Terceiro na pauta de exportações do agro mineiro, o complexo grãos, farelo e óleo alcançou o resultado recorde de US$ 1,1 bilhão, com o volume de 2,8 milhões de toneladas no ano passado

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O Brasil tem ainda muito área disponível para aumentar a produção e apenas dois concorrentes significativos, os Estados Unidos e a Argentina(foto: Advanta/Divulgação - 1/10/15)

O complexo soja (grãos, farelo e óleo) foi o terceiro produto da pauta de exportações do agronegócio mineiro, no ano passado, respondendo por 13,9% do total, alcançando US$ 1,1 bilhão e volume de 2,8 milhões de toneladas. Este resultado é recorde. A soja em grão foi exportada para 26 destinos, liderados pela China, que importou, sozinha, aproximadamente 90% da soja mineira.
A produção de soja alcançou 5,1 milhões de toneladas (+ 7,1%), numa área plantada de 1,5 milhão de hectares e produtividade de 3,5 toneladas por hectare ( 8,1%). O café, principal produto da pauta de exportações do agronegócio, representou 43,4% do valor total exportado pelo agronegócio em Minas no período. Foram exportadas 20,5 milhões de sacas, que correspondem a 84% da safra mineira. O valor alcançado com a comercialização foi de US$ 3,4 bilhões, indicando declínio de 2%, em comparação com o ano anterior.

Segundo o assessor especial da Cafeicultura da Secretaria de Agropecuária, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Newton Moraes, houve pequena flutuação positiva nos preços médios, que compensou, parcialmente, a redução no volume exportado (- 6,3%). “Essa pequena variação está dentro do previsível, não tendo nenhum significado impactante nas exportações, situação que foi semelhante no cenário nacional”, explica.

O segundo colocado, produtos do complexo sucroalcooleiro, respondeu por 16,5% do valor total exportado, alcançando US$ 1,3 bilhão, com crescimento de 11,2% no valor comercializado. Esse resultado é recorde e se deve à valorização do açúcar no mercado internacional.

A produção da primeira safra de soja em Minas, conhecida como safra de verão ou das águas, se dá a partir de 1º de outubro. Entre 1º de julho e 30 de setembro ocorre o “vazio sanitário”, quando fica suspenso o plantio em todo o território nacional. O termo é utilizado para o prazo que se dá, para se evitar a contaminação das plantações por pragas, como a mosca-branca e a ferrugem asiática, difíceis de controlar, conforme explica Caio Coimbra, analista de agronegócios da Embrapa-MG. Esse intervalo impede que o hospedeiro reproduza com muita frequência, caso contrário, na época da colheita, a grande quantidade de infestação afeta drasticamente a produção. Essa medida serve para outras culturas, como o feijão, com a mosca-branca ou o bicudo-algodoeiro.

Segundo a Embrapa, o estado tinha, em 2004, área plantada de 1,1 milhão de hectares, chegando hoje a 1,5 milhão de hectares, demonstrando que a área de cultivo não cresceu tanto quanto a produtividade, que dobrou. Caio Coimbra atribui esses resultados à utilização de variedades de soja mais resistentes, novas tecnologias, adubação com maior pacote tecnológico, colheita mecanizada, evitando-se perdas e aumentando a produtividade. Em Minas, três regiões se destacaram na produção do grão na safra passada: a Noroeste, com mais de 484,4 mil hectares plantados, resultando em 1,77 milhão de toneladas; o Triângulo, com 476,8 mil hectares (1,63 milhão de toneladas) e o Alto Paranaíba, com 310 mil hectares, sendo colhidos 1,6 milhão de toneladas. Somadas, as três respondem por 85% da produção do estado.

“No Brasil, evoluímos muito no cultivo da soja, passando a área plantada de 1,3 milhão, em 1970 para 35 milhões de hectares, hoje. A produção histórica é de 114 milhões de toneladas, em torno de 3 toneladas por hectare”, explica o pesquisador da Embrapa Soja Amélio Dall-Agnol. Segundo o pesquisador, a safra de 2018 não será tão ruim como se pensava. “Não se acreditava que se repetiriam as excelentes condições de clima do ano passado.” Ele alega que, por isso, houve atraso no plantio, o que deverá afetar a segunda safra de milho, prevista para o início de fevereiro e meados de março, uma vez que o milho é plantado depois a colheita da soja.

