De vez em quando aparece numa cidade uma pessoa demonstrando sinais exteriores de riqueza. Conforme o grau de ostentação, logo surgem outras pessoas questionando como foi gerado aquele milagre. O primeiro e mais direto comentário afirma que a renda da pessoa não é suficiente para o que está mostrando, e deixa no ar o benefício da dúvida. Sempre tem alguém para falar que “longe de mim dizer que isso vem de um mal feito, mas a pulga fica atrás da orelha” e o “converseiro” vai ganhando fôlego.
Esses milagres estão ficando tão impregnados na cultura brasileira que milagre passou a ser definido informalmente em alguns grupos bem-humorados como sendo “um efeito sem causas”. Por outro lado, em função da escassez, honestidade passou a ser vista como uma virtude, quando deveria ser uma obrigação.
Agora a nação brasileira prossegue, sempre sabendo de alguma novidade envolvendo personagens do mundo público e privado participando ativamente de grandes negociatas, movimentando propinas de milhões de dólares, contas bancárias no exterior e, de vez em quando, até uma delação premiada.
Tenebrosas transações sempre têm sido mostradas nas diversas mídias em ocorrências envolvendo órgãos públicos, privados e organizações criminosas ao longo do país. A Polícia Federal está sempre em evidência com suas operações fazendo buscas, apreensões e prisões preventivas e os devidos processos legais vão seguindo seus caminhos. Vale lembrar recentes escândalos, como os descontos não-autorizados dos benefícios de aposentados do INSS, fraudes no ICMS feitas por auditores da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, emissão fraudulenta de licenças ambientais por órgãos da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais, organizações criminosas crescendo sua participação em negócios legalizados…
Nesse contexto lembrei-me de um compositor e cantor do qual gosto muito e cuja obra admiro. Trata-se de Noel de Medeiros Rosa, nascido no Rio de Janeiro em 11/12/1910, onde morreu em 04 de maio de 1937 com apenas 26 anos, 4 meses e 23 dias de vida. Em sua curta e fecunda carreira artística, Noel Rosa compôs 259 músicas. Uma delas, de 1933, foi Onde está a honestidade?, feita em parceria com Francisco Alves. Hoje, 92 anos depois, ela continua super atual e vale a pena ser cantada para nos ajudar a ter força e esperança para virar a atual página da nossa história. Veja a letra da música e ouça na voz do próprio Noel.
https://youtu.be/5F6gfazcwAc?si=RUVRLMSehXCsPlyX
Onde está a honestidade?
Fonte: Letras.mus.br
Você tem palacete reluzente
Tem jóias e criados à vontade
Sem ter nenhuma herança nem parente_
Só anda de automóvel na cidade
E o povo já pergunta com maldade:
Onde está a honestidade?
Onde está a honestidade?
O seu dinheiro nasce de repente
E embora não se saiba se é verdade
Você acha nas ruas diariamente
Anéis, dinheiro e até felicidade
Vassoura dos salões da sociedade
Que varre o que encontrar em sua frente
Promove festivais de caridade
Em nome de qualquer defunto ausente