A observação e análise do cotidiano de indivíduos e famílias deveria ser um exercício feito com mais frequência para ajudar na melhoria contínua das tarefas e atividades que fazem parte de seus processos de vida. Entretanto a realidade nos mostra que a maior parte das pessoas ainda está bem longe de fazer isso se tornar algo inerente ao avanço do curso de suas vidas.
Estou falando sobre isso a propósito de uma situação que vivi na tarde de quinta-feira da semana passada após sair de uma clínica dentária na Rua dos Goitacazes, no Centro da cidade de Belo Horizonte. Logo em frente ao edifício entrei num táxi, cumprimentando o motorista e solicitando a ele que me levasse até o bairro de Santa Tereza. Após retribuir o boa tarde o motorista disse que também era do bairro, onde mora desde que nasceu, há 43 anos, e que é taxista há 20.
Rapidamente o veículo chegou à Avenida Afonso Pena, onde o trânsito estava bem lento. O que começou a deixar o motorista irritadiço e ansioso para entender a causa daquela situação. Foi aí que resolvi perguntar a ele como é o seu cotidiano nesse tipo de trabalho ao longo da semana. Entre um pequeno avanço e outro pela pista ele começou dizendo que acorda por volta das 6h, toma um banho “esperto” e após o café da manhã deixa a esposa no trabalho e a filhinha numa escola municipal de educação infantil. Por volta das 7h30 começa a busca pelos clientes de seu negócio. Se não surgir ninguém pelo caminho ou pelo sistema central da cooperativa da qual faz parte ele segue diretamente para o ponto fixo da Praça Sete ou da Rua dos Goitacazes, onde passa a puxar fila até aparecer um cliente. Ele disse também que por longos anos trabalhou de segunda a sábado e que nos últimos tempos trabalha de segunda a sexta, até as 21h. Excepcionalmente atende alguns clientes fidelizados aos sábados, em situações bastante específicas. Seu almoço é sempre em casa, pois mora bem próximo do centro da cidade, e sempre que possível busca a esposa no trabalho para juntos buscarem a filhinha na escola.
O motorista também disse que enfrenta todos os tipos de problemas no trânsito e que se preocupa muito com sua própria segurança e de seus clientes. No futebol, é torcedor do Galo e disse que de vez em quando vai aos jogos no estádio Independência. Ele faz parte da turma que acredita.
Quando o táxi estava entrando no bairro rumo ao destino final o motorista disse que a cada três dias frequenta um bar próximo à sua casa para “bambear os nervos” após a extenuante jornada de trabalho e que faz isso há muitos anos. Lá já é enturmado e as conversas são acompanhadas por quatro guias – doses – de cachaça, seis garrafas de 600 ml de cerveja Brahma – ele é brahmeiro – e diversos tipos de tira gosto. Nessas ocasiões sai do bar quando ele fecha por volta das 23h30 e rapidamente chega em casa “bem arrumado”.
E assim terminou a corrida do táxi. Despedi-me do motorista pensando sobre o meu cotidiano e nas possibilidades de melhoria que sempre existem, mas que precisam ser enxergadas para facilitar os reposicionamentos necessários.