INFLAÇÃO


Os preços da carne mostram queda na Região Metropolitana de Belo Horizonte, mas o recuo é leve, restrito, e não deve deixar o consumidor animado. O custo para colocar a proteína na mesa continua alto e a proximidade das festas de fim de ano deve ajudar a manter o produto caro, tendo em vista a elevação tradicional da demanda nessa época do ano. As expressivas diferenças das tabelas do comércio para os mesmos cortes também requerem atenção e pesquisa. Segundo  levantamento divulgado ontem pelo site de pesquisas de preços Mercado Mineiro , o acém bovino barateou 1,92%, encontrado ao preço médio de  R$ 30,86 o quilo na última quinta-feira, ante R$ 31,46 em 24 de setembro, portanto, há 21 dias.
 

O quilo da chã de fora, que estava cotado ao preço médio de R$ 38,41 no fim do mês passado, teve redução para R$ 37,86, diferença de 1,46%. No caso da fraldinha, houve diminuição de 1,95% entre os preços médios de R$ 36,35 no fim de setembro e R$ 35,54 o quilo na semana passada. O preço do contrafilé caiu de R$ 46,22 para R$ 45,65, sendo 1,23% a menos. A pesquisa foi realizada entre os dias 13 e 15 deste mês em 30 estabelecimentos da Grande BH pelo Mercado Mineiro e  o aplicativo comOferta.com.
  
Para a carne suína, o site indica, na prática, a manutenção do preço médio para alguns cortes e aumento para outros. O preço do quilo da bisteca, por exemplo, variou 0,57% no período da pesquisa, de R$ 19,09 para R$ 19,20. O quilo do pernil sem osso barateou 0,41%, de R$ 19,21 para R$ 19,13. O custo da costelinha subiu 0,91%, de R$ 22,64 para R$ 22,85. O preço do quilo da salsicha também subiu, de R$ 11,01 para R$ 11,16, acréscimo de 1,40%.
 
Ainda é cedo para avaliar o movimento dos preços da carne bovina como tendência de queda, alerta o economista e coordenador do Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, lembrando a influência típica das festas de fim de ano. “Comparada com a pequisa de 21 dias atrás, a carne bovina continua cara, mas os preços estão caindo”, diz. As carnes sofreram reajuste médio de 20,42% nos últimos 12 meses terminados em setembro, na Grande BH, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ante alta de 10,30% do Índice Naconal de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
 
Um dos fatores aos quais ele atribui a redução é o sumiço da clientela dos açougues. Para atrair clientes, os preços precisam diminuir. O outro fator surgiu no início de setembro, quando dois casos do mal da vaca louca foram descobertos em frigoríficos de Belo Horizonte e Nova Canaã do Norte (MT). As exportações de carne para a China foram suspensas. À época, a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) explicou que se tratava de casos atípicos da doença, de duas vacas de idade avançada, classificadas para descarte, e que estavam deitadas nos currais. Não havia risco para a saúde humana e nem dos outros animais.
 
O consumidor deve observar, na avaliação de Feliciano Abreu, que os níveis dos preços ainda estão elevados e que é preciso pesquisar e até pechinchar quando possível. “A notícia é boa porque estávamos tendo aumentos consecutivos da carne desde o início da pandemia. A carne de boi vem liderando os aumentos, e quando a gente verifica nos últimos 21 dias e vê quedas de 2% do preço médio é muito satisfatório. Claro que ainda está muito distante da realidade do consumidor, a carne ainda está muito cara”, afirma.

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A técnica em enfermagem Aparecida Helena Pereira diz que preços estão elevados em toda a cidade

(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


A técnica em enfermagem Aparecida Helena Pereira, de 43 anos, observa de perto a elevação dos preços. “Tem diferença sim, principalmente a carne de segunda. Achei que o preço subiu bastante, mais de 50%. Houve uma alta e se manteve, mas pelo visto não vai abaixar”, disse ao Estado de Minas após fazer as compras em um açougue no Centro da capital.
 
Moradora do Bairro Vitória, na Região Nordeste, ela diz que as compras não pesam muito porque, por morar sozinha, consegue controlar melhor os gastos. Ainda assim, ela percebe que algumas vezes nem a pesquisa tem funcionado. “Não estou vendo diferença de preço em lugar nenhum, na cidade toda. Quem tem mais gente em casa e demanda maior, tem que substituir, inventar, fracionar, inventar prato. É o jeito”, diz.


