Pelos dados do Mdic, alta formidável do mercado brasileiro em 2018 (+14,7%) beneficiou mais os empregos e carros estrangeiros que a produção nacional
A unidade mineira da Fiat Chrysler Automóveis (FCA) deu um salto de 520,7% nas importações de automóveis em comparação ao mesmo período de 2017. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). Se acrescentarmos a esse valor os segmentos de carga, chegaremos à seguinte constatação: a importação total de veículos corresponde a 11,4% de tudo que Minas Gerais obteve do exterior em 2018.
A nível nacional, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) cedeu dados que podem elucidar porquês de crescimento tão eloquente nas importações. A indústria automobilística terminou 2018 com produção de 2,88 milhões de veículos, uma elevação de 6,7% em proporção a 2017. Tais números, todavia, estão muito abaixo da expansão do mercado interno, que chegou a 14,6% (2,566 milhões de veículos vendidos). Ou seja, essa diferença entre as taxas de produção e consumo (7,9%) foi preenchida com carros importados. Esta estratégia comercial não é exclusiva da FCA. De modo geral, as empresas vêm completando suas ofertas com produtos de unidades próprias no exterior. Hoje, as unidades das montadoras, espalhadas pelo mundo, trabalham de maneira integrada.
Quando nos referimos à taxa de empregos, o contraste é maior ainda em relação ao aumento do mercado interno. Em uma comparação, o mercado correu como lebre e o emprego seguiu como tartaruga. Embora tenha havido um crescimento do número de empregos (aliás, pelo terceiro ano seguido) de 1,7%, com a abertura de 2.176 vagas nas fábricas de veículos e máquina agrícolas, tal ampliação se mostra “ínfima” frente à expansão das vendas no cenário nacional, em um país, é necessário frisar, que contabiliza 12,7 milhões de pessoas desempregadas, segundo dados disponibilizados pelo IBGE em setembro de 2018. Essas discrepâncias numéricas se interligam muito com o significativo salto, de um ano para outro (2017 para 2018), de veículos importados pela FCA.
Glauber Silveira, economista e pesquisador da Fundação João Pinheiro, porém, enxerga esses contrastes numéricos entre essa tríade (produção, mercado interno e emprego), em especial as alternâncias e distinções entre as taxas de produção e emprego, de forma mais natural, explicando essas nuances e variações: “Você tem essa deadline de crescimento entre esses dois mercados: uma coisa é o mercado, a produção em si, outra coisa é o crescimento do mercado de trabalho. O que acontece é que o crescimento na produção, muitas vezes, advém, principalmente, de um momento pós-crise igual ao que vivenciamos nos anos recentes, de ampliação da capacidade produtiva de, digamos assim, capacidade ociosa da indústria. Tinha-se uma dada capacidade ociosa de máquinas e equipamentos, colocam-se, então, essas maquinas e equipamentos ociosos em produção, e não se contrata necessariamente novas pessoas para poder operar essas máquinas. Só quando se tem uma proporção maior na economia, um crescimento econômico mais vigoroso, é que se faz necessário a contratação de novas pessoas”, constata.
Para este ano, a projeção é para mais um novo aumento de 11,4% no mercado interno, o que corresponderia a 2,86 milhões de unidades. Resta saber qual será a duração desse modelo que privilegia a importação em detrimento da exportação e o quanto ele persistirá afetando as taxas de emprego e produção. Será essa uma tendência ou uma conjuntura que não se estabelecerá por muito tempo? Com uma retomada econômica, mesmo que, inicialmente, moderada, e aumento do Produto Interno Bruto (PIB), como preveem analistas, haverá, nos próximos anos, aumento mais substancial nos setores de produção e emprego?
Posicionamento da FCA
Em comunicado, a montadora informou que, embora tenha havido um salto nas importações entre os anos de 2017 e 2018, o número de exportações foi ainda superior, o que gerou um balanço comercial positivo. Abaixo, leia o texto na íntegra:
A Fiat Chrysler Automóveis (FCA) importou cerca de 40 mil veículos em 2018 e exportou mais de 100 mil veículos no período, gerando um balanço comercial positivo. As importações totalizam as transações realizadas para atender o mercado brasileiro (e não apenas Minas Gerais) e procedem de países com os quais o Brasil mantém acordos automotivos – Argentina e México. Tais acordos são baseados no comércio bilateral, com exportações e importações. A FCA é uma empresa global, que, na América Latina, tem fabricas de automóveis em Betim (MG) e Goiana (PE), no Brasil; em Córdoba, na Argentina.
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