Esta terça-feira (10) é marcada como o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, data que transforma todo o mês em Setembro Amarelo, campanha que estimula o debate sobre o tema e, consequentemente, a prevenção ao suicídio. A professora do curso de Psicologia do Promove, Fabíola Bonni, lembra que o Setembro Amarelo surgiu quando um adolescente de 17 anos se matou em 1994, dirigindo seu carro amarelo. 

Já o girassol, símbolo da campanha mundial, foi escolhido por sua simbologia em comparação ao tratamento de uma pessoa com depressão. Trata-se da busca insistente que o girassol faz, todas as manhãs, em busca de sol. Apesar das dificuldades e dos dias nublados, a flor persiste nesta busca e, quando encontra, floresce ainda mais exuberante. É mais ou menos a luta que uma pessoa com depressão, uma das principais causas de suicídio no mundo, trava em si mesma. Um dia de cada vez, lidando com todas as dificuldades e lutando para sair da escuridão e conseguir encontrar a luz. 

 
O psiquiatra Renato Ferreira de Araújo, da Clínica Mangabeiras, lista nove sinais para identificar uma pessoa com depressão:

- Tristeza ou humor deprimido

- Falta de ânimo ou energia

- Redução das atividades diárias

- Dificuldade de concentração

- Insônia ou sonolência excessiva

- Alteração de apetite

- Falta de prazer nas atividades   

- Sentimentos de culpa

- Pensamentos de morte 

 

Conforme o especialista, é importante lembrar que esses sinais são comuns mesmo em pessoas que não têm a doença, já que fazem parte de "ser humano", no entanto, caso eles acometam a pessoa de forma constante por mais de duas semanas, podem indicar a depressão. 

"Ter pensamentos sobre morte, por exemplo, não é algo voluntário, as pessoas com depressão não fazem isso porque querem. É uma doença. Para falar com alguém que está com depressão e, principalmente, tem a ideação suicida, é preciso não minimizar aquilo, nem dizer para ela que é fraqueza ou para ela parar de pensar nisso. É preciso acolher a pessoa e escutar o que ela está sentindo, para dar uma direção, marcar um médico para ela, por exemplo, acompanhá-la, não deixá-la sozinha neste momento", explica. 

Como falar sobre suicídio 

Casos de suicídio não devem ser noticiados pois podem produzir uma reação em cadeia. Este "gatilho" é conhecido como efeito Werther, que ocorre quando um caso de suicídio é amplamente divulgado e acaba culminando em uma espécie de onda de suicídios, como aconteceu após a morte de Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, em 1994. E, mais recentemente, com a polêmica em torno da série "13 Reasons Why" que, logo após estrear em 2017, fez o número de atendimentos diários do Centro de Valorização da Vida (CVV) saltar de 50 para quase 300 no país. 

Mas, ao mesmo tempo, falar sobre suicídio é essencial para evitar mortes. O psiquiatra Michel Haddad, presidente do Grupo de Estudos Psiquiátricos do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, explica: "Diferente de documentar casos de suicídio, a gente deve falar sobre isso, no sentido de levar e buscar informações e conhecimento sobre o assunto. É uma forma de ajudar as pessoas que têm depressão e enfrentam pensamentos suicidas, já que este debate ajuda a diminuir os índices de suicídio", explica. 

Segundo ele, como uma doença que afeta mais de 300 milhões de pessoas no mundo, sendo apontada como uma das maiores causadoras de incapacitação laboral pela Organização Mundial da Saúde, é importante tirar a depressão e o suicídio do lugar de tabu em que foram colocados para trazê-los a debate no campo da saúde pública. 

"É preciso desmistificar estes estigmas de que é só uma tristeza passageira ou falta de alegria e se conscientizar de que a depressão é uma condição patológica que necessita de tratamento", relata. 

Adotar uma atitude empática com uma pessoa que tem a doença é o primeiro passo para ajudá-la. "Se aproximar desta pessoa sendo livre de preconceitos pode ajudá-la a se sentir segura e encorajada a falar sobre isso. Também é bom procurar saber se ela já conversou com mais pessoas sobre isso e até mesmo buscar outras pessoas da confiança dela que podem oferecer ainda mais suporte", esclarece o especialista, lembrando, ainda, que é essencial mostrar que se trata de um problema de saúde e que há tratamento para isto. 

"E este tratamento não é algo que se deve protelar, é preciso cuidar disso hoje", enfatiza.