MERCADO

O mercado financeiro se mobilizou para tentar melhorar a relação entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o Banco Central. Os dois têm encontro marcado para a quinta (16), na primeira reunião do ano do Conselho Monetário Nacional, integrado por eles e pela ministra do Planejamento, Simone Tebet. Um dos maiores banqueiros do Brasil conversou na semana passada com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, em Miami. Em seguida, procurou Fernando Haddad para incentivar a costura de um acordo de paz.

Diversos agentes do mundo das finanças que têm interlocução com o PT e o BC se mobilizaram no mesmo sentido. A expectativa é a de que Lula também possa aderir a um armistício. O presidente tem mantido duras críticas à instituição. O banqueiro relatou à coluna que Campos Neto sinalizou que sua ideia não é levar o país à recessão, mantendo os juros nas alturas. A expectativa é que, depois das medidas anunciadas por Fernando Haddad em relação ao déficit fiscal, os juros possam baixar já nos próximos trimestres.

"O Banco Central muitas vezes precisa latir alto para atuar com suavidade porque, se latir baixo, vai ter que atuar com maior dureza", afirmou o mesmo banqueiro à coluna. Em seguida, ele procurou Fernando Haddad e diz ter relatado ao ministro suas impressões sobre a suposta boa vontade de Campos Neto, que seria um homem do "diálogo".

O interlocutor do presidente do BC e de Haddad acredita que o mal estar causado com a divulgação de um comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária) dizendo que os juros poderiam permanecer altos até o fim de 2023 poderiam ter sido evitados caso o governo tivesse esperado a divulgação da ata em que a decisão de manter as taxas em 13,75%, no começo do mês, foi detalhada.

A ata foi divulgada seis dias depois do comunicado. Nela, os integrantes do comitê fazem referências elogiosas às medidas anunciadas por Haddad, que promete zerar o déficit fiscal no próximo ano. O comunicado do Copom enfureceu a equipe econômica e o próprio presidente Lula, que enxergaram uma tentativa por parte de Roberto Campos Neto de levar o Brasil à recessão, prejudicando o governo de forma dramática: o arrocho atingiria principalmente a população de baixa renda, a única faixa do eleitorado em que, de acordo com pesquisas divulgadas na véspera do pleito presidencial, Lula foi vitorioso.

As promessas do presidente de melhora na vida das pessoas iria por água abaixo com uma recessão, comprometendo sua popularidade e, em consequência, a própria estabilidade de seu governo. A política do Banco Central tem sofrido críticas de economistas como André Lara Resende. Em entrevista ao Canal Livre que foi ao ar no domingo (12), ele disse que a situação fiscal do Brasil não justifica taxas tão altas e afirmou que elas podem levar o país a uma "recessão muito séria".

Campos Neto é identificado como bolsonarista pelo governo Lula.

Ele foi indicado ao cargo por Jair Bolsonaro e chegou a participar de jantares de empresários em apoio às medidas econômicas do governo anterior. O presidente do Banco Central até discursou em um evento, quanto admitiu que sofria críticas por frequentar reuniões com políticos. Mas disse que, como os ministros de Bolsonaro eram "técnicos", poderia se misturar a eles. Campos Neto também foi um incentivador da candidatura de Tarcísio de Freitas ao governo de São Paulo e prestigiou a posse dele no cargo.

Depois das críticas feitas por Lula, diversos políticos alinhados ao governo, como Jaques Wagner (PT-BA) e o próprio líder do governo no Senado, Fabiano Contarato (PT-ES) vieram a público dizer que a lei que garante a autonomia do Banco Central não será modificada. Outros agentes do mercado financeiro também procuraram Campos Neto e o governo na busca de um meio termo que amenize as críticas de Lula ao BC. (MÔNICA BERGAMO/Folhapress)