CONSTRUÇÃO


Durante o isolamento social, para muitos o trabalho passou a ocupar um espaço antes apenas destinado à moradia. Para outros, o tempo ocioso em casa possibilitou um novo olhar, mais atento e crítico, a respeito dela. Os motivos são variados, mas o resultado já está se materializando: novas demandas para as construtoras onde local para homeoffice, varandas e cozinhas ganharam uma posição diferenciada, de protagonismo. E, seja a partir da demanda dos clientes ou da procura em se anteciar a eles, muitas construtoras já estão fazendo adaptações nos lançamentos agendados ou transformando projetos nas plantas.


De acordo com o presidente do Sinduscon, Érico Furtado, os empresários já estão antenados à esta tendência do mercado. “Estamos sempre ligados e nos adaptando às mesmas. Vale lembrar que o imóvel é um produto de ciclo longo e isto pode impactar no processo, mas os projetos vindouros estão sendo concebidos com este novo olhar”, afirma.


O administrador da incportadora Casa Grande Engenharia e Park Centrale Eduardo Melo Lins, confirma a percepção de Érico, mas informa que a situação já não se refere apenas ao futuro. Nos últimos 15 dias, ele afirma que houve um aumento de visitas superior em até 30% às que aconteciam antes da pandemia. “Havia uma demanda reprimida, com dois meses sem visitas. Antigamente, captávamos cerca de 50 leads (contatos com informações dos clientes) em um mês. Só no último final de semana, em dois dias, foram 70. Não quer dizer que isto seja revertido em vendas, mas as pessoas já deram os primeiros passos”, relata.  O próximo lnçamento da construtora, um edifício com apartamentos de 94 metros quadrados na faixa de 700 a 800 mil reais, já traz adaptações a esta mudança de perfil por parte dos clientes.

Desde a concepção, ele já possuia cinco opções de planta sendo então, naturalmente, flexível.  Um espaço para closet, incorporado à suíte, pode virar um quarto adicional ou espaço para home office. Há, ainda, a possibilidade da incorporação da varanda com esta função voltada ao trabalho. “Não é algo aprovado no projeto ainda. É uma decisão a ser tomada na constituição do condominio, mas, pelos retornos que temos, acredito que a grande maioria dos condôminos irá aprovar”, explica.


Na Pernambuco Construtora, por sua vez,  os próximos lançamentos trarão inovações elaboradas para contemplar as necessidades criadas pela pandemia. Para implementar estas inovações, a empresa está se baseando em pesquisas atuais, com o objetivbo de identificar o que será necessário a longo prazo, para o “novo normal”. Provavelmente, elementos como antecâmara para recebimento de entregador e home office integrado com a área aberta são elegíveis. A ideia é combinar bem-estar e segurança de forma conveniente e que faça sentido para as pessoas.


“A construtora detectou certas tendências há algum tempo e elas se confirmam agora, praticamente como padrão. Uma delas é a demanda por espaço para entretenimento dentro do apartamento. Por isso temos investido, há alguns anos, em empreendimentos que possuem varanda gourmet. Em outros, fomos mais ousados e fizemos a varanda gourmet integrada à cozinha, uma planta que surpreendeu positivamente aos nossos clientes e esgotou muito rápido”, afirma a diretora executiva, Mariana Wanderley. Ela conta ainda que o grupo percebeu que um dos quartos do imóvel, com frequência é designado para ser local de trabalho e/ou estudos. “Por isso, procuramos dar a opções de plantas variadas, em que o cliente pode optar entre imóveis de dois e três quartos (52 e 64m², respectivamente) no mesmo edifício, declara.
 
O novo lançamento da Vale do Ave possui uma varanda office. O edifício de 107 metros quadrados, em Boa Viagem, que deveria ter sido lançado em maio, deve ser apresentado entre os meses de setembro a outubro. A iniciativa veio da observação da própria construtora. “Convivendo com este novo dia a dia, assistindo a lives, sentimos necessidade de fazer aterações nos projetos futuro. Este, por exemplo, terá central de recepção de encomendas”, afirma. Para os próximos projetos, o grupo também avalia a possibilidade de construir cozinhas mais semelhantes ao modelo americano. “A tendência de cozinhar em casa é cada vez maior e com menos possibilidade das pessoas de terem um funcionário para isto. Então, esta prática torna-se mais agradável se for integrada à sala, com opçao de exaustão pra que não cause incômodo. O objetivo é tentar fazer algo mais harmonioso com a área social”, adianta.


Desafios também no segmento imobiliário


No ramo imobiliário, o presidente da Ademi-PE, Gildo Vilaça, afirma que as incorporadoras estão acompanhando de perto esse movimento, que durante a pandemia passou a fazer parte de vários fóruns virtuais de discussão do setor, inclusive internacionais. “Essa tendência está sendo discutida mundialmente, e as novas demandas deverão ser levadas em consideração nos próximos projetos. Vários lançamentos, entretanto, já haviam antecipado hábitos da nova década, trazendo em seus layouts varandas gourmets, home-offices e áreas adaptáveis ao estilo de vida do futuro morador”, informa. Na opinião dele, contudo, o fator decisivo na hora de adquirir o imóvel ainda será saber se o valor do financiamento caberá no bolso do comprador. “A queda da taxa de juros noticiada pelo Copom esta semana, para 2,25% ao ano, certamente se refletirá nas linhas de crédito voltadas para a habitação, tornando este um dos melhores momentos para a aquisição do imóvel”, considera.


Para a sócia da Newville Imobiliária, Nai Miranda, o home office deixou de ser tendência para virar realidade. “Casais de várias faixas etárias, que tinham pequenas empresas, nos relataram que perceberam valer mais à pena ter seu escritório em casa e procuram um imóvel maior. Não se trata ainda, claro, do momento de fechamento das negociações, mas o número de pessoas que ligam querendo estas informações não existia antes da pandemia”, afirma.


Além do aumento de uma procura por novos espaços, a digitalização de todo o processo também chegou para ficar. Nai conta que, há um ano e meio já realizada todo o processo digital que vai desde a reserva de chave, agendamento de visita, atendimento, visita virtual, encaminhamento de documentos, análise de cadastro e assinatura do contrato e até envio das chaves. Um dos incrementos foi na questão do tour virtual. “Vamos até o imóvel  e fazemos chamadas de vídeo  com quem está do outro lado da tela levando as pessoas para cada um dos cômodos e mostrando seus detalhes. Compramos, inclusive, mais câmeras com este objetivo”, finaliza a sócia da imobiliária que possui 400 imóveis cadastrados no site da empresa.
325