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O levantamento foi feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), com base nos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério da Economia.
Os saldos totais de postos de todos os anos entre 2013 e 2020 foram negativos para o setor bancário. O destaque foi para 2016, que encerrou com 20,6 mil desligamentos a mais do que contratações.Segundo a técnica do Dieese Bárbara Vallejos, apesar de a crise financeira vista no país entre 2014 e 2016 ter intensificado o volume de demissões em relação ao de contratações, é a transformação tecnológica e digital que tem levado ao enxugamento da estrutura nas instituições financeiras.
"É como se o setor tivesse constituído uma nova forma de fazer negócio, com um modelo mais enxuto e visando a redução de despesas", afirmou. "E eu acredito que ainda estamos nesse processo de reestruturação e que ações tomadas pelos bancos nos últimos meses sinalizam que é possível um corte elevado de pessoal até 2021."
O principal motor dessa reestrutura, avaliam especialistas, é a digitalização do sistema financeiro que naturalmente tende a reduzir o número de pessoas exigidas para a manutenção das operações.
Só a Caixa Econômica Federal, por exemplo, principal intermediário para o repasse do auxílio emergencial do governo, foi responsável pela abertura de 105 milhões de contas poupança digitais em 2020.
"Transformações digitais como essa diminuem custos operacionais e propiciam benefícios diretos aos cidadãos. Essas 105 milhões de pessoas podem ter conta em banco sem custos de manutenção, por exemplo", afirmou o banco público em nota.
Nos primeiros dez meses de 2020, o segmento conta com um saldo negativo de 8.086 vagas, sendo 13,7 mil contratados contra 21,8 mil desligados no período.
Ainda conforme o levantamento do Dieese, o mês com o pior saldo neste ano foi outubro, que contabilizou mais de 6,8 mil demissões contra 1,3 mil novos contratos. O saldo negativo indicou que 5,6 mil postos de trabalho foram fechados no período.
A digitalização, porém, não é único fator para o enxugamento da estrutura nos bancos. Para Vallejos, o ambiente de taxa básica de juros na mínima histórica, em 2% ao ano, também influencia, pois exige corte de custos no setor.
"O cenário de Selic mais baixa também acaba trazendo uma leve redução no spread bancário [diferença entre a taxa que o banco paga pelos recursos e a taxa pela qual ele empresta] e no que ele ganha com tesouraria", disse. "É difícil prever o que o segmento desenha como estratégia, mas olhando os números, é possível ver uma certa aceleração no corte de postos de trabalho."
Os cinco maiores bancos do país (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander) somavam cerca de 414,4 mil funcionários no terceiro trimestre deste ano -uma redução de 2,4% em relação a igual período de 2019, quando somavam 424,5 mil.
A presidente da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira, afirmou que o cenário de mudanças se intensificou durante a pandemia do coronavírus.
"Com todo mundo fazendo operações pelo celular e pela internet, os bancos começaram a mudar os atendimentos, migrando das agências bancárias físicas para o digital", afirmou. "Isso também abre margem para a redução do time, já que a maioria dos clientes se concentra agora no mobile e no internet banking."
Em março, logo no início das medidas de isolamento social, representantes da Fenaban (Federação Nacional de Bancos) e dos sindicatos dos bancários assumiram um compromisso público de que as instituições financeiras suspenderiam as demissões durante a pandemia.
Os desligamentos, segundo o levantamento do Dieese, chegaram a cair para 930 em abril deste ano -queda de 58% em relação a março. Em junho, no entanto, as demissões voltaram a subir. Na época, as entidades sindicais questionaram o Santander, argumentando que o compromisso de preservar postos de trabalho havia sido rompido.
Desde o início do ano, o Santander reduziu o seu número de funcionários em 2.672 pessoas -deste total, 1.201 foram demitidos entre junho e setembro.
"Primeiro foi o Santander, em junho, na sequência, foi a vez do Itaú, que fez mais de 200 desligamentos", afirmou Neiva Soares, secretária-geral do sindicato dos bancários de São Paulo, Osasco e região. "No início de outubro, o Bradesco começou uma demissão em massa: em menos de um mês foram mais de 800 demitidos."
Em nota, O Itaú afirmou que se mantém em constante transformação para atender às necessidades de seus clientes -situação que inclui a aceleração do processo de digitalização do banco.
"O Itaú não tem como meta reduzir o seu quadro de colaboradores e não existe nenhum processo de demissões em curso no banco. Ao contrário, neste ano, as contratações foram mais numerosas do que os desligamentos involuntários", afirmou o banco em nota.
Procurados, o Santander não respondeu até a conclusão desta reportagem e o Bradesco preferiu não comentar.
Em novembro, a Caixa abriu um PDV (Programa de Demissão Voluntária) para quase 10% do seu quadro de funcionários (7.200 pessoas). Procurada pela reportagem, Caixa não informou quantos funcionários aderiram ao programa.
Para o sócio da Peixoto e Cury Advogados, Carlos Eduardo Dantas Costa, o compromisso público de não demitir, feito pelos bancos em março, no início da pandemia, não se traduz em garantia de empregou ou de estabilidade.
"A pandemia e a quarentena, por si só, não impedem que as pessoas sejam demitidas", afirmou o advogado. "Claro que houve um super esforço da sociedade e do governo para evitar demissões em massa, mas esse compromisso não é garantia permanente."
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