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Essa é a sensação que se tem ao percorrer a área dedicada ao Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), no 12° Salão do Artesanato que, com o tema Raízes Brasileiras, está aberto ao público até o dia 12 de maio, no Shopping Pátio Brasil, em Brasília.
O 12º Salão do Artesanato fica aberto até o dia 12 de maio, no Pátio Brasil - Valter Campanato/Agência Brasil
Participam do evento cerca de 200 artesãos de 19 estados. Os trabalhos mostram ao público suas riquezas de cores, texturas, formas e, principalmente, as histórias que tanta originalidade dão a um Brasil que nem sempre é mostrado ao grande público.
Quem vê os pequenos bonecos criados pelo mestre e artesão de ofício Darlindo Oliveira, que veio do Pará, não imagina o quão complexo é conseguir matéria-prima que ele usa em suas produções. A balata, por exemplo, um látex extraído de uma planta chamada balateira, só existe na margem esquerda do Rio Amazonas.
“É muito difícil extrair esse látex. Primeiro, porque para se chegar ao balatal [região onde há uma incidência maior da planta], são necessários 15 dias de caminhada à beira do rio. Os extrativistas vão em janeiro para a região e só voltam em julho. Quando chegam, têm de preparar o acampamento e selecionar as árvores, sabendo que só se consegue extrair o material entre os meses de março e maio, que é o único período da seiva”, explica à Agência Brasil o artesão que há mais de 50 anos exerce o ofício.
Segundo Darlindo Oliveira, a planta tem uma peculiaridade: só nasce na linha do equador. Depois de retirar a seiva, ela é cozida e preparada em blocos de 50 quilos. Na etapa seguinte, ela é limpa em água quente, para amolecer, e molhada em água fria para, enquanto endurece, ser trabalhada.
“Esse é apenas o ponto de partida para eu começar a arte de contar, por meio desses bonecos, as lendas e os mitos da Amazônia brasileira”, disse Darlindo, enquanto mostrava peças com botos cor-de-rosa acompanhados de mulheres grávidas; a cobra Norato, que segundo a mitologia local teria adotado uma criança; e o Muiraquitã – amuleto de sorte fabricado pelas índias Icamiabas, as famosas amazonas que deram nome ao estado da Região Norte.
“Mostro também a cultura dos ribeirinhos e as atividades que esse povo exerce para sobreviver”, acrescentou tendo às mãos peças mostrando os processos de extração e venda de açaí no Pará. “Já essas rãs, são feitas como forma de alertar as pessoas sobre as espécies venenosas encontradas em nossas matas. É de grande utilidade para instruir nossas crianças a não mexerem, quando encontrá-las”, acrescentou.
O trabalho de Darlindo rendeu a ele premiações, inclusive internacionais. Uma delas foi a de Excelência do Artesanato Brasileiro, oferecido pela Unesco. Quanto à balateira, ele explica que desde o século 19 até a década de 70, era exportado para os Estados Unidos, para a fabricação de bolas de golfe, próteses dentárias, fios cirúrgicos e até chicletes. “O problema é que levaram as sementes para a Malásia, e agora só compram de lá”.
Artesanato: um modo de vida
A poucos metros do stand paraense está o do Amazonas, onde a artesã em cestaria e tecelagem Maristela da Silva de Abreu apresenta a arte ensinada pelos avós, quando ainda em uma aldeia Baré, nas proximidades de São Gabriel da Cachoeira (AM).
“Deixei minha aldeia para estudar. Fazia esses produtos para me sustentar e, depois, sustentar minha filha. Com o tempo consegui fazer a produção aumentar e ampliar meus ganhos, a ponto de poder pagar a faculdade de minha filha em Manaus”, disse ela à Agência Brasil.
Com um olhar empreendedor, Maristela diz que feiras como esta ajudam a ampliar as redes de negócios. “Não vim aqui apenas para vender o que trouxe. Quero fazer contatos para futuras encomendas. Estou otimista porque já fiz dois bons contatos. E o melhor é que sou feliz por tudo ser fruto de algo que amo e escolhi como modo de vida. Eu vivo ao redor da arte que aprendi com meus avós”.
A mostra traz peças artesanais de decoração em argila, madeira, látex e outros- Valter Campanato/Agência Brasil
A pernambucana Socorro Rodrigues aprendeu sua arte – miniaturas em argila – com os pais, que viviam desse tipo de artesanatos. “Meu pai foi um dos seguidores do Mestre Vitalino, que criou esse tipo de artesanato em Caruaru”, explicou a artesã, que usa a argila para apresentar cenas do cotidiano – em especial, brincadeiras de crianças, como peão, bola de gude, pipa; elementos da música folclórica, como bandinhas e trios nordestinos; danças regionais; e festas como a de bumba-meu-boi e a de Reis.
“O que faço é uma ligação temporal, objetivando um resgate cultural focado em crianças, mas ao gosto dos pais interessados em mostrar as brincadeiras de sua época aos filhos”, explicou Socorro.
