O prefeito Alexandre Kalil venceu as eleições de 2016 se fazendo passar pela antítese do político. O discurso era de que o povo estava cansado das velhas práticas, e as urnas provaram que ele tinha razão, foi eleito com folga para assumir o governo da capital mineira em janeiro de 2017. No entanto a paixão pelo poder foi arrebatadora, levando o ex-presidente do Galo esquecer-se do discurso e adotar outra postura na prática, a de falar o que a população gosta de ouvir, no modelo populista que garante a fidelidade do povo, independente das consequências, ainda que elas comprometam o futuro da cidade e do próprio povo que delira com os seus conhecidos e festejados arroubos.
Cercado por uma entourage que também fala o que ele gosta e não o que ele precisa ouvir, composta por técnicos de carreira com fortes vínculos no modelo petista de governança, Kalil acaba de jogar a cidade em um precipício sem fundo que pode durar pelo menos uma década. Herdou um Plano que representa prejuízos para a economia da cidade, matando no peito sem fazer o devido distanciamento, cujas consequências são imprevisíveis. O prefeito ainda adotou método pouco republicano para aprovar o famigerado Plano. Convocou a tropa e conversou no português claro: “quem discordar do Plano da Maria é meu inimigo, e não precisa contar com o prefeito nos projetos de asfaltamento de vias, quebra molas, postos de saúde etc.”, o varejo do toma lá dá cá que vereadores necessitam, especialmente aqueles incapazes de se posicionarem pelas ideias.
Recentemente Kalil convocou coletiva com o intuito de colocar uma pá de cal nos movimentos que eram contra o Plano. A data de 21 de maio ultimo não deve ser esquecida por empresários, independente de ser um micro empreendedor ou uma grande empresa. O prefeito fez acusações graves aos que não concordavam com ele, revelando o seu método de fazer política e a sua megalomania. Aos berros professou que empresários são inimigos dos pobres. Eu estava lá e fui testemunha. Para quem se dizia antipolítico, sobrou demagogia, populismo e faltou sensatez. Os fins justificando os meios no modo prático da esquerda, a mesma que tomou a PBH há 35 anos e que Kalil se aliou sem titubear. Explico.
Ao jogar trabalhadores contra empregadores, pobres contra ricos, esquecendo sua própria origem, o prefeito fez acusações que não podem cair no esquecimento. Ele saiu em defesa do Legislativo Municipal como se a CMBH não tivesse líderes eleitos, quebrou a independência dos poderes deixando indícios claros de que a casa legislativa está sob seu comando, fazendo inclusive prognóstico que veio a se confirmar. Com os 35 votos a favor e cinco contra, exatamente como antecipou na coletiva de 21 de maio, o Plano da Maria foi aprovado da forma que sua pupila petista Maria Caldas e ele queriam. No entanto, a cidade que existe na cabeça dela e dos aliados de ocasião não é a BH que conhecemos. Na que ela entende como próspera e progressista BH está no caminho certo e o mundo está no caminho errado. Equívoco maior não há.
Estudos mostram impactos negativos na economia de BH
O IPEA apresentou estudos que revelam efeitos do Plano Diretor na economia, mostrando que ele está na contra mão da geração de empregos e do progresso, com perda de produtividade na ordem de 32%, pois dispersa as centralidades e esvazia o centro. O Plano também provocará aumento no custo de obras, que serão repassados integralmente para imóveis, empurrando populações carentes para bairro afastados do centro. Um contrassenso no discurso apresentado para os movimentos populares que são manipulados de acordo com interesses puramente eleitoreiros. Brincam com a inocência do povo, fazendo dele massa de manobra cuja moral varia de acordo com a pauta do dia.
Outro fator negativo está carimbado na venda de outorga onerosa que acorrerá apenas uma vez, e isso mostra mais outra faceta política ideológica do plano com fortes vínculos eleitoreiros. Ainda que fosse um sucesso a arrecadação com a venda de outorga durante o período de transição, com uma corrida para aprovação de projetos, no longo prazo a cidade perde com arrecadação de IPTU, já que haverá inevitável queda no valor de terrenos.
Do limão a limonada
Com efeito, o desastre provocado pela disputa do Plano Diretor da Maria cuja vitória está sendo comemorada por Kalil, Maria Caldas e Léo Burguês, impõe na verdade uma derrota da cidade, que precisa deixar lições. Serve para unir empresários, trabalhadores e população esclarecida. O valor simbólico da “derrota” deve ser confrontado com metáfora do limão e da limonada: A guerra que está começando e tem seu campo de batalha na política, mostrou que o caminho para livrar a cidade das forças retrógradas de esquerda inevitavelmente é unico: As urnas.
Quem de fato constrói a cidade? Comerciantes, empresários, prestadores de serviços, profissionais liberais, empregados e empregadores ou o prefeito, vereadores e suas entourages? Quem de fato movimenta a economia, gera emprego, impostos não é o prefeito, o legislativo e nem tampouco os burocratas que criam dificuldades para vender facilidades, estes são entraves para o progresso, e isso ficou claro na experiência que encerrou no dia 06 de junho de 2019 com aprovação do Plano Diretor da Maria. Que a lição tenha serventia, não saia da memória e provoque atitudes, no momento certo.
José Aparecido Ribeiro
Jornalista
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