Emprego


Nos últimos meses, o Fórum Nacional de Secretarias Estaduais do Trabalho (Fonset) pedia acesso aos dados do emprego no Brasil. De janeiro a abril, as tabelas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), principal medidor do mercado formal no país, ficaram em branco, voltando a ser atualizadas em maio, menos detalhadas que antes. Os dados mostram que as demissões caíram pelo quarto mês seguido, mas ainda se mantém em patamar altíssimo: o saldo que ficou negativo em 918.286 vagas em abril involuiu para -10.984 em junho.


Segundo o presidente do Fonset e secretário do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia, Davidson Magalhães, a ausência dos dados do Caged impedem o acompanhamento das vagas formais. “Os resultado da Pnad serão fundamentais porque, no caso do Nordeste, o trabalho informal supera, agora, o formal. Apenas com o Caged, não temos uma visão correta sobre as ocupações”, diz, se referindo à Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio, do IBGE.


Economista da Fecomércio Pernambuco, Rafael Ramos lembra que os dados oficiais ficaram restritos apenas aos grandes setores econômicos - indústria, agropecuária, comércio e serviços -, limitando que levantamentos “manuais” que eram feitos antes com informações da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (Cnae). Para Ramos, a ausência de dados dificulta eficiência de políticas públicas de geração de emprego e renda. “Com análises específicas, conseguíamos acompanhar setores como turismo e cultura, que fazem parte do conjunto da Fecomércio. Antes, verificávamos se as vagas fechadas eram temporárias, como estoquistas, ou se eram mais específicas, como vendedores. Agora, não mais, porque eles informam apenas o geral”.


O acesso a dados oficiais e a transparência desses são as melhores bases para a formatação de políticas públicas. Mas na ausência de informações é possível usar cenários anteriores para criar estimativas. Como explica o economista e professor da Unit-PE, Edgard Leonardo, as projeções usam parâmetros e requerem muito mais trabalho, mas podem ser referências. “Pode-se estudar o impacto do PIB (Produto Interno Bruto): se ele vinha caindo 3,5%, quanto seria o impacto de uma queda de 6%?”, exemplifica.


Com o enfraquecimento do mercado de trabalho, cai a renda média do trabalhador. “Houve uma sinalização de que a renda média tinha crescido, mas isso aconteceu porque o número de pessoas que procuram emprego diminuiu e, no Brasil, se o trabalhador não procura emprego ele não entra na estatística. A massa de salários caiu. Principalmente as pessoas que ganham menos estão relacionadas a comércio, a serviços, aqui na BA representa 70% da geração de emprego e renda. E isso teve um baque muito grande na pandemia”, diz Magalhães.


Interlocução


Além do Trabalho ter perdido status de ministério na atual gestão, há dificuldade de interlocução com o Governo Federal. Na última semana, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) propôs um “pacto nacional pelo emprego”, publicou a Folhapress. A proposta uniria governos federal e estaduais, além de empresários e sindicatos, na busca por soluções para a retomada da economia no período pós-pandemia, e estancaria o crescente fechamento de vagas de trabalho. A apoiadores, na entrada do Palácio da Alvorada, o presidente deixou claro que rejeita a ideia, e a ironizou.


“Tem governador agora que quer que eu faça um pacto pelo emprego, mas ele continua com o estado dele fechado”, disse, referindo-se às medidas de isolamento adotadas no Maranhão, em decorrência da pandemia do novo coronavírus.


Pelo Twitter, o governador rebateu dizendo considerar que “o desemprego não é assunto a ser tratado com ironias”. “Espero que o presidente da República leve a sério a urgência de ações efetivas. É impossível tratar do tema no ‘cercadinho’ do Alvorada. Por isso, insisto na ideia do pacto nacional pelo emprego”, postou.