Vindo da Bahia, Maria dos Anjos Souza, de 68 anos, é rendeira há pelo menos 50 anos. Presidente da Associação das Artesãs de Inhambupe, região de índios Pataxó, ela não aprendeu a arte com seus pais ou avós. “Esse tipo de trabalho veio da Noruega, trazido pelos portugueses. É uma técnica [de desenhar por meio do volume dado por linhas em um tecido] que era familiar, mas que com o tempo se popularizou. Com o aumento da demanda, passou a ser feita sob encomenda pelas rendeiras, que acabaram aperfeiçoando as técnicas e melhorando a qualidade”.
Vencedor do Prêmio Vitrine, de melhor peça de exposição na 24ª Feira Internacional de Artesanato em Natal, o mestre Edvaldo Santiago, um especialista em modelagem de argila, não só expõe suas peças como revela a técnica de produção.
O Programa do Artesanato Brasileiro integra e valoriza o artesão - Valter Campanato/Agência Brasil
“Aprendi minha arte com meu pai. Eu admirava muito o que ele fazia. Ao mesmo tempo, ficava preocupado porque não via os alunos dele fazendo direito o que ele ensinava. Isso acontecia porque as técnicas passam por diversos processos, e todos eles precisam ser feitos da forma correta para ficar bom. Além disso, é necessário que o espírito esteja feliz para a coisa dar certo. Acabei então assumindo a responsabilidade de manter viva essa cultura de mostrar o dia a dia do trabalhador brasileiro”, disse o artesão, que veio do Rio Grande do Norte para participar do 12° Salão do Artesanato.
Na banca ao lado, Mestre Antônio Inácio expõe peças sacras. No caso dele, os trabalhos são feitos em madeira cedro. Autodidata, o mineiro tem como principal influência o escultor barroco Antônio Lisboa, conhecido como Aleijadinho. “Moro em Ponte Nova, município próximo a Ouro Preto, onde pude apreciar muitas das esculturas feitas por ele”, disse.
“Minha escolha pela madeira, após ter trabalhado com gesso e com argila, se deve ao fato de elas terem durabilidade secular, a exemplo das esculturas que via nas igrejas de Ouro Preto. Argila e gesso quebram com facilidade. Já a madeira me dá a certeza de que minha obra perpetuará”, afirmou à Agência Brasil. O escultor disse que prefere fazer peças com as imagens de Nossa Senhora da Conceição e de São Francisco de Assis. “Sempre fui atraído pelo ecletismo de São Francisco, principalmente por poder agregar elementos simbólicos relacionados a meio-ambiente e à natureza”, acrescentou.
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Essa é a sensação que se tem ao percorrer a área dedicada ao Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), no 12° Salão do Artesanato que, com o tema Raízes Brasileiras, está aberto ao público até o dia 12 de maio, no Shopping Pátio Brasil, em Brasília.
O 12º Salão do Artesanato fica aberto até o dia 12 de maio, no Pátio Brasil - Valter Campanato/Agência Brasil
Participam do evento cerca de 200 artesãos de 19 estados. Os trabalhos mostram ao público suas riquezas de cores, texturas, formas e, principalmente, as histórias que tanta originalidade dão a um Brasil que nem sempre é mostrado ao grande público.
Quem vê os pequenos bonecos criados pelo mestre e artesão de ofício Darlindo Oliveira, que veio do Pará, não imagina o quão complexo é conseguir matéria-prima que ele usa em suas produções. A balata, por exemplo, um látex extraído de uma planta chamada balateira, só existe na margem esquerda do Rio Amazonas.
“É muito difícil extrair esse látex. Primeiro, porque para se chegar ao balatal [região onde há uma incidência maior da planta], são necessários 15 dias de caminhada à beira do rio. Os extrativistas vão em janeiro para a região e só voltam em julho. Quando chegam, têm de preparar o acampamento e selecionar as árvores, sabendo que só se consegue extrair o material entre os meses de março e maio, que é o único período da seiva”, explica à Agência Brasil o artesão que há mais de 50 anos exerce o ofício.
Segundo Darlindo Oliveira, a planta tem uma peculiaridade: só nasce na linha do equador. Depois de retirar a seiva, ela é cozida e preparada em blocos de 50 quilos. Na etapa seguinte, ela é limpa em água quente, para amolecer, e molhada em água fria para, enquanto endurece, ser trabalhada.
“Esse é apenas o ponto de partida para eu começar a arte de contar, por meio desses bonecos, as lendas e os mitos da Amazônia brasileira”, disse Darlindo, enquanto mostrava peças com botos cor-de-rosa acompanhados de mulheres grávidas; a cobra Norato, que segundo a mitologia local teria adotado uma criança; e o Muiraquitã – amuleto de sorte fabricado pelas índias Icamiabas, as famosas amazonas que deram nome ao estado da Região Norte.
“Mostro também a cultura dos ribeirinhos e as atividades que esse povo exerce para sobreviver”, acrescentou tendo às mãos peças mostrando os processos de extração e venda de açaí no Pará. “Já essas rãs, são feitas como forma de alertar as pessoas sobre as espécies venenosas encontradas em nossas matas. É de grande utilidade para instruir nossas crianças a não mexerem, quando encontrá-las”, acrescentou.
