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Recife (PE) e Salvador (BA) - Nas praias mais movimentadas de Porto de Galinhas, em Pernambuco, a faixa de areia permanece intacta, e quase não há pegadas de pessoas no chão. No badalado Rio Vermelho, onde a noite ferve em Salvador, restaram apenas as estátuas dos escritores Jorge Amado e Zélia Gattai devidamente trajados de máscaras cirúrgicas.
Após um verão marcado pelo derramamento de óleo nas praias, que afugentou visitantes por quatro meses, a pandemia do novo coronavírus deve consolidar um ano perdido para o turismo no Nordeste. O turismo representa cerca de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) da região. Movimenta de resorts a pequenas hospedarias, de restaurantes a bugueiros, jangadeiros, baianas de acarajé e vendedores de fitinhas do Senhor do Bonfim.
Na Bahia, 90% dos hotéis estão temporariamente com portas fechadas, segundo a seção local da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis). Dos que mantiveram as portas abertas, a ocupação média é de 10% dos leitos.
"A receita dos hotéis neste período tem sido praticamente zero. É um impacto enorme", diz o presidente da ABIH Bahia, Luciano Lopes. A maior parte dos hotéis deu férias coletivas aos funcionários. Mas alguns já começam a demitir e até fechar definitivamente.
Um dos mais icônicos do Centro Histórico de Salvador, o Pestana Convento do Carmo encerrou suas atividades após 15 anos de atividades na cidade. O grupo hoteleiro português informou que tomou a decisão diante da crise causada pela pandemia. Queridinhos dos turistas estrangeiros, os grandes resorts do litoral norte da Bahia, como Costa do Sauipe e Iberostar Praia do Forte, suspenderam as atividades por determinação da Prefeitura de Mata de São João.
Em Salvador, onde o setor hoteleiro esperava ter o melhor ano em uma década, empresários lamentam. "É uma crise violenta", diz Glicério Lemos, proprietário do Hotel Monte Pascoal, na praia da Barra. Elediz que deu férias aos 70 funcionários e demitiu os temporários que haviam sido contratados para o verão.
O avanço da pandemia e o consequente sumiço dos turistas também teve forte impacto no setor informal, afetando jangadeiros, bugueiros, ambulantes e guias.
Na Chapada Diamantina, interior da Bahia, moradores e visitantes organizaram uma vaquinha para comprar cestas básicas para os guias que atuam no Parque Nacional. A meta é comprar cem cestas básicas no valor de R$ 100 cada uma com alimentos e produtos de higiene e de limpeza.
Dono de um pequeno receptivo turístico em Maceió, Ivanildo Sabino Alves, 51, estava reerguendo o negócio após um 2019 prejudicado pelo vazamento de óleo, quando parou de vez. "Tínhamos conseguido voltar ao normal. Agora, zerou mesmo. Sem turistas, não tenho como trabalhar."
Além de agenciar passeios, ele mesmo transportava turistas em vans e um táxi. Agora, depende da mulher para garantir o sustento da família.
"Minha esposa trabalha na área administrativa de um hospital e está garantindo a bolacha. É esperar passar."
Área de piscinas naturais em Porto de Galinhas, localizado em Ipojuca (Foto: Bruna Costa/DP Foto)
Em Maragogi (AL), um dos destinos mais procurados do litoral nordestino, Juan José Moreno, 39, locatário de uma pequena lancha e de um catamarã, ganha a vida levando turistas para as piscinas naturais paradisíacas no meio do mar. "Está tudo parado. Estou pensando em entregar as embarcações ao proprietário", disse. Juan se cadastrou para receber o auxílio emergencial do governo federal, mas ainda não conseguiu ter acesso ao dinheiro. "Sobrevivo disso. Tenho três filhas que dependem de mim", conta.
Em Maragogi, há 200 bugueiros que sobrevivem levando pessoas para pontos turísticos da região. Jeferson Floreano da Silva, 33, é um deles.
"O ano já está perdido para quem trabalha com turismo. Muita gente foi forçada a tirar férias antecipadas, outras pessoas foram demitidas e estão sem dinheiro para viajar. Infelizmente, 2020 acabou", diz.
Em Trancoso, no sul da Bahia, o empresário Erisvaldo Lopes Santos, 47, sofreu um duplo baque. Ele perdeu a sua mulher, Rafaela da Silva de Jesus, 28, que morreu de Covid-19 sete dias após ao nascimento da filha do casal.
Dono de uma empresa de trasnfer turístico, com uma frota de dez carros, teve que demitir 2 dos 8 funcionários. Agora, vai vender um dos veículos para pagar salários. "Estou com todos os carros parados há 36 dias. E sem previsão de retomar", afirma. Ele diz que não teve acesso a crédito nem a nenhum tipo de apoio do poder público.
