A virada ocorreu após um ano atípico na história de 21 anos do fundo Verde, o mais famoso da Verde Asset Management
Uma mudança de diagnóstico sobre a economia brasileira provocou uma guinada na Verde Asset Management, que tem R$ 33 bilhões em ativos sob gestão. A gestora, que expôs, nos últimos anos, uma visão negativa sobre ativos domésticos a partir de declarações do sócio fundador Luis Stuhlberger, está, agora, otimista com o cenário econômico para o Brasil, ao menos de curto prazo.
"Está difícil construir um argumento muito pessimista em relação ao crescimento do País hoje", disse o estrategista da gestora, Luiz Parreiras. A virada ocorreu após um ano atípico na história de 21 anos do fundo Verde, o mais famoso da gestora. Em 2017, ele não só perdeu para o CDI, indicador de referência para aplicações conservadoras, como teve a pior relação risco-retorno na lista dos dez maiores fundos multimercados do Brasil. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Qual a visão atual da gestora sobre o Brasil?
No terceiro trimestre do ano passado, mudamos para uma visão bastante construtiva para o Brasil, calcada em alguns pilares. Um deles era o pano de fundo global que era muito bom, com crescimento robusto e consistente em várias regiões, juros em geral estáveis e inflação baixa. Naquele momento, não havia pressões inflacionárias, o que agora é um ponto de atenção. Na parte doméstica, o Brasil estava dando sinais de saída da recessão. A inflação no Brasil caiu muito e muito rapidamente.
E como a nova visão se reflete na estratégia de investimentos?
Essa visão permanece neste começo de 2018 e posicionamos os fundos de maneira mais positiva em relação ao Brasil. Passamos a ter uma posição comprada maior em ações brasileiras. Em junho, estava em praticamente zero e hoje está em cerca de 9% do fundo. É o maior patamar em quase quatro anos. Em outros tempos, já chegou a ser de 50%, como na época da crise de 2009, quando os preços estavam muito baratos. Estamos comprados no real e apostamos no mercado de juros futuros. Entendemos que as taxas entre 2021 e 2026 podem cair. A curva futura está bastante inclinada e precifica juros (no caso, a taxa básica) próximos de 10%. Se a Selic vier a subir, será menos do que está precificado na curva.
Vocês acreditam em novo corte da Selic na reunião de março?
O mercado diz que a probabilidade de cair mais uma vez é razoavelmente alta. É de 80%, e concordamos com isso.
A gestora demorou, mais que outras casas, para aproveitar a alta da Bolsa brasileira. A posição em Bovespa não deveria estar maior? Ou está caro?
Não é que está caro, mas não está muito barato. Outro ponto é que, apesar de estarmos mais otimistas com o curto prazo, a nossa visão de longo prazo é mais cética. Para crescer mais de 2,5% ao ano por um período longo, é preciso fazer reformas que melhorem a produtividade. Além disso, o País tem um problema fiscal estrutural, que demanda reformas. Sem essas duas coisas é difícil ter otimismo de crescimento no médio e longo prazo.
A gestora prevê um crescimento em 2019 tão forte quanto em 2018?
Não vejo muita gente pessimista em relação ao crescimento de 2019. O que vejo é gente mais otimista que nós para 2018, o que faz com que o crescimento do ano que vem seja ainda maior. Prevemos alta de 2,5% neste ano. Como tem um evento antes, que é a eleição, fica difícil fazer projeção. Com o juro a 6,5%, há sim a possibilidade de o crescimento surpreender para cima. Hoje é difícil construir um argumento muito pessimista em relação ao crescimento.
Quais os riscos para essa visão construtiva de Brasil?
Uma das razões de nosso otimismo é o cenário externo robusto, que tem alguns riscos. Se a inflação surpreender sistematicamente para cima, os bancos centrais provavelmente vão ter de apertar as políticas monetárias de maneira mais agressiva, o que tende a desacelerar o crescimento. Por enquanto, não vemos evidências de que isso vá ocorrer. O segundo risco é em relação ao crescimento global. Se o ritmo desacelerar, um dos pilares do otimismo, sobretudo com bolsas, deixa de existir.
E agora há também os efeitos de uma eventual guerra comercial internacional, com as sobretaxas do governo americano.
É um fator exógeno que complica o cenário. É um fator de risco que é muito difícil de prever. Historicamente, uma guerra comercial eleva a chance de desaceleração do crescimento global. A incógnita é o impacto nos emergentes.
Com informações do Estadão Conteúdo.