ECONOMIA

A maior economia da América Latina, o Brasil, está em uma encruzilhada. Fixar suas finanças públicas poderia abrir as portas para um ciclo virtuoso de expansão; Se isso falhar, corre o risco de cair mais fundo nos ratings de crédito e no crescimento abaixo da média. Muito depende do oneroso sistema previdenciário do país, alvo do primeiro empurrão legislativo sustentado pelo presidente Jair Bolsonaro e sua equipe econômica. Reforçar o apoio dos legisladores à reforma da previdência falhou em 2017, sob o governo do ex-presidente Michel Temer, e o esforço de Bolsonaro já está se esvaindo.

1. Por que a reforma previdenciária é tão importante?

Os gastos com aposentadorias no Brasil já são altos em comparação com outros países, e uma população que envelhece rapidamente torna o sistema atual uma bomba-relógio. O Brasil gasta o equivalente a 13% do produto interno bruto na previdência social, bem acima da média de 8% para as nações do G-20, de acordo com um relatório do governo publicado em dezembro. O fundo de pensão para trabalhadores do setor privado deverá ter um déficit de R $ 218 bilhões (US $ 54,7 bilhões) este ano, acima dos 195,2 bilhões de reais em 2018, enquanto o fundo para funcionários públicos também estará no vermelho. Atualmente, a população economicamente ativa do Brasil paga as pensões dos aposentados. O número de cidadãos com mais de 65 anos subirá para 25,5% da população em 2060, contra apenas 9,5% atualmente, de acordo com a agência nacional de estatísticas.

2. Qual é o plano de Bolsonaro?

Seu governo, no governo do ministro da Economia, Paulo Guedes, quer estabelecer idade mínima para aposentadoria – 65 anos para homens e 62 anos para mulheres, com um período de transição de 12 anos. Atualmente, a aposentadoria é determinada por uma fórmula que considera tanto a idade quanto o tempo de contribuição, permitindo que alguns trabalhadores reivindiquem benefícios já na faixa dos 50 anos. Bolsonaro também implementaria contas de poupança individuais para os trabalhadores que entram no mercado de trabalho, para que as futuras gerações sejam responsáveis ​​por poupar para suas próprias aposentadorias. O objetivo desses e de outros passos é gerar cerca de um trilhão de reais em economia ao longo de 10 anos.

3. Qual foi a resposta?

Os legisladores disseram que o governo pode esperar uma luta em relação a pontos-chave como idade mínima de aposentadoria e maiores períodos de contribuição para os trabalhadores rurais. O governo já alterou partes do projeto, incluindo a idade máxima de aposentadoria para funcionários públicos e indenizações para funcionários que já se aposentaram sob o plano de pensão do governo. Espera-se que mais mudanças sejam feitas para garantir apoio à medida que avança no Congresso.

4. Onde as coisas estão?

A administração perdeu tempo precioso devido a falhas de comunicação e brigas internas que atrasaram sua lei de reforma previdenciária. Ele foi enviado ao Congresso em 20 de fevereiro como uma emenda constitucional, o que significa que ele estará sujeito a um longo processo de aprovação e maior escrutínio dos legisladores. Para limpar a câmara baixa, o projeto terá que conquistar o apoio de 308 dos 513 deputados em dois votos separados. No Senado, ele precisará ser aprovado por uma comissão e depois por 49 dos 81 senadores, em dois votos separados. Como o Brasil tem mais de duas dezenas de partidos políticos, montar uma maioria em qualquer das casas não é tarefa fácil.

5. O que os investidores estão esperando para ver na reforma?

Os investidores reagiram positivamente quando o esboço da proposta foi divulgado. Para muitos deles, quanto mais próximas as economias projetadas forem de 1 trilhão de reais, melhor, embora muitos esperem um número final próximo a 600 bilhões de reais. Também é importante o cronograma para aprovação. Embora vista como extremamente improvável, a passagem no primeiro semestre do ano elabora os investidores. Um cenário mais realista é a aprovação no terceiro trimestre.

6. O que acontece se não for aprovado?

A falha em mudar o sistema previdenciário provavelmente provocaria uma liquidação massiva. Os analistas reduziriam suas previsões em ativos locais, desde o mercado de ações até a moeda. As agências de classificação de risco poderiam rebaixar ainda mais o rating de dívida soberana do Brasil para o lixo, aumentando assim os custos de empréstimos do governo à medida que as pensões absorvem uma porcentagem cada vez maior do orçamento. O banco central provavelmente seria forçado a aumentar a taxa de juros de referência para afastar as pressões inflacionárias de um real mais fraco e ajudar a evitar quedas mais acentuadas na confiança dos investidores. Juntos, esses fatores prejudicariam a recuperação já lenta do Brasil em investimentos e crescimento econômico.

– Com o apoio de Josue Leonel, Vinícius Andrade e Patricia Lara.