Fernando de Noronha (Foto: Paulo Paiva/DP Foto)
Em Fernando de Noronha, o governo de Pernambuco fechou o aeroporto e decretou quarentena até o fim de abril. A presidente do Conselho de Turismo da ilha e secretária-executiva da Associação dos Pousadeiros, Auxiliadora Costa, cobra teste de toda a população para as coisas voltarem ao normal rapidamente.
"Temos uma população pequena, e é possível testar todo o mundo", diz Auxiliadora. Especialistas, contudo, afirmam que a testagem em massa, por si só, não é suficiente para garantir segurança para o retorno à normalidade.
No dia 24 de abril, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), liberou a volta de funcionamento de hotéis e pousadas. A retomada das atividades, contudo, ainda não ocorreu. Muitos funcionários foram demitidos e outros tiveram o contrato suspenso. Com a restrição de voos e a vida das cidades ainda fora da normalidade, empresários do setor têm a avaliação de que não vale a pena abrir as portas agora, por causa da demanda inexistente.
A empresária Ludmila Abreu, 37, dona de um dos maiores receptivos de passeios turístico da praia de Pipa (RN), suspendeu as atividades no dia 20 de março, três dias antes de o governo estadual anunciar medidas restritivas. "Não quis colocar a empresa em risco. Precisava proteger meus funcionários. Aqui, zerou desde o dia 20 de março", diz. A empresa tinha 15 empregados. Os que tinham condições de receber o seguro-desemprego foram demitidos. Outros tiveram o contrato suspenso, e dois continuam vinculados à agência.
Ela não espera clientes antes de julho. "Acho que a partir de outubro pode ficar parecido com uma baixa estação." Em uníssono, empresários cobram medidas como a abertura de linhas de crédito, o adiamento do pagamento de impostos e apoio na divulgação dos destinos turísticos locais no pós-pandemia. "Vai ser preciso motivar as pessoas a sair de suas casas e voltar a viajar", afirma Luciano Lopes, da ABIH Bahia.
Em nota, o Ministério do Turismo informou que que vem tomando medidas para enfrentar a crise. E citou como exemplo a medida provisória de manutenção dos empregos, do Ministério da Economia, que deve ajudar a manter cerca de 1 milhão de postos de trabalho apenas no segmento do turismo. O ministério também informou que vai facilitar o acesso a crédito para micro, pequenos e médios empresários do setor por meio do Fundo Geral de Turismo.
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Recife (PE) e Salvador (BA) - Nas praias mais movimentadas de Porto de Galinhas, em Pernambuco, a faixa de areia permanece intacta, e quase não há pegadas de pessoas no chão. No badalado Rio Vermelho, onde a noite ferve em Salvador, restaram apenas as estátuas dos escritores Jorge Amado e Zélia Gattai devidamente trajados de máscaras cirúrgicas.
Após um verão marcado pelo derramamento de óleo nas praias, que afugentou visitantes por quatro meses, a pandemia do novo coronavírus deve consolidar um ano perdido para o turismo no Nordeste. O turismo representa cerca de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) da região. Movimenta de resorts a pequenas hospedarias, de restaurantes a bugueiros, jangadeiros, baianas de acarajé e vendedores de fitinhas do Senhor do Bonfim.
Na Bahia, 90% dos hotéis estão temporariamente com portas fechadas, segundo a seção local da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis). Dos que mantiveram as portas abertas, a ocupação média é de 10% dos leitos.
"A receita dos hotéis neste período tem sido praticamente zero. É um impacto enorme", diz o presidente da ABIH Bahia, Luciano Lopes. A maior parte dos hotéis deu férias coletivas aos funcionários. Mas alguns já começam a demitir e até fechar definitivamente.
Um dos mais icônicos do Centro Histórico de Salvador, o Pestana Convento do Carmo encerrou suas atividades após 15 anos de atividades na cidade. O grupo hoteleiro português informou que tomou a decisão diante da crise causada pela pandemia. Queridinhos dos turistas estrangeiros, os grandes resorts do litoral norte da Bahia, como Costa do Sauipe e Iberostar Praia do Forte, suspenderam as atividades por determinação da Prefeitura de Mata de São João.
Em Salvador, onde o setor hoteleiro esperava ter o melhor ano em uma década, empresários lamentam. "É uma crise violenta", diz Glicério Lemos, proprietário do Hotel Monte Pascoal, na praia da Barra. Elediz que deu férias aos 70 funcionários e demitiu os temporários que haviam sido contratados para o verão.
O avanço da pandemia e o consequente sumiço dos turistas também teve forte impacto no setor informal, afetando jangadeiros, bugueiros, ambulantes e guias.
Na Chapada Diamantina, interior da Bahia, moradores e visitantes organizaram uma vaquinha para comprar cestas básicas para os guias que atuam no Parque Nacional. A meta é comprar cem cestas básicas no valor de R$ 100 cada uma com alimentos e produtos de higiene e de limpeza.
