RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras elevará o preço do diesel nas refinarias em quase 9% a partir de quarta-feira, após 85 dias de estabilidade, informou a companhia em nota, frisando que o movimento é importante para garantir o abastecimento do combustível no país.

Com o ajuste, o valor médio do diesel vendido pela companhia a distribuidoras passará de 2,81 reais para 3,06 reais por litro, refletindo reajuste médio de 0,25 real por litro. Já a gasolina foi mantida estável.

Com o movimento, os preços médios de diesel e gasolina da Petrobras acumulam alta de mais de 50% neste ano.

O ajuste vem após o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, convocar uma rara coletiva de imprensa virtual na véspera, quando voltou a explicar a composição dos preços dos combustíveis no país. No evento, um executivo da estatal disse que a empresa avaliava a realização de um reajuste.

O Brasil não consegue produzir todo o combustível que consome, dependendo então de volumes de importação para atender ao mercado.

"Esse ajuste é importante para garantir que o mercado siga sendo suprido em bases econômicas e sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros produtores, além da Petrobras", disse a empresa.


"Reflete parte da elevação nos patamares internacionais de preços de petróleo e da taxa de câmbio."

O petróleo Brent, referência global para o mercado, subiu cerca de 52% no acumulado do ano.

 

PRESSÕES

A estatal e o governo têm reiterado que a Petrobras possui liberdade para ajustar preços, conforme estratégias de mercado, mas ambos vêm sofrendo forte pressão por segmentos da sociedade que questionam os fortes avanços, que ocorrem como reflexo do mercado internacional.

Nesta terça-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira, publicou nas redes sociais que buscará alternativas para os preços de combustíveis.

"Amanhã, vamos colocar alternativas em discussão no Colégio de Líderes. O fato é que o Brasil não pode tolerar gasolina a quase 7 reais e o gás a 120 reais", disse Lira, que se referiu aos valores cobrados aos consumidores finais. Ele também tem cobrado explicações de Luna sobre o avanço dos valores nas refinarias.

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O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, reiterou nesta terça-feira que o preço dos combustíveis é dado pelo mercado e que o governo vem trabalhando junto ao Congresso Nacional em medidas que possam reduzir impostos.

"Os combustíveis sobem de preço quando há escassez de petróleo (no mundo), e é isso que está ocorrendo... Os preços só vão cair quando tivermos mais produção (de petróleo), mais refinarias e mais investimentos. E é isso que estamos fazendo. Estamos fazendo pelos últimos 1.000 dias e continuaremos fazendo", afirmou.

O governo vem trabalhando para uma abertura do mercado de refino, que permita mais investimentos e competição, a partir de uma redução da presença da Petrobras, que colocou à venda todas as suas oito refinarias fora do Sudeste. Duas unidades já foram vendidas, e os acordos caminham para conclusão.

Albuquerque deu a declaração a jornalistas ao participar de evento para a assinatura de contrato para cessão do projeto Fosfato de Miriri, no Nordeste, onde também afirmou acreditar que o Brasil vai se tornar menos dependente da importação de fertilizantes.

Na véspera, a Reuters publicou que o presidente da Petrobras manteve contato recentemente com autoridades, incluindo Lira, que buscam alternativas para "amortecer" o preço dos combustíveis.

Uma das opções, segundo fontes, é o uso de um fundo com recursos do pré-sal para um programa de subsídios que aliviem reajustes aos consumidores, mas haveria necessidade de aprovação do Poder Legislativo.

DEFASAGEM

O repasse do aumento da Petrobras para as bombas, nos postos, depende de uma série de questões, como margens de distribuidoras e revendedoras, misturas de biodiesel, assim como tributos.

A defasagem do diesel da Petrobras ante o mercado internacional, no fechamento da véspera, estava em 15%, segundo cálculos da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom).

"O reajuste anunciado de 0,25 real/litro, quando a defasagem média está em 0,50 real/litro, mostra que ficar 85 dias sem ajuste não é a melhor prática. Mercados mais maduros fazem reajustes mais frequentes", afirmou à Reuters o presidente da Abicom, Sérgio Araújo.

Araújo ponderou, no entanto, que o anúncio da petroleira "sinaliza sua autonomia".