A Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) verificou uma queda de 52% do faturamento do setor na segunda quinzena de março, quando a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus se instalou no país. Conhecida como capital mundial dos bares, Belo Horizonte tem sofrido um impacto ainda maior. O Sindbebidas, o sindicato ligado à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais  (Fiemg) que representa as cervejarias industriais no Estado, estima uma queda de 90% do faturamento.

"Nosso quadro é caótico. Já vínhamos de um impacto muito grande do caso Backer, com uma perda de crescimento significativo e, depois, com as chuvas intensas. E quando estávamos nos recuperando, veio esse coronavírus e nosso faturamento caiu vertiginosamente, na faixa de 90%. As cervejarias tinham vários pontos de venda e ninguém está vendendo. O produto está totalmente parado nos tanques", ressalta o vice-presidente do Sindbebidas, Marco Falcone, que também é dono da Cervejaria Falke e diretor da Associação Brasileira de Cervejas Artesanais (Abracerva).

A paralisação da produção implica diretamente na mão de obra. "Colocamos 80% dos funcionários em férias. Estamos agora verificando o que fazer com os que vão voltar de férias, alguns terão que ser demitidos", lamenta. Não há uma perspectivas para a reabertura de bares e restaurantes em Belo Horizonte.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), juntamente com outros sindicatos dos setores de varejo e lojas, estudam uma proposta escalonada de reabertura do comércio para apresentarem à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Não há, no entanto, uma perspectiva para colocar a ideia em prática.

Alternativas

Com um aluguel mensal de R$ 25 mil, o restaurante Krug Bier decidiu mudar do tradicional endereço, no bairro São Pedro, para um imóvel mais barato, também na região da Savassi. "Não chegamos a um acordo com o dono do imóvel e estamos mudando de endereço, mas não sabemos quando vamos voltar a trabalhar. Não vamos fechar", explica o proprietário do restaurante Bernardo Barbosa.

 

O espaço, que paralisou as atividades no dia 15 de março, não trabalha com delivery, serviço que é feito apenas pela fábrica. Por causa da crise, o restaurante precisou dispensar 15 dos 30 funcionários diretos. Desses 15, apenas dois estão trabalhando e os demais tiveram os contratos de trabalho suspensos. "Estamos com 35 dias parados e zero receita. Esses são os funcionários fichados, foram os indiretos. Optamos por não fazer entregas de comida. Tem muita gente desesperado fazendo o delivery, mas a matemática não fecha", pondera o proprietário. Em dias movimentados, o Krug Bier chegava a receber 400 clientes.

Criatividade

Localizado no bairro de Lourdes, o Hofbräuhaus apelou para ações criativas na tentativa de minimizar os impactos da crise. O restaurante está aceitando pedidos e fazendo a entrega dos crowlers (latas de cerveja de 710 ml, abastecidas e lacradas na hora). A iniciativa fez sucesso e foi preciso pedir mais embalagens. O estabelecimento também resolveu vender vouchers para consumo futuro. Um desses cupons, por exemplo, o de R$ 100, dá o direito a consumir R$ 140 quando a casa reabrir. Quem adquire o voucher também concorre a uma viagem para a Oktoberfest de 2021, em Blumenau (SC), com um acompanhante.

"Venho conversando com parceiros estratégicos. A intenção é mostrar que o restaurante e as indústrias, se não estão adequadas, estarão adequadas às mudanças, com cooperações de higiene. Outra forma é tentar jogar o preço lá embaixo, trazendo informações sobre cerveja e cultura alemã. Mas isso é um resultado a longo prazo. Enquanto você está parado, tem que tentar posicionar a sua marca da melhor forma", destaca o sócio Bruno Vinhas.

Sem bares e de restaurantes para pedir aquela cerveja gelada, os consumidores em isolamento se concentram nos pedidos pela internet. E-commerces e deliveries de bebida registraram um aumento de até 50% nos serviços. O aumento na demanda,  no entanto, não compensa a queda nas vendas decorrente do fechamento de bares e restaurantes. (Com agências)