Dono de um pequeno receptivo turístico em Maceió, Ivanildo Sabino Alves, 51, estava reerguendo o negócio após um 2019 prejudicado pelo vazamento de óleo, quando parou de vez. "Tínhamos conseguido voltar ao normal. Agora, zerou mesmo. Sem turistas, não tenho como trabalhar."
Além de agenciar passeios, ele mesmo transportava turistas em vans e um táxi. Agora, depende da mulher para garantir o sustento da família.
"Minha esposa trabalha na área administrativa de um hospital e está garantindo a bolacha. É esperar passar."
Área de piscinas naturais em Porto de Galinhas, localizado em Ipojuca (Foto: Bruna Costa/DP Foto)
Em Maragogi (AL), um dos destinos mais procurados do litoral nordestino, Juan José Moreno, 39, locatário de uma pequena lancha e de um catamarã, ganha a vida levando turistas para as piscinas naturais paradisíacas no meio do mar. "Está tudo parado. Estou pensando em entregar as embarcações ao proprietário", disse. Juan se cadastrou para receber o auxílio emergencial do governo federal, mas ainda não conseguiu ter acesso ao dinheiro. "Sobrevivo disso. Tenho três filhas que dependem de mim", conta.
Em Maragogi, há 200 bugueiros que sobrevivem levando pessoas para pontos turísticos da região. Jeferson Floreano da Silva, 33, é um deles.
"O ano já está perdido para quem trabalha com turismo. Muita gente foi forçada a tirar férias antecipadas, outras pessoas foram demitidas e estão sem dinheiro para viajar. Infelizmente, 2020 acabou", diz.
Em Trancoso, no sul da Bahia, o empresário Erisvaldo Lopes Santos, 47, sofreu um duplo baque. Ele perdeu a sua mulher, Rafaela da Silva de Jesus, 28, que morreu de Covid-19 sete dias após ao nascimento da filha do casal.
Dono de uma empresa de trasnfer turístico, com uma frota de dez carros, teve que demitir 2 dos 8 funcionários. Agora, vai vender um dos veículos para pagar salários. "Estou com todos os carros parados há 36 dias. E sem previsão de retomar", afirma. Ele diz que não teve acesso a crédito nem a nenhum tipo de apoio do poder público.
Fernando de Noronha (Foto: Paulo Paiva/DP Foto)
Em Fernando de Noronha, o governo de Pernambuco fechou o aeroporto e decretou quarentena até o fim de abril. A presidente do Conselho de Turismo da ilha e secretária-executiva da Associação dos Pousadeiros, Auxiliadora Costa, cobra teste de toda a população para as coisas voltarem ao normal rapidamente.
"Temos uma população pequena, e é possível testar todo o mundo", diz Auxiliadora. Especialistas, contudo, afirmam que a testagem em massa, por si só, não é suficiente para garantir segurança para o retorno à normalidade.
No dia 24 de abril, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), liberou a volta de funcionamento de hotéis e pousadas. A retomada das atividades, contudo, ainda não ocorreu. Muitos funcionários foram demitidos e outros tiveram o contrato suspenso. Com a restrição de voos e a vida das cidades ainda fora da normalidade, empresários do setor têm a avaliação de que não vale a pena abrir as portas agora, por causa da demanda inexistente.
A empresária Ludmila Abreu, 37, dona de um dos maiores receptivos de passeios turístico da praia de Pipa (RN), suspendeu as atividades no dia 20 de março, três dias antes de o governo estadual anunciar medidas restritivas. "Não quis colocar a empresa em risco. Precisava proteger meus funcionários. Aqui, zerou desde o dia 20 de março", diz. A empresa tinha 15 empregados. Os que tinham condições de receber o seguro-desemprego foram demitidos. Outros tiveram o contrato suspenso, e dois continuam vinculados à agência.
Ela não espera clientes antes de julho. "Acho que a partir de outubro pode ficar parecido com uma baixa estação." Em uníssono, empresários cobram medidas como a abertura de linhas de crédito, o adiamento do pagamento de impostos e apoio na divulgação dos destinos turísticos locais no pós-pandemia. "Vai ser preciso motivar as pessoas a sair de suas casas e voltar a viajar", afirma Luciano Lopes, da ABIH Bahia.
Em nota, o Ministério do Turismo informou que que vem tomando medidas para enfrentar a crise. E citou como exemplo a medida provisória de manutenção dos empregos, do Ministério da Economia, que deve ajudar a manter cerca de 1 milhão de postos de trabalho apenas no segmento do turismo. O ministério também informou que vai facilitar o acesso a crédito para micro, pequenos e médios empresários do setor por meio do Fundo Geral de Turismo.