza e com as incertezas que trouxeram junto as dúvidas, segundo o presidente da Siamig, Mario Campos (foto). Apesar desse cenário, ele acredita que Executivo e Legislativo encontrarão um caminho para aprovar a reforma da Previdência, para que o país retome a rota do desenvolvimento. O que surpreendeu a todos, foi a interferência do presidente Jair Bolsonaro na política de preços da Petrobras.  


A política do governo para o setor e as medidas adotadas até agora estão dentro das expectativas? 

Nós não tivemos uma mudança muito significativa nessa transição do governo Temer para o governo de Jair Bolsonaro. Nós temos claramente, na questão dos combustíveis, um modelo onde os derivados de petróleo acompanham as variações de preços internacionais tanto de petróleo, quanto de gasolina e aí tem-se o efeito do câmbio, isso é internalizado para o mercado interno e a Petrobras continua fazendo isto e até anunciou uma decisão temporal passada para o óleo diesel e nós não tivemos nenhuma mudança significativa na política energética, em relação a combustíveis no Brasil. Na questão da geração de energia, os projetos estão em andamento. Tem-se hoje energia de biomassa, tem um foco grande, sendo incentivada, a energia eólica, solar, nós temos uma continuidade. Nós tivemos uma grande transformação nos últimos três anos nesta área. O ministro Bento Albuquerque é uma pessoa de extremo conhecimento da área energética e tem feito um grande trabalho, na opinião dos empresários do setor. Em relação aos biocombustíveis, nós estamos finalizando a regulamentação do Renovabio. Apesar da alteração do governo, a regulamentação continuou através da Agência Nacional de Petróleo e internamente, no Ministério de Minas e Energia. Nós não temos nenhum tipo de crítica. A política está continuando e as empresas. dentro do setor energético têm continuado e os investimentos estão ocorrendo.  


Houve uma variação no preço do etanol. Essas variações interferem no consumo? 

No final de março foi o último da entressafra. Nós produzimos de abril a novembro e tivemos a entressafra, que foi totalmente atípica. Mesmo no mês de janeiro, que nós tivemos preços muito baixos do etanol mas bastante competitivos em Minas. Em meados de fevereiro até março é que vimos os preços do etanol aumentando para o produtor, uma correção da relação oferta e demanda, afinal não estávamos mais produzindo, estávamos trabalhando com estoque, então, a equação do mercado, com aquela quantidade de estoque existente, com a demanda que existia por parte do consumidor. Houve realmente um aumento de preço para o produtor, que foi repassado para a bomba. Mas já temos a redução e estamos na expectativa da retomada da safra. O nosso desafio é o de estar informando à sociedade que tanto distribuidores, quanto os postos tem que repassar para o consumidor as reduções dos preços que estão ocorrendo na produção. Minas Gerais, nesse período todo, não deixou de ter etanol competitivo em relação à gasolina. As médias de preço nesse período foram sempre inferiores a 70% e acredito que será ainda mais vantajoso colocar etanol nos veículos.  


O etanol tem sido uma alternativa, inclusive devido a crise econômica. As usinas têm condições de acompanhar o aumento da demanda? 

Se permanecer da forma como está, nós já atendemos o mercado. A crise econômica afeta de forma significativa o mercado interno. Nós poderíamos estar vendendo muito mais combustíveis no Brasil do que estamos vendendo hoje. No ano passado nós tivemos, efetivamente uma redução na venda de combustíveis no país. Em Minas Gerais, em função da crise mais aguda do que no resto do país, ela caiu ainda mais, em torno de 3,5 a 4% de queda. Neste ano estávamos melhorando um pouco, mas com essa incerteza em todo o país, nós temos que ver como será essa recuperação. Se nós vamos ter realmente um crescimento do PIB. Nós dependemos do crescimento do PIB para ter um aumento no consumo de combustíveis em geral.  


Esses primeiros 100 dias de governo Bolsonaro decepcionaram? 

É um ajuste. Sou sempre defensor do diálogo e tenho certeza de que eles vão chegar a um ponto em comum na relação entre Executivo e Legislativo. A reforma da Previdência, que é o ponto de discussão hoje, é essencial e os dois poderes veem a matéria como essencial O que é preciso é encontrar o melhor caminho da relação entre Executivo e Legislativo e ainda tem o Judiciário, que pode modificar o projeto com decisões judiciais. Nós precisamos da harmonia entre os três poderes para aprovarmos essa reforma. A economia, os empresários e empreendedores iniciaram o ano muito motivados e agora veem uma nuvem cinza e uma incerteza muito grande refletido em câmbio, em Bolsa de Valores. O câmbio afeta muito a agricultura, porque os nossos insumos são quase todos dolarizados, porque são importados, como os defensivos e fertilizantes. Isso, de certa forma, aumenta muito o preço da produção.

 

Fonte: Blog do PCO