Funcionários da Caixa Econômica Federal de todo o país, que estavam no regime de trabalho remoto, foram convocados para retornar às atividades presenciais a partir de segunda-feira (29). A decisão contraria acordo coletivo, entre bancos públicos e privados, que previa o retorno das atividade para o início de setembro. Sem um comunicado formal que explique os motivos da decisão, funcionários foram pegos de surpresa e denunciam a falta de transparência da instituição. 

“Fomos convocados através de chamadas no Whatsapp com conversas informais, mensagem por Skype de nossos supervisores e coordenadores sem explicações sobre o motivo do retorno, apenas ‘é ordem de Brasília’", conta um funcionário de uma agência em Belo Horizonte, que preferiu não se identificar.

Segundo esse funcionário, somente no setor em que atua serão 70 pessoas que vão retornar ao trabalho presencial, em um ambiente fechado, sem o distanciamento adequado entre as estações de trabalho. 

“Não houve negociação com o movimento sindical e muito menos informação sobre testagem dos empregados, que dividirão o ambiente de trabalho, ou de fornecimento de equipamentos de proteção, como máscaras ou álcool em gel”, diz o bancário.

Outra reclamação da categoria é a respeito da mudança de protocolo do banco a trabalhadores do grupo de risco. “Nem mesmo o grupo de risco foi respeitado. A Caixa editou seu protocolo e retirou hipertensos que têm a doença controlada por medicação do grupo”, relata o funcionário. 

Contraditoriamente, na quarta-feira, em entrevista ao canal de televisão CNN, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, elogiou o desempenho do home office na instituição.  "Posso adiantar para vocês, estávamos discutindo hoje: vamos expandir o home office para depois da pandemia", disse Guimarães. Elogiou a eficiência do trabalho, especialmente, os segmentos que não têm contato direto com o público. 

Em razão disso, os funcionários escreveram uma carta endereçada ao presidente cobrando explicação dessa mudança de discurso repentina e o porquê de não continuar o isolamento, como os bancos privados vêm cumprindo. A categoria, agora, organiza um abaixo-assinado para tentar impedir o retorno imediato.

Para a presidente do Sindicato do Bancários de Belo Horizonte, Eliana Brasil, a Caixa está indo na contramão da realidade epidemiológica do país. “Estamos vivendo um momento crítico da pandemia. É um descaso o que a Caixa está fazendo com seus funcionários. Um desprezo pela vida”, diz a representante. 

Ela considera que a instituição também agiu de má-fé. “Não tem um comunicado formal desta convocação, fizeram ligação telefônica aos funcionário, o que impede que entremos com um mandado de segurança na Justiça, por exemplo”, comenta. 


O que diz especialista


Na avaliação de Viviane Alves, professora do Departamento de Microbiologia da UFMG, ainda não é o momento de retomada do trabalho presencial, principalmente, para atividade não essenciais. “Ainda é muito cedo para aglomerar pessoas em qualquer lugar”, comenta.  “A gente está num momento em que tem uma alta taxa de transmissibilidade. Estamos vendo as confirmações dos casos só aumentarem e os números de mortes também”, afirma a docente. 


Minas Gerais vem se aproximando da marca das 1 mil mortes por COVID-19. No último boletim divulgado pela Secretaria de Saúde e Estado (SEE), nessa quinta-feira, 806 pessoas  perderam a vida em decorrência da doença no estado. Ao todo, Minas  já contabiliza 32.769 casos da doença. 


O sistema de saúde beira o colapso. Em Belo Horizonte, a taxa de ocupação de leitos ultrapassou os 85%, no estado o índice passa dos 90%.  


O que diz a Caixa


A reportagem pediu um posicionamento à Caixa sobre a convocação desses funcionários para o trabalho presencial e o motivo da urgência, mas ainda não obteve retorno. A matéria será atualizada tão logo a resposta seja enviada pela insituição.