O isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus fez com que os brasileiros mudassem os hábitos de consumo e valorizassem mais as plantas na própria residência. Em algumas floriculturas na capital mineira a demanda por hortaliças, folhagens, frutíferas e até por árvores chegou a dobrar. Com a maior procura, produtores elevaram em até 50% os preços de algumas espécies e já faltam produtos no mercado. Em alguns estabelecimentos, existe até fila de espera por uma das “queridinhas”, a begônia maculata, que chega a custar acima de R$ 220 um vaso.

 

Foto/Lucas Prates

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Maria Guimarães já gastou quase R$ 20 mil com plantas e insumos:“mexer com planta é uma terapia. A gente não vê o tempo passar”

 

De março até agora, a dona de casa Maria Guimarães já gastou aproximadamente R$ 20 mil com plantas e insumos. “Sempre gostei de plantas, mas com a pandemia, fiquei expert. Mexer com planta é uma terapia, a gente não vê o tempo passar. Ficando só em casa, não podendo fazer bike na Lagoa da Pampulha, me levou a comprar mais nesta pandemia”, conta, lembrando que até desativou uma quadra que tinha em casa para fazer um pomar. “Já colhi as primeiras frutinhas de blueberry (mirtilo). Desenvolvi esse prazer maior com a planta, de qual lugar ela gosta mais, o que necessita, você acaba fazendo um estudo”, garante.


Na floricultura Flor & Cia, no bairro Dona Clara, a demanda cresceu 100% nesta pandemia, segundo a proprietária do estabelecimento, Adriana Regina Siqueira Barcelos. “No início da Covid, tive uma procura muito grande por plantas para hortas, depois para dentro de casa como jiboia, hedera, rhipsalis. Agora, estou até com lista de espera, com umas seis pessoas na fila, aguardando a begônia maculata, que custa R$ 229 a unidade com 40 centímetros”, conta. Nos últimos dias, ela já vendeu 11 unidades desta planta.

Com a maior procura pelos produtos, Adriana Regina conta que os preços repassados pelos produtores já estão até 50% mais elevados, inclusive para os insumos. “Tudo aumentou muito. Estou fazendo de tudo para não repassar para o consumidor”, garante. “O que percebi nessa pandemia é que as pessoas que não davam nenhuma importância às plantas, já chegam na loja agora e sabem o nome de tudo. As pessoas estão mais felizes com as plantas, dando mais importância”, avalia.

Além da alta de até 30% nos preços, Andreia Campolina, proprietária da Alamanda Paisagismo, no bairro Palmares, já constatou também que alguns produtos já desapareceram do mercado. “Comprava as frutíferas por R$ 18. Agora já estou pagando R$ 25. A grama agora, só por encomenda. Já tenho cerca de dez pessoas na fila”, afirmou, lembrando também já há falta de cítricas, plantas ornamentais e até ervas para tempero no mercado. Segundo ela, nesta pandemia as ‘queridinhas’ foram as alocasias, aglaonemas, a begônia maculata e o fícus lyrata.

Na floricultura Beija-Flor, na Pampulha, a procura também foi intensa. Segundo a gerente da unidade, Paola Patrocínio, a demanda subiu até 60% e vem de todo tipo de público, de crianças a idosos. “As pessoas foram descobrindo esse novo hobby. Às vezes, vão na casa do vizinho e gostam e querem comprar também”, conta. A loja já tem cerca de 50 clientes aguardando na fila por uma muda de monstera adansonii, que custa R$ 250 a unidade com um metro de altura, e está agora em processo de enraizamento.

“Costumo brincar que não é terapia, mas é terapêutico. As plantas, por mais que não interajam, demandam todo aquele cuidado diário. As pessoas têm procurado deixar a casa mais verde, mais harmoniosa. A gente passou muito tempo buscando o extraordinário, o que percebo que é começamos a voltar os olhos mais para o que é simples, o que é natural. As pessoas, de forma geral, têm buscado esses pequenos prazeres”, afirma o psicoterapeuta Wesley Carneiro, lembrando que muitas pessoas hoje têm adotado a ideia de ter a própria hortinha em casa.