Três casos grotescos de “aporofobia”, termo cunhado pela filósofa espanhola Adela Cortina, uma espécie de patologia social que se manifesta pela aversão à pessoas diferentes, no caso (e sobretudo) pessoas pobres, ocorridos em um intervalo de poucos dias, comprovam a miséria moral e intelectual de boa - senão grande!! - parte das nossas “elites”. 


Primeiro foi uma empresária do agronegócio, convocando seus pares a demitir funcionários que não votarem em Jair Bolsonaro. Em seguida, também um eleitor do atual presidente da República gravou e divulgou um vídeo em que, diante da resposta de uma senhora muito pobre (que iria votar no ex-presidente Lula), disse que não lhe daria mais cestas básicas. 


Por último, mas não menos ultrajante, nesta sexta-feira (16/9), um rapaz que corria com o cachorro dele pelas ruas de um bairro nobre de Belo Horizonte, ao se deparar com a faxineira de um prédio lavando a calçada, ofendeu-lhe, retirou-lhe a mangueira das mãos, a molhou e a derrubou violentamente no chão, retomando em seguida seu caminho.


Todos os agressores aparentam ser, senão ricos ou milionários, pessoas de classe média alta. Todos são brancos e em comum mostraram o desprezo que sentem - como muitos, aliás - por pessoas pobres. Uma ameaçou demitir; o outro ameaçou não alimentar; e o último resolveu não apenas ameaçar, mas castigar fisicamente quem lhe pareceu inferior.


Será que estes três cretinos agiriam assim diante de alguém da mesma classe social? Será que os dois homens agiriam assim diante de outros homens, ou são valentes apenas com as mulheres? Quem de nós não conhece alguém que pensa, diz e age pela “nova regra escravocrata” do século XXI: “pobre tem de saber o seu lugar”?


Aliás, como não lembrar do ministro Paulo Guedes, que diz não ser lugar para filho de porteiro uma faculdade particular, ou um parque da Disney para uma empregada doméstica? Quem nunca ouviu falar, diante do aeroporto cheio, “está parecendo rodoviária”? Ora, como negar a torpeza reinante em vários círculos sociais mais elevados? 

Aqui e ali, com frequência cada vez maior e atitudes cada vez mais violentas, brancos ricos maltratam pessoas pobres - não raro, pobres e pretas - por motivos banais (e ainda que fossem motivos relevantes) por se sentirem e se imaginarem superiores. Pior. Essas agressões, inclusive, por vezes, ocorrem a mão armada.


Segundo a página do Senado na internet, “ato que envolva discriminação contra pessoa em razão da condição de pobreza poderá se tornar crime de injúria. É o que propõe o Projeto de Lei (PL 1.636/2022), do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP)”. Excelente notícia! Que tramite rápido e seja aprovado com a mesma agilidade que as verbas secretas e o fundão eleitoral.