Com 21 dos 34 votos possíveis, o cantor, compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil foi eleito nesta quinta-feira (11) para a cadeira número 20 da Academia Brasileira de Letras (ABL). A vaga surgiu em 27 de maio do ano passado com a morte do jornalista Murilo Melo Filho. Os outros dois concorrentes foram o poeta Salgado Maranhão e o escritor Ricardo Daunt. 


Os acadêmicos participaram da votação de forma presencial ou virtual, sendo que um deles não votou por motivo de saúde. Os ocupantes anteriores da cadeira 20 foram Salvador de Mendonça (fundador), Emílio de Meneses, Humberto de Campos, Múcio Leão e Aurélio de Lyra Tavares.


O presidente da ABL, Marco Lucchesi, cita uma metáfora oportuna do sociólogo, escritor e político brasileiro Darcy Ribeiro para se referir ao novo imortal da instituição. “Para Darcy, o pássaro da cultura tinha duas asas. Uma delas era erudita e a outra popular. Para que o pássaro possa voar mais longe, ele precisa das duas asas. Certamente, Gilberto Gil é esse traço de união entre a cultura erudita e a popular”.

De acordo com Lucchesi, o artista baiano é um intelectual que pensa o Brasil. “Canta e pensa esse país; provou o exílio, num momento muito difícil da nação; ocupou cargos importantes, como o Ministério da Cultura. Enfim, é um homem poliédrico, que representa parte essencial dos últimos anos do século 20 e do início do 21. Portanto, ele é um homem com muitos traços de união: a política e a poética; século 20 e século 21; a Tropicália e o Modernismo. Ele é uma figura de extrema riqueza e, certamente, é muito bem-vindo agora como acadêmico, na casa de Machado de Assis”, diz o acadêmico.

O novo imortal

Gilberto Gil iniciou sua carreira no acordeon, ainda nos anos de 1950, inspirado por Luiz Gonzaga, pelo som do rádio e pela sonoridade do Nordeste. Com a ascensão da Bossa Nova, Gil passou a tocar violão e, em seguida, a guitarra elétrica, presente até hoje em sua obra. Em seu primeiro LP, Louvação, lançado em 1967, traduziu em música, de forma particular, elementos regionais, como nas canções Louvação, Procissão, Roda e Viramundo.

Em 1963, iniciou com Caetano Veloso uma parceria e o movimento Tropicália, que acabou internacionalizando a música, o cinema, as artes plásticas e o teatro. O movimento gerou descontentamento do regime militar vigente à época, e os dois parceiros acabaram exilados. O exílio em Londres contribuiu para a influência do mundo pop na obra de Gil, que chegou a gravar um disco em Londres, com canções em português e inglês. Ao retornar ao Brasil, Gil deu continuidade a uma rica produção fonográfica, que dura até os dias atuais. Ao todo, são quase 60 discos e cerca de quatro milhões de cópias vendidas, tendo sido premiado nove vezes com o Grammy.

Suas múltiplas atividades vêm sendo reconhecidas por várias nações, que já o nomearam, entre outros, Artista da Paz, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1999; embaixador da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO); além de condecorações e prêmios diversos, como a Légion d’ Honneur da França, a Sweden’s Polar Music Prize, entre outros.