Provável acerto deve trazer prejuízos imediatos e, no médio prazo, provocar um choque de competitividade no campo; setor precisa de uma sacudida
O comentarista internacional Nelson de Sá resumiu com perfeição o acordo em negociação para encerrar a ‘guerra comercial’ de Donald Trump: “China oferece comprar dos EUA o que hoje compra do Brasil”, escreveu o jornalista, referindo-se ao compromisso chinês de importar 10 milhões de toneladas de soja americana. O que significa deixar de comprar o produto brasileiro. Na outra mão, os EUA cessariam o fogo contra a China e empresas como a Huawei. O acordo cada vez mais provável deixa feliz a Casa Branca, Pequim, mercados financeiros, o FMI, enfim, o mundo inteiro. Exceto o Brasil. Para o agronegócio brasileiro, o abalo é inevitável. A incógnita é a magnitude do impacto, os seus efeitos.
Os EUA já soltam rojões.“Se for feito o acordo com a China, nossos grandes Fazendeiros Americanos serão tratados melhor do que jamais foram tratados antes!”, tuitou o próprio Trump, ora em campanha para angariar popularidade e disputar a reeleição em 2020. Em Pequim, os dirigentes também festejam o acordo que aliviaria a tensão entre os países.
Principal concorrente dos EUA em bens agrícolas, o Brasil ainda não tem uma noção clara do que o acordo causará em suas exportações. Só se sabe que não será bom. No início desta semana, no Mato Grosso, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, manifestou preocupação com as tratativas sino-americanas e admitiu prejuízos para produtores brasileiros. Mas não fez nenhuma previsão de perdas. Alguns economistas temem uma crise no agronegócio nacional se o acordo EUA-China avançar muito além da soja e alcançar as carnes bovinas e de aves – como querem os americanos.
Se o produtor brasileiro perder volumes de exportações à China para os americanos, vai ter que rebolar depois para abrir novos mercados em substituição. Empresários experientes em comércio internacional acham que o provável acordo EUA-China deve forçar o agronegócio nacional a elevar seu padrão de produtividade, para se igualar ou superar o americano. Ou seja: o acordo deve trazer prejuízos imediatos e no médio prazo provocar um choque de competitividade no campo. Seja como for, o desafio está colocado. E parece gigante, como a concorrência.
A ‘guerra’ de Trump está dando uma lição ao Brasil: nenhum país pode ficar deitado em berço esplêndido, achando que riquezas naturais bastam para garantir a prosperidade; até a maior superpotência do mundo vai à luta para vender mais produtos, inclusive commodities. Não faz muito tempo uma fonte do site comentou que o agronegócio brasileiro anda acomodado em seus negócios com a China, não estava evoluindo tecnologicamente como antes e precisava de uma sacudida. Bom, isso está para acontecer.