Amauri Meireles (*)

 

 Por várias vezes, li que “nas piores crises surgem as melhores oportunidades”. Não me lembro se foram economistas, psicólogos, administradores de RH. Ou teriam sido os chineses? (rsrs). De forma correlata, recorrendo à cultura popular, lá encontramos que “nas quedas, o rio ganha forças para chegar ao mar”. Independentemente da origem, são verdades consagradas por muitas evidências e muitos fatos históricos.

Agora, estamos em plena crise mundial, em razão da pandemia da COVID-19, provocada pelo SARS-CoV-2, o novo coronavírus. Proativamente, vários países já pensam o que fazer em uma eventual mudança de hábitos de convivência, projetam como será a vida após este terrível desastre. Lamentavelmente, em nosso país, o pensamento positivo, citado acima, se altera para “nas crises, as melhores oportunidades para crises piores”. Aquelas denominadas político-institucionais, então, surgem a cada novo dia. Assim, impera aquele comportamento rasteiro de um por, outro tirar; um fazer, outro desfazer; um elogiar, outro criticar. Por aqui, prevalece a máxima inversa de que interesses grupais são maiores que interesses nacionais ou o bem comum.

Como é que alguns integrantes dos três poderes, políticos de carreira ou os que devem a carreira a políticos, são tão insensíveis? Em vez de se preocuparem com o bem-estar social, priorizam interesses de seus respectivos grupelhos? Nestes tempos de pandemia, não dão a mínima ao sofrimento de quem está internado, à angústia de quem não pode assistir, nem mesmo ver o parente sob cuidados médico-hospitalares ou, ainda, à dor de quem, às vezes, não pode enterrar seu ente querido? Como podem ter a coragem, ou melhor, o desplante de desviar, roubar dinheiro de hospitais? De se locupletarem com a desgraça alheia? Seriam eles as modernas vivandeiras? Aquelas que, antigamente, acompanhavam e ajudavam soldados em marcha, vendendo-lhes bebidas e comestíveis, suplementando a Logística? Que, posteriormente, passaram a pernoitar em dormitórios, vendendo seus corpos aos soldados? Que, atualmente, políticos em pele de aristocratas, querem deixar vendido o soldado, tumultuando o ambiente sociopolítico? Não! São muito mais que isso. São, num misto de hipócrita, egoísta com vampiro social, uma espécie que sempre existiu, agindo nas trevas, mas que, atualmente, está sendo caçada às claras.

Por outro lado, também não se aprova a ironia com que certos assuntos são tratados pelo soldado, a irreverência quando questionado, a inconsequência quando confrontado, a impaciência quando contrariado, a irritação com questiúnculas. Dizem que é próprio de seu temperamento. Calma lá! O cargo de PR tem uma liturgia a ser respeitada, exige postura e compostura exemplares que, certamente, devem ser praticadas por seus ocupantes. Conforme Tiago 13:8 “…o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz”. E, sendo evangélico, deveria ler e praticar Provérbios 15:18 “o que é impulsivo provoca contendas; o homem paciente, apazigua-as”. O PR já demonstrou que é um homem valente, corajoso, patriota. Agora, não precisa mostrar que é brilhante (seus assessores é que devem sê-lo), mas deve ser inteligente, o suficiente para não escorregar em cascas de banana, jogadas em seu caminho. Haja garis (assessores) para limpar a área.

Voltando à expressão inicial, corroborando-a, é hora de dar um basta na conspiração, nos complôs, é chegado o momento de conjuração, de agregação. Momento propício a correções de rumo, à busca de oportunidades de interesse comum, a um grande movimento sinérgico, a uma profunda e necessária reflexão.

Por exemplo, em relação à COVID-19, inicialmente, priorizou-se o microfoco, a saúde do povo brasileiro. Passado o susto, seguiram-se análises bem objetivas, recomendando que, sem abandonar a prioridade ao microfoco, seria fundamental desenvolver um trabalho nacional voltado para um macrofoco: a saúde do Estado brasileiro. O suficiente para que sinistros, agourentos, ególatras se colocassem contra, sem bem saber de que se tratava.

É possível identificar divergências quanto aos caminhos a percorrer, quanto às formas de se alcançar objetivos, conquanto que o fim seja um só: impedir que o Estado brasileiro adoeça, não apenas nos aspectos sanitários, mas, também, nos campos econômico, político, psicossocial, científico e tecnológico,

É oportuno, pois, que, qual fênix, nosso país ressurja desse desastre mais fortalecido, com práticas, demonstrações explícitas, dentre outras, de integridade, honestidade, ética, cidadania, união, capacidade e, sobretudo, de nacionalismo. E a ferramenta para alavancar essa transformação somos nós, o próprio povo. Que deve impor suas intenções e suas aspirações aos políticos, que são o veículo, não o boleeiro.

 

                         (*) Coronel Veterano da PMMG

                      Ex-Comandante da Região Metropolitana de BH