O trabalho de Darlindo rendeu a ele premiações, inclusive internacionais. Uma delas foi a de Excelência do Artesanato Brasileiro, oferecido pela Unesco. Quanto à balateira, ele explica que desde o século 19 até a década de 70, era exportado para os Estados Unidos, para a fabricação de bolas de golfe, próteses dentárias, fios cirúrgicos e até chicletes. “O problema é que levaram as sementes para a Malásia, e agora só compram de lá”.
Artesanato: um modo de vida
A poucos metros do stand paraense está o do Amazonas, onde a artesã em cestaria e tecelagem Maristela da Silva de Abreu apresenta a arte ensinada pelos avós, quando ainda em uma aldeia Baré, nas proximidades de São Gabriel da Cachoeira (AM).
“Deixei minha aldeia para estudar. Fazia esses produtos para me sustentar e, depois, sustentar minha filha. Com o tempo consegui fazer a produção aumentar e ampliar meus ganhos, a ponto de poder pagar a faculdade de minha filha em Manaus”, disse ela à Agência Brasil.
Com um olhar empreendedor, Maristela diz que feiras como esta ajudam a ampliar as redes de negócios. “Não vim aqui apenas para vender o que trouxe. Quero fazer contatos para futuras encomendas. Estou otimista porque já fiz dois bons contatos. E o melhor é que sou feliz por tudo ser fruto de algo que amo e escolhi como modo de vida. Eu vivo ao redor da arte que aprendi com meus avós”.
A mostra traz peças artesanais de decoração em argila, madeira, látex e outros- Valter Campanato/Agência Brasil
A pernambucana Socorro Rodrigues aprendeu sua arte – miniaturas em argila – com os pais, que viviam desse tipo de artesanatos. “Meu pai foi um dos seguidores do Mestre Vitalino, que criou esse tipo de artesanato em Caruaru”, explicou a artesã, que usa a argila para apresentar cenas do cotidiano – em especial, brincadeiras de crianças, como peão, bola de gude, pipa; elementos da música folclórica, como bandinhas e trios nordestinos; danças regionais; e festas como a de bumba-meu-boi e a de Reis.
“O que faço é uma ligação temporal, objetivando um resgate cultural focado em crianças, mas ao gosto dos pais interessados em mostrar as brincadeiras de sua época aos filhos”, explicou Socorro.
Vindo da Bahia, Maria dos Anjos Souza, de 68 anos, é rendeira há pelo menos 50 anos. Presidente da Associação das Artesãs de Inhambupe, região de índios Pataxó, ela não aprendeu a arte com seus pais ou avós. “Esse tipo de trabalho veio da Noruega, trazido pelos portugueses. É uma técnica [de desenhar por meio do volume dado por linhas em um tecido] que era familiar, mas que com o tempo se popularizou. Com o aumento da demanda, passou a ser feita sob encomenda pelas rendeiras, que acabaram aperfeiçoando as técnicas e melhorando a qualidade”.
Vencedor do Prêmio Vitrine, de melhor peça de exposição na 24ª Feira Internacional de Artesanato em Natal, o mestre Edvaldo Santiago, um especialista em modelagem de argila, não só expõe suas peças como revela a técnica de produção.
O Programa do Artesanato Brasileiro integra e valoriza o artesão - Valter Campanato/Agência Brasil
“Aprendi minha arte com meu pai. Eu admirava muito o que ele fazia. Ao mesmo tempo, ficava preocupado porque não via os alunos dele fazendo direito o que ele ensinava. Isso acontecia porque as técnicas passam por diversos processos, e todos eles precisam ser feitos da forma correta para ficar bom. Além disso, é necessário que o espírito esteja feliz para a coisa dar certo. Acabei então assumindo a responsabilidade de manter viva essa cultura de mostrar o dia a dia do trabalhador brasileiro”, disse o artesão, que veio do Rio Grande do Norte para participar do 12° Salão do Artesanato.
Na banca ao lado, Mestre Antônio Inácio expõe peças sacras. No caso dele, os trabalhos são feitos em madeira cedro. Autodidata, o mineiro tem como principal influência o escultor barroco Antônio Lisboa, conhecido como Aleijadinho. “Moro em Ponte Nova, município próximo a Ouro Preto, onde pude apreciar muitas das esculturas feitas por ele”, disse.
“Minha escolha pela madeira, após ter trabalhado com gesso e com argila, se deve ao fato de elas terem durabilidade secular, a exemplo das esculturas que via nas igrejas de Ouro Preto. Argila e gesso quebram com facilidade. Já a madeira me dá a certeza de que minha obra perpetuará”, afirmou à Agência Brasil. O escultor disse que prefere fazer peças com as imagens de Nossa Senhora da Conceição e de São Francisco de Assis. “Sempre fui atraído pelo ecletismo de São Francisco, principalmente por poder agregar elementos simbólicos relacionados a meio-ambiente e à natureza”, acrescentou.