A recessão de 2015/16 resultou de uma crise política interna combinada a forte turbulência externa, uma equação que pode se repetir em 2019
Até o início deste ano, a recaída do Brasil na recessão era uma hipótese remota. Agora, com os últimos indicadores, é uma possibilidade a temer. Subiu o risco de piora da economia, com interrupção da tênue recuperação em curso. E a volta do PIB ao terreno negativo. O Brasil pode não estar à beira de uma nova crise aguda, ainda, mas pode estar caminhando para isso.
Em estudo divulgado mês passado, técnicos do Ministério da Economia previram que, sem reforma previdenciária e ajuste das contas públicas, o país entra em recessão “a partir do segundo semestre de 2020, caminhando para perdas comparáveis às ocorridas de 2014 a 2016″, período em que a economia encolheu 7%. Nas projeções do governo, no cenário sem-reforma, o PIB cresceria em 2019 apenas 0,8% e no próximo ano cairia a 0,3%, já embicando para o terreno negativo a partir de 2021 e aí permanecendo até 2023. Ou seja, três anos no vermelho.
O governo não aposta no pior, claro. O cenário sombrio só foi divulgado para lembrar ao Congresso a importância do ajuste fiscal (e da reforma previdenciária) para a economia. Uma chantagem. Mas, de todo modo, as projeções oficiais reconhecem os riscos recessivos no horizonte. Riscos que, numa visão realista, passaram a ser expressivos a partir do final do ano passado, quando a economia sofreu uma brusca desaceleração e frustrou quem apostava numa decolagem depois das eleições.
A economia perdeu tração em 2019, como mostra a indústria: o setor crescia em julho a 3,3% anuais e em dezembro baixou a 1,1%. A reação econômica está sendo mais uma vez adiada. Os analistas de mercado, otimistas por ofício, ainda falam em expansão de 2% para o PIB neste ano (já apostaram em 3%). Mas o realismo indica ser mais provável uma continuidade da estagnação, com o país andando de lado pelo terceiro ano seguido se escapar de uma nova espiral de queda de produção e empregos.
Não se vê nada hoje que estimule a economia no curto prazo. O agronegócio antes próspero empacou no ano passado (mais 0,5%). Oxalá não caia este ano: a Conab prevê uma safra 3,3% menor para soja, o principal produto do setor. O desemprego que inibe o consumo subiu no país, de 11,6% no trimestre encerrado em dezembro para 12% no trimestre até janeiro. O comércio internacional que sustenta nossa moeda está ficando mais difícil com a perda de gás dos principais países, inclusive China, maior cliente do Brasil. Hoje, faltam boas notícias econômicas
Em produtores de commodities como o Brasil os riscos de recessão interna geralmente são condicionados ao cenário externo. Se não vierem tsunamis de fora, o Brasil pode continuar como está ou melhorar um pouco, mesmo se o governo Bolsonaro for mal. Porém, se houver fortes instabilidades no mercado internacional, o efeito tende a ser desastroso na economia nacional, que ainda não se recuperou do impacto das ondas anteriores. A recessão de 2015 e 2016 foi resultado da combinação de uma crise política interna com uma grande turbulência externa. Em 2019, depois do escândalo ‘golden shower’ e dos alertas do FMI, já se vislumbram as condições para a mesma equação se repetir.