Estado foi superado pelo Rio em 2018; mineração derrubou os mineiros da posição que ocupavam desde 1997 e está na raiz de suas dificuldades atuais

Minas Gerais perdeu para o Rio de Janeiro a posição histórica de vice-líder no ranking das exportações por estados. Em 2018 a economia mineira gerou um saldo no comercio exterior de US$ 23,9 bilhões, contra US$ 29,7 bilhões produzidos no estado vizinho segundo dados recém-publicados no site do ministério da Indústria e Comércio Exterior (hoje em processo de incorporação à superpasta da Economia). É a primeira vez que nosso estado é superado pelo vizinho em vendas externas desde o início do ranking em 1997. Ou seja, mudou um quadro consolidado há pelo menos duas décadas. Isso mostra que a economia mineira vem perdendo força e tração no seu setor mais dinâmico e próspero: a exportação de commodities. E deixa a pergunta no ar: a queda é um ponto fora da curva e, portanto, reversível, ou uma mudança estrutural a continuar nos próximos anos e a refletir um processo de fragilização econômica de Minas?

Na série histórica do governo federal, Minas ficou à frente do Rio com uma vantagem entre US$ 3,5 bilhões a US$ 10 bilhões até 2011, quando ambos os estados atingiram seus recordes em exportações. Naquele ano, auge do boom das commodities que ocorreu após a crise de 2008, os fluminenses chegaram a vender US$ 29,4 bilhões e mineiros US$ 41,3 bilhões. Então, o Rio se fartava com os royalties do petróleo vendido por até US$ 150 o barril e em Minas a mineração fazia a festa vendendo minério por até US$ 187 a tonelada (fevereiro/2011). Nunca dantes se viram preços tão altos. Dois anos depois, com o fim da política dos países ricos de injetar dinheiro nos mercados financeiros para evitar quebras, os preços das commodities despencaram abruptamente e levaram juntos os saldos de seus produtores.

A partir de 2012 as vendas fluminenses e mineiras caíram continuamente, durante quatro anos seguidos, baixando de saldos de US$ 28,7 bilhões (RJ) e de US$ 33,1 bilhões (MG) para US$ 16,9 bilhões e US$ 21,9 bilhões em 2015. Nesse ano, mais exatamente no mês de janeiro, o petróleo bateu na mínima de US$ 30. E em dezembro o minério de ferro chegou a bagatela de US$ 40. É óbvio que o desabamento das commodities atingiu direta e profundamente as empresas e os estados produtores. Não é coincidência que a Petrobras e o Rio tenham entrado em colapso junto com os preços do petróleo. Embora a opinião pública atribua a crise na estatal e no estado fluminense à corrupção e má administração, o fator de maior peso na perda de receitas foi a queda de até 60% das cotações. Da mesma forma, não dá para desvincular a crise vivia em Minas da decadência de sua principal divisa internacional e mais tradicional atividade, a mineração.

Ano passado, o petróleo chegou a US$ 80 em setembro. No acumulado até este mês, a Petrobras reportou aos seus investidores um lucro líquido de R$ 23,677 bilhões, num crescimento de 371% comparado a igual período do ano anterior. A melhora do desempenho da indústria petrolífera se refletiu nos saldos externos do Rio, que pularam de US$ 21,7 bilhões em 2017 para US$ 29,7 bilhões em 2018, aumento de 50% de um ano para outro. Por outro lado, os sados de Minas caíram de US$ 25,3 bilhões em 2017 para US$ 23,9 bilhões. Já os preços do minério tiveram reação mais modesta, com uma cotação média de US$ 69 no ano passado; ao mesmo tempo, a produção mineira sofreu o baque da paralisação por cerca de 10 meses da Anglo American após rompimentos no mineroduto da empresa. Em 2015, a mineração em Minas já havia sido duramente afetada pelo rompimento da barragem de rejeitos da Samarco, cuja operação segue paralisada.

Não há dúvida que as exportações mineiras foram derrubadas pela queda de 16% nos embarques de minério. Portanto, a reação do comércio externo de Minas e a reconquista da vice-liderança no ranking nacional vão depender de uma recuperação do setor mineral no estado. A série histórica dos dados de exportações dos estados joga na cara do governo e sociedade mineira uma realidade inescapável: a mineração segue importantíssima para Minas, tão importante que o estado mergulhou na crise quando ela desabou. Nós, mineiros, podemos dizer que, apesar de tudo o eu dizemos para diversificar a nossa economia, ainda somos e vivemos como nossos antepassados.