MERCADO MUNDIAL
Amélio Dall-Agnol diz que a crescente valorização e importância da soja no mundo se deve à melhoria do poder aquisitivo da população global, que acaba inserindo mais alimentos na mesa das pessoas, com destaque para os índices de crescimento da China e da Índia, países superpopulosos. A procura pela soja está associada ao aumento de consumo de carnes, e ela alimenta esses rebanhos.

O Brasil tem ainda muita área disponível para aumentar a produção e conta com apenas dois concorrentes significativos, os Estados Unidos e a Argentina, que, segundo Dall-Agnol, não têm tanta possibilidade de aumentar a área. “Demonstramos a capacidade de produzir em zonas tropicais, novidade no mundo, já que essas regiões são geralmente pobres, com baixa produtividade. O Brasil importava comida até os anos 1970 e hoje é o segundo mair exportador de alimentos, caminhando dentro de uma década para liderar o mercado de alimentos.”

Segundo o pesquisador, até os anos 1980, o cultivo do grão se restringia aos três estados do Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná). A partir dos anos 2000, avançou sobre região do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, e, posteriormente, para Minas Gerais e os estados do Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul).

Histórico da soja no Brasil

A soja é uma cultura de grande importância econômica para o Brasil, sendo a principal cultura do agronegócio brasileiro. Ela é uma planta originária da região denominada Manchúria, que fica no Nordeste da China. Foi trazida para a Europa no século 17, durante o período conhecido como o das grandes navegações, onde permaneceu por mais de 200 anos apenas como curiosidade botânica, nos jardins botânicos das cortes europeias. Chegou aos Estados Unidos da América por volta do ano 1890, onde era cultivada como forrageira. Na década de 1940, a soja chegou ao Paraguai e na década de 1950, ao México e à Argentina.

A primeira referência sobre soja no Brasil data de 1882, na Bahia, em relato de Gustavo D’utra. As cultivares introduzidas dos Estados Unidos não tiveram boa adaptação numa latitude em torno de 12 graus Sul (Bahia). Mais tarde, em 1891, novas cultivares foram introduzidas na latitude 22 graus Sul (Campinas), apresentando melhor desempenho. As cultivares mais específicas para consumo humano foram trazidas pelos primeiros imigrantes japoneses em 1908. Entretanto, oficialmente, a cultura foi introduzida no Brasil no Rio Grande do Sul, em 1914, na chamada região pioneira de Santa Rosa, onde foram iniciados os primeiros plantios comerciais a partir de 1924.

Um importante papel no progresso da soja no Brasil deve ser creditado, também e obviamente, aos diversos programas de melhoramento genético. Como exemplo desse trabalho, no início da década de 1970, a Secretaria de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul e o Instituto de Pesquisa Agropecuária do Sul (IPEAS) lançaram as primeiras cultivares brasileiras originadas de cruzamento em material introduzido principalmente do Sul dos Estados Unidos.

No Brasil, a grande expansão teve início a partir da década de 1970 e, na última safra, de 2015/2016, a produção foi de 95,4 milhões de toneladas. As estimativas para a safra 2016/2017 variam entre 101 e 104 milhões de toneladas, o que vai depender da produtividade dos campos nessa safra vindoura.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial e, entre os grandes produtores (EUA, Brasil e Argentina), é o que tem o maior potencial de expansão em área cultivada, podendo, se depender das necessidades de consumo do mercado, mais do que duplicar a produção. Assim sendo, em um curto prazo, o Brasil pode constituir-se no maior produtor e exportador mundial de soja e seus derivados. Os principais estados produtores são Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso do Sul.

No Brasil, o consumo de soja diretamente na alimentação humana ainda é muito restrito. Apenas 3,5% da produção, em média, simplesmente por não fazer parte do hábito alimentar do brasileiro. Ao contrário do que ocorre em diversos países orientais, cujo consumo é verificado há pelo menos 3 milênios. Assim sendo, a conscientização do mercado consumidor brasileiro em relação aos benefícios dos alimentos funcionais demanda uma série de pesquisas com novas cultivares e novos produtos à base de soja, em busca de qualidades organolépticas adequadas ao nosso paladar, verticalizando a cadeia produtiva.

*Blog da Empraba Soja