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Brasília – A recente turbulência no mercado de câmbio que fez o dólar registrar recordes sucessivos na semana passada acendeu luz amarela sobre dados que não estavam no centro das preocupações: os do balanço de pagamentos do país. Números recentes do Banco Central (BC) mostram que o rombo das trocas comerciais e financeiras do Brasil com o resto do mundo cresceu acima das previsões num momento em que a economia anda de lado. Isso ajudou a moeda norte-americana a renovar picos e chegar a R$ 4,27, pois a tendência é de que o desequilíbrio na conta aumente no ano que vem se a recuperação na atividade econômica for mais robusta.
No acumulado de janeiro a outubro, o déficit no balanço de pagamentos somou US$ 45,6 bilhões, dado 24,6% superior às estimativas da instituição para o ano, de um saldo negativo de US$ 36,6 bilhões, segundo o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do BC. Apesar de o Ministério da Economia ter feito correção atípica nos dados preliminares da balança comercial de novembro, apontando para superávit de US$ 2,7 bilhões no período das últimas quatro semanas em vez de déficit de US$ 1,1 bilhão, analistas do mercado financeiro reconhecem que as contas externas entraram no radar dos investidores estrangeiros. Eles, antes, davam prioridade para o quadro fiscal e o risco de insolvência do país.
As previsões para o balanço de pagamentos, que inclui o resultado da entrada e saída de investimento estrangeiro no país, estão sendo revistas. As mais recentes preveem déficit acima de US$ 50 bilhões. A Rosenberg Associados, por exemplo, prevê rombo de US$ 56 bilhões neste ano, e de US$ 71,5 bilhões em 2020, considerando crescimento do Produto Interno Bruto (a soma da produção de bens e serviços do país) de 1%, neste ano, e de 2,5% no ano que vem. Em outubro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previa déficits mais modestos na conta-corrente do país, de US$ 22,3 bilhões e de US$ 19,6 bilhões, respectivamente.
Historicamente, as grandes crises financeiras do Brasil tiveram início após uma piora no saldo do balanço de pagamentos, inclusive, na recessão de 2015 e 2016. Em 2014, o rombo passou de US$ 100 bilhões. O ex-ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen costumava dizer que a inflação aleija e o câmbio mata.
Investimentos Analistas e economistas ouvidos pelo Estado de Minas reconhecem que a mudança na trajetória de crescimento do deficit em conta-corrente do país é sinal de alerta. Contudo, o contexto hoje é diferente porque o governo tem mais instrumentos do que no passado para enfrentar uma turbulência no mercado de câmbio e conter uma maxidesvalorização do real. O principal deles são reservas internacionais, que somavam US$ 367,5 bilhões até o último dia 28.
Antônio Madeira, economista da LCA Consultores, avalia que o aumento no déficit em conta-corrente não é um problema para o Brasil atualmente. “A Austrália tem déficit desde 1991 e ninguém fica preocupado. Já a Argentina, não tem saldo negativo em conta-corrente, e atravessa uma grave crise financeira”, compara. “Todas as crises brasileiras começaram quando houve um aumento forte no deficit em conta-corrente. Mas elas ocorreram em um momento em que a política fiscal era insustentável e o país acabou entrando em uma crise cambial. Hoje, o aumento desse déficit em conta-corrente não é o fim do mundo. Nem sempre ele é ruim. Não é possível ter uma visão maniqueísta como no passado. As condições hoje são outras. Hoje o contexto é outro”, explica.
O fluxo cambial brasileiro pode melhorar quando as exportações se recuperarem, caso a economia volte a crescer, segundo Madeira. “Os recursos de empresas exportadoras ficaram lá fora e isso diminui a oferta da moeda. Em parte, essa desvalorização do real não é uma crise de confiança”, explica. Se o país crescer mais, ele consegue melhorar as contas públicas e pode atrair investimentos estrangeiros, podendo ajudar a financiar o déficit em conta-corrente. “No momento, não existem grandes riscos, mas essa melhora de cenário depende do avanço das demais reformas estruturais”, reforça.
No ritmo do mundo
O aumento do déficit em conta-corrente “é uma fraqueza pontual” do Brasil, no entender de Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central. “Quando o mundo cresce pouco, o país também perde a capacidade de crescimento”, explica. “A desvalorização recente do real frente ao dólar teve mais causas externas do que domésticas e a piora no saldo em conta-corrente não é tão preocupante quanto a questão fiscal”, completa.
Assim como o ex-diretor do BC, o especialista em contas públicas Felipe Salto, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), também demonstra mais preocupação com as contas públicas do que com a balança de pagamentos. “Numa economia pouco competitiva e com baixa produtividade como a nossa, a recuperação implicará piora do déficit em conta-corrente via aumento de importações. Mas é um risco controlado porque temos reservas elevadas e alto nível de investimento estrangeiro direto”, avalia.
Salto lembra que a redução no tamanho do rombo das contas públicas neste ano não tranquiliza as preocupações em relação ao desequilíbrio fiscal, porque essa queda é resultado de receitas não recorrentes, como concessões de petróleo e não de um efetivo corte nos gastos obrigatórios.
Descolado
Analistas destacam que as condições macroeconômicas são relativamente favoráveis, apesar de a economia ainda crescer pouco. O governo conseguiu aprovar a reforma da Previdência, o que ajuda no equilíbrio fiscal; a inflação está controlada, abaixo da meta de 4,15% ao ano; a Selic (taxa básica de juros) está no menor patamar da história, de 5%; eu risco/país está relativamente baixo se comparado com o passado. Contudo, o câmbio acabou se descolando desses fundamentos, ressalta a economista Julia Gottlieb, do Itaú Unibanco.
