Quatro a cada dez empresas fechadas temporária ou definitivamente no país, até a primeira quinzena de junho, justificaram a situação com base nas restrições impostas pelo novo coronavírus. Na ponta do lápis: de um total de 1,3 milhão de negócios parados, consultados na pesquisa “Impacto da Covid-19 nas Empresas”, do IBGE, divulgada ontem, 512 mil não sabiam se reabririam ou já haviam desistido de fazê-lo por causa dos efeitos econômicos da doença.

O estudo também mostra que esse grave sintoma da crise atual (o encerramento de operações) era disseminado em todos os setores. Chegava a 40,9% no comércio, a 39,4% nos serviços, a 37% na construção e a 35,1% na indústria.

Enquanto isso, na capital, prosseguia, também ontem, a “guerra” entre entidades de comércio e serviços – mais precisamente, representantes de segmentos impedidos de funcionar há mais de três meses – e a prefeitura, que chegou a divulgar, esta semana, polêmicos protocolos para possível volta de estabelecimentos como bares, restaurantes e lojas de calçados e vestuário - mas sem definições de datas.

Em entrevista conjunta, pela manhã, os presidentes da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, não pouparam críticas ao Executivo municipal. Voltaram também a cobrar ações urgentes para a flexibilização das atividades e apresentaram números sobre a penúria de empresários. 

Silva, por exemplo, disse que cerca de 140 mil pessoas poderão perder o emprego no comércio de BH até o fim da pandemia, caso não haja um programa imediato e consistente para a reabertura de lojas. No comércio de BH, responsável por mais de 70% do PIB da cidade, 7,2 mil empresas teriam encerrado as atividades de maneira definitiva apenas de março a junho, de acordo levantamento da CDL na Junta Comercial do Estado.

Para o dirigente, o problema cresceu por falta de investimentos na criação de novos leitos, especialmente pela PBH. “Queremos saber qual é o cronograma de abertura de leitos. É isso que importa para retomarmos o comércio. O prefeito virou as costas para o comércio de BH.”, afirmou.
Em nota, a PBH informou que, desde o início da pandemia ampliou em mais de 520% a oferta de leitos Covid, com aberturas e remanejamentos.

Em relação aos bares e restaurantes, que operam apenas com delivery ou retiradas, a Grande BH perdeu 40 mil empregos de março a junho, informou a Abrasel. “Nossa estimativa é que, até a reabertura, chegaremos a 60 mil demissões. Ou seja, praticamente 50% da força de trabalho perdida”, afirmou Paulo Solmucci.

O empresário solicitou um cronograma de reabertura na capital, mas disse não acreditar que a PBH o atenda. “Demos um basta na prefeitura. Vamos fazer uma proposta pública de reabertura da atividade econômica com a sociedade”, informou, sem dar detalhes. Segundo Solmucci, uma manifestação será organizada na Praça da Liberdade, na região Centro-Sul, na quarta-feira (22), cobrando uma posição da PBH.

Dados da Junta Comercial mostram que, de março a junho, 13 mil empresas de diversos setores foram extintas em Minas; esse número foi 6% maior que o registrado no mesmo período de 2019 (12.229)

Donos de bares consideram inviável protocolo da prefeitura

Donos de bares e restaurantes em Belo Horizonte classificaram como “inviável” o protocolo elaborado pela prefeitura para a reabertura dos estabelecimentos, após a redução dos casos de Covid-19 na cidade. Para os comerciantes, as regras podem prejudicar ainda mais os negócios, levando as empresas à falência. Eles também criticaram o fato de que a mesma rigidez não foi adotada em alguns serviços essenciais, como supermercados e farmácias.

Na noite de quarta-feira (15), a prefeitura de BH publicou comunicado com as normas a serem adotadas. As medidas de segurança limitam a capacidade a uma pessoa a cada sete metros quadrados, incluindo o funcionário, além de mesas com no máximo dois clientes. O uso de calçadas será permitido, mas é preciso uma licença do órgão fiscalizador.

Na capital, os estabelecimentos estão fechados há 119 dias e sem previsão de retorno das atividades. 

No Paracone, tradicional restaurante da região Leste da metrópole, o plano de reabertura foi avaliado como “absurdo” pelo proprietário, Lindoval Conegundes, de 52 anos. “Seria para acabar de quebrar”, afirmou.

Funcionando há 31 anos na avenida Brasil, a casa recebia só durante o almoço cerca de 250 pessoas. Caso seguisse à risca os limites de isolamento, Conegundes calcula que esse número seria reduzido a 35, contando os funcionários. Antes da pandemia, dez colaboradores cuidavam do atendimento ao público. “Faltam critérios plausíveis. As regras não são tão rígidas, por exemplo, para os bancos, supermercados e farmácias”.

Se a prefeitura manter as normas, o dono do Paracone garante não reabrir para receber clientes. “Vou continuar apenas com o delivery e take away (quando o consumidor pega a comida na porta)”, diz o empresário, que teve queda de 85% no faturamento. Por causa da crise, ele já demitiu 16 funcionários. (Renata Evangelista)