É com uma pergunta que parafraseia o famoso poema de Carlos Drummond de Andrade (“E agora, José?”) que a ativista e artista Zi Reis batiza a exposição que ocupa a Aliança Francesa a partir desta quinta-feira (29) até o dia 20 de dezembro. Em “E agora, Maria?”, ela dá voz e protagonismo às várias questões que afligem e compõem o universo feminino e a própria existência como mulher.
“Para mim, a exposição surge como o encerramento de uma produção que tenho feito na última década, que trazem reflexões sobre o corpo feminino enquanto espaço de resistência”, explica a artista. Para mergulhar nesse universo, ela se debruça sobre diversos formatos. As 17 obras apresentadas na mostra apresentam técnicas diversas (pinturas, instalações, vídeos, fotografias, frames de vídeo e poesias, onde ela aborda questões que vão desde o feminicídio e violência doméstica até temas que tratam dos papéis dados à mulher no cuidado do lar e da família.
“Cada obra tem um pouco de dor”, ressalta a artista, que assume explorar também questões autobiográficas. Mas, além da própria experiência, Reis dá voz a outras mulheres e às suas vivências. “Em uma das obras trago a questão dos padrões de beleza através de experimentações com áudio. São relatos de mulheres sobre a relação com o próprio corpo”, aponta.
O dia 25 de novembro, data do combate a violência contra a mulher também é lembrado pela artista. “Sempre tento trazer alguma reflexão através dos meus trabalhos. Em uma das obras, recolhi notícias de mulheres violentadas e mortas por seus ex-companheiros e passei todos esses recortes com ferro de brasa”, conta.
Mas a exposição não é feita somente de dores. “As obras trazem um pouco dos dois lados de ser mulher. Em um dos trabalhos há uma experimentação de vídeo que traz uma cena de uma menina que chora em um berço e é cuidada pela outra. Tem essa beleza do cuidado e do afeto, mas também a dor da obrigação”.
FORMATOS – Zi Reis reúne pinturas, fotografias e instalações
Contexto
Apesar de reunir uma década de trabalhos produzidos, para Reis a exposição acontece em um momento crucial. “Vivemos um período muito complexo. O Brasil acabou de eleger um presidente que é réu por um caso de incitação ao estupro, que traz o tempo todo um discurso de diminuição da figura feminina na sociedade. Então, precisamos nos reafirmar como corpos femininos de luta e de resistência”, sublinha a artista.
Reis explicita este posicionamento mantendo o Ateliê Pé Vermelho, no bairro Nacional, em Contagem. O local funciona não somente como um espaço de produção artística, mas também como ambiente de discussão da cultura na região. “A arte nos dá a oportunidade de refletir e criticar o mundo a nossa volta”, acredita a artista. “Escolhemos um recorte, uma parte da sociedade, e afirmamos através da arte que é preciso olhar para isso”.
Com entrada gratuita, a exposição “E agora, Maria?”, de Zi Reis, fica em cartaz de amanhã a 20 de dezembro na Aliança Francesa (rua Tomé de Souza, 1.418, Savassi)
