Situação aconteceu de janeiro a setembro deste ano, em toda Minas Gerais
Para cada dez empresas abertas no Estado, de janeiro a setembro deste ano, outras sete fecharam as portas. Segundo dados da Junta Comercial de Minas Gerais (Jucemg), foram 8.254 aberturas, contra 5.646 encerramentos. Foram 20,6% a mais de lojas fechadas em relação ao mesmo período do ano passado.
Diante das estatísticas, é cada vez mais comum deparar-se com placas de “aluga-se” ou “passa-se o ponto”. Pesquisa feita pelo grupo Mercadológica com 600 mineiros, de 45 cidades, mostra que 70% conhecem algum empresário que fechou uma loja e cerca de 80% se lembram de alguém que perdeu o emprego no comércio, por causa da crise.
Veja AQUI infografia sobre a crise nos negócios do Brasil.
Em relação a 2014, o número de empresas fechadas no Estado cresceu 84%. No mesmo período, o total de lojas e negócios abertos aumentou 9,6%. “Eu tive duas lojas por sete anos, mas fechei as duas em 2014. As vendas caíram muito, e o aluguel subiu demais. Tive que demitir três pessoas em cada uma”, conta Viviane Santada Lago, 37. Ao longo dos anos, ela foi assistindo a uma queda brusca no movimento. “No Natal, era comum termos filas nas lojas. Nos últimos anos, a gente ficava esperando alguém entrar”, destaca.
A sensação de Neuza Aparecida Braga, 39, é a de que as portas fechadas estão tomando conta. “Vejo muita loja fechada, principalmente no centro de Belo Horizonte. Com certeza é por causa da crise. Eu, como consumidora, deixei de comprar itens supérfluos e imagino que é o caso de muita gente”, justifica.
Bruno Cristiano da Silva, 32, está desempregado. “De 2017 para cá, vi várias pessoas fecharem. Um amigo meu tinha uma loja de açaí, e outro tinha um lava a jato. Os dois fecharam porque não tinha movimento. E os dois demitiram”, conta.
Na avaliação do vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo Souza e Silva, o problema é que a crise está durando tempo demais. “Ela veio forte e longa. A maioria das empresas são micro e pequenas. Quando as vendas caem, elas tentam alternativas como atrasar o fornecedor ou o pagamento de impostos, mas, quando chegam ao limite, têm que acabar demitindo”, afirma.
Segundo Silva, os fechamentos também têm outras explicações, agravadas pela recessão. “Vemos muitos donos de imóveis fazerem reajustes altíssimos no aluguel e estamos passando por uma mudança, com migração das lojas físicas para espaços virtuais”, destaca.
Salário pingado. De acordo com o vice-presidente da CDL, o parcelamento dos salários dos servidores públicos do Estado também está no pacote de explicações para tantas lojas fechadas. “Atrasa o giro de dinheiro na economia. Os consumidores, sem receber em dia, não querem correr o risco de se endividar”, explica Silva.
O reflexo pode ser visto claramente no balanço do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. De janeiro a agosto, o comércio foi o único setor que ficou com saldo negativo entre contratações e demissões. Entre os 1,1 milhão de desligamentos no Estado, 24,5% foram no varejo.
E a expectativa para o curto prazo não é otimista. Na avaliação do professor de economia do Ibmec Glauber Silveira, neste momento de incertezas com o quadro político, as empresas tendem a retrair os investimentos e, consequentemente, as contratações.
“Algumas até procuram formas para manter seus trabalhadores, cortando gastos. Só que, quando a economia não cresce a taxas satisfatórias, é inevitável que aconteça demissão em algum momento. Os trabalhadores, percebendo esse risco, contraem suas compras e o comércio é o primeiro a sentir”, destaca Silveira.