Sem alternativa

As aves, que foram o plano B de parte da população diante da alta do preço da proteína bovina, têm preço médio alto e estável, segundo a pesquisa do Mercado Mineiro. O quilo do frango resfriado foi encontrado na semana passada ao custo de R$ 11,61, ligeira redução de 0,26% frente ao preço médio de 24 de setembro, de R$ 11,64.   O consumidor tem de ficar atento à disparidade dos preços nos açugues da Grande BH.
 
O preço do quilo do frango resfriado tem variação de 57%, custando de R$ 9,50 a R$ 14,95. O quilo do filé de peito pode ser encontrado em larga faixa, variando de R$ 14,98 a R$ 25,90, diferença de 72%. O quilo da coxa e sobrecoxa está custando de R$ 10,99 a R$ 15,95, variação de 45%. O preço médio das peças subiu de R$ 12,86 para R$ 12,94, aumento de 0,59%.
 
O pé de frango, uma das partes menos nobres da ave, mas que tem sido buscada pela população de baixa renda, a mais sacrificada pela inflação alta, hoje pode custar de R$ 5,99 a R$ 13,99. A pesquisa também conferiu o preço do pescoço de peru. O quilo na Grande BH pode custar de R$ 17,99 a R$ 25, variação de 39%.


As diferenças entre os preços da carne bovina são ainda maiores na Grande BH. Um dos exemplos é o quilo da fraldinha, que chega a variar 239%, custando de R$ 24,99 a R$ 84,95. A disparidade de preços do quilo do contrafilé é de 116%, com preços entre R$ 36,99 e R$ 79,95. O quilo da alcatra custa de R$ 36,95 a R$ 69,95. A chã de fora é encontrada de R$ 29,99 o quilo até R$ 52,90 em alguns estabelecimentos, variação de 76%. Entre os cortes de porco,  o quilo de bisteca varia 246%, podendo custar de R$ 12,99 a R$ 44,95.

 

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Confira as variações nos preços das carnes praticados em BH(foto: Arte EM)


 
Peixes e ovos têm diferença de 80%
 
O site Mercado Mineiro conferiu os preços dos peixes e ovos para quem busca alternativa às carnes vermelha e de frango. As variações de preços entre os estabelecimentos também são significativas. “O quilo do filé de surubim pode custar de R$ 49,90 até R$83,90, diferença de 68%. O quilo da traíra foi encontrado de R$ 25,90 a R$ 45, acréscimo de 73%. O quilo do salmão custava, na semana passada, de R$ 54,90 até R$ 99,90, variação de 82%.
 
Na pesquisa dos preços dos ovos, a dúzia do produto  branco pode custar de R$ 7,99 a R$ 12,99, representado 62% a mais. O coordenador do Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, destaca fatores que devem manter altos os preços das carnes, inclusive aquelas típicas do fim de ano.
 
“Temos que lembrar que o período de final de ano tem tradicionalmente mais churrascos, mais festas, e com a volta do relacionamento (devido ao avanço da vacinação contra a COVID-19), teremos, com certeza, mais celebrações. Embora a gente saiba que, por outro lado, as pessoas também não têm dinheiro para ficar comprando picanha pra churrasco”, diz Feliciano Abreu.
 
Ele lembra da parcela que o custo da produção tem nesse cálculo. “Os produtores reclamavam muito do preço da soja, do milho, e o governo federal reduziu o imposto, principalmente do milho. Isso favorece o custo de produção, mas tudo isso é a longo prazo. Não é do dia para a noite que temos uma mudança dos preços”, avalia.
 
Diante do cenário ainda incerto, o coordenador do site de pesquisas dá um panorama das proteínas que ainda são boas alternativas à carne bovina. “As melhores opções para o consumidor, sem dúvida nenhuma, ainda são as carnes de porco e frango. O frango aumentou muito nos últimos meses, mas ele ainda é muito barato porque está muito distante da carne de porco, e muito mais ainda da carne de boi. O porco também tem tido quedas”, afirma.