“O investidor estrangeiro estava sempre preocupado com a questão fiscal. Agora, também vai olhar para o déficit da balança de pagamentos e para o crescimento. Se o país não crescer, vai ficar mais exposto”, alerta o economista especializado em mercado de câmbio Gustavo Cruz.
Série de motivos para a desvalorização do real frente ao dólar nos últimos dias foi citada pelos analistas. Eles destacam que os juros estão baixos e isso provocou debandada de investidores estrangeiros. Além disso, mencionam a falta de crescimento global em um ambiente de guerra comercial entre Estados Unidos e China, que tem afetado o comércio mundial, derrubando os preços de commodities e afetando as exportações do Brasil. Um consenso entre eles é que as declarações polêmicas do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre câmbio, uma prerrogativa que não cabe à pasta comandada por ele, e sobre uma possibilidade da volta de um AI-5 para conter manifestações, abalaram a confiança nas instituições e ajudaram a fortalecer o dólar. (RH)
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As previsões para o balanço de pagamentos, que inclui o resultado da entrada e saída de investimento estrangeiro no país, estão sendo revistas. As mais recentes preveem déficit acima de US$ 50 bilhões. A Rosenberg Associados, por exemplo, prevê rombo de US$ 56 bilhões neste ano, e de US$ 71,5 bilhões em 2020, considerando crescimento do Produto Interno Bruto (a soma da produção de bens e serviços do país) de 1%, neste ano, e de 2,5% no ano que vem. Em outubro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previa déficits mais modestos na conta-corrente do país, de US$ 22,3 bilhões e de US$ 19,6 bilhões, respectivamente.
Historicamente, as grandes crises financeiras do Brasil tiveram início após uma piora no saldo do balanço de pagamentos, inclusive, na recessão de 2015 e 2016. Em 2014, o rombo passou de US$ 100 bilhões. O ex-ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen costumava dizer que a inflação aleija e o câmbio mata.
Investimentos Analistas e economistas ouvidos pelo Estado de Minas reconhecem que a mudança na trajetória de crescimento do deficit em conta-corrente do país é sinal de alerta. Contudo, o contexto hoje é diferente porque o governo tem mais instrumentos do que no passado para enfrentar uma turbulência no mercado de câmbio e conter uma maxidesvalorização do real. O principal deles são reservas internacionais, que somavam US$ 367,5 bilhões até o último dia 28.
Antônio Madeira, economista da LCA Consultores, avalia que o aumento no déficit em conta-corrente não é um problema para o Brasil atualmente. “A Austrália tem déficit desde 1991 e ninguém fica preocupado. Já a Argentina, não tem saldo negativo em conta-corrente, e atravessa uma grave crise financeira”, compara. “Todas as crises brasileiras começaram quando houve um aumento forte no deficit em conta-corrente. Mas elas ocorreram em um momento em que a política fiscal era insustentável e o país acabou entrando em uma crise cambial. Hoje, o aumento desse déficit em conta-corrente não é o fim do mundo. Nem sempre ele é ruim. Não é possível ter uma visão maniqueísta como no passado. As condições hoje são outras. Hoje o contexto é outro”, explica.
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No ritmo do mundo
O aumento do déficit em conta-corrente “é uma fraqueza pontual” do Brasil, no entender de Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central. “Quando o mundo cresce pouco, o país também perde a capacidade de crescimento”, explica. “A desvalorização recente do real frente ao dólar teve mais causas externas do que domésticas e a piora no saldo em conta-corrente não é tão preocupante quanto a questão fiscal”, completa.
Assim como o ex-diretor do BC, o especialista em contas públicas Felipe Salto, diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), também demonstra mais preocupação com as contas públicas do que com a balança de pagamentos. “Numa economia pouco competitiva e com baixa produtividade como a nossa, a recuperação implicará piora do déficit em conta-corrente via aumento de importações. Mas é um risco controlado porque temos reservas elevadas e alto nível de investimento estrangeiro direto”, avalia.
Salto lembra que a redução no tamanho do rombo das contas públicas neste ano não tranquiliza as preocupações em relação ao desequilíbrio fiscal, porque essa queda é resultado de receitas não recorrentes, como concessões de petróleo e não de um efetivo corte nos gastos obrigatórios.
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Analistas destacam que as condições macroeconômicas são relativamente favoráveis, apesar de a economia ainda crescer pouco. O governo conseguiu aprovar a reforma da Previdência, o que ajuda no equilíbrio fiscal; a inflação está controlada, abaixo da meta de 4,15% ao ano; a Selic (taxa básica de juros) está no menor patamar da história, de 5%; eu risco/país está relativamente baixo se comparado com o passado. Contudo, o câmbio acabou se descolando desses fundamentos, ressalta a economista Julia Gottlieb, do Itaú Unibanco.
“O investidor estrangeiro estava sempre preocupado com a questão fiscal. Agora, também vai olhar para o déficit da balança de pagamentos e para o crescimento. Se o país não crescer, vai ficar mais exposto”, alerta o economista especializado em mercado de câmbio Gustavo Cruz.
Série de motivos para a desvalorização do real frente ao dólar nos últimos dias foi citada pelos analistas. Eles destacam que os juros estão baixos e isso provocou debandada de investidores estrangeiros. Além disso, mencionam a falta de crescimento global em um ambiente de guerra comercial entre Estados Unidos e China, que tem afetado o comércio mundial, derrubando os preços de commodities e afetando as exportações do Brasil. Um consenso entre eles é que as declarações polêmicas do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre câmbio, uma prerrogativa que não cabe à pasta comandada por ele, e sobre uma possibilidade da volta de um AI-5 para conter manifestações, abalaram a confiança nas instituições e ajudaram a fortalecer o dólar. (RH)