Convidado
por Sérgio Marchetti*
Na época da ditadura militar, Vandré escreveu, como abertura de sua música Terra Plana, os seguintes versos: Meu senhor, minha senhora/ Me pediram pra deixar de lado toda tristeza/ Pra só trazer alegrias e não falar de pobreza/ E mais: prometeram que/ se eu cantasse feliz, agradava com certeza/ Eu, que não posso enganar, misturo tudo o que vivo/ Canto sem competidor, partindo da natureza do lugar onde nasci/Faço versos com clareza, à rima, belo e tristeza/ Não separo dor de amor/Deixo claro que a firmeza do meu canto vem da certeza que tenho/ De que o poder que cresce sobre a pobreza e faz dos fracos riqueza/ É que me fez cantador.
Foi um desabafo de um artista verdadeiramente patriota! Uma forma de expressar sua indignação com o sistema vigente.
Realmente, caros leitores, ainda hoje, muitas coisas nos aborrecem.
E “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”
Falta cor e energia neles. São um incentivo ao descrer, ao duvidar da bondade humana, e a ficar estarrecido com o cinismo de tantos vilões. O mundo está se transformando numa arena romana com poder, crueldade, covardia e afronta.
Sabem, quando fazemos uma brincadeira de dizer que estamos todos vendo uma camisa qualquer da cor vermelha, quando na verdade ela é azul? E aí chega uma nova pessoa no recinto e, propositalmente, fazemos a pergunta aos que já estavam presentes: — qual é a cor da camisa? E, para surpresa do que chegou agora, todos respondem que é vermelha. Naquele momento a gente sente que estão menosprezando nossa capacidade mais básica de compreensão.
Eu queria perguntar tantas coisas que não compreendo, mas não posso. Gera conflito, pois podemos ferir o “brio” e sermos mal interpretados por discordar de determinadas atitudes de quem defende a democracia atual.
Resolvi, então, abrandar minha tristeza ouvindo música boa, que só poderia ser antiga.
“Amanhã vai ser outro dia/ Hoje você é quem manda/ Falou, tá falado/ Não tem discussão, não/A minha gente hoje anda falando de lado / E olhando pro chão, viu/ Você que inventou esse estado/ E inventou de inventar/ Toda a escuridão/você que inventou o pecado/ esqueceu-se de inventar/ O perdão/”
Em minha nostalgia, busquei ainda outra música: Alegria, alegria.
“Caminhando contra o vento/ sem lenço sem documento/ no sol de quase dezembro/ eu vou…”
Já esta música, está desatualizada. Não se pode caminhar pelas ruas e parar nas praças do Brasil, sem sermos assaltados, agredidos incomodados e até expulsos pelos novos proprietários.
Mas, de repente, um alento, o jornal da TV e as propagandas políticas nos falam de um Brasil sem fome, de uma democracia com ares à frente de nosso tempo, (talvez por isso ainda não tenha sido compreendida), com recordes de impostos (que maravilha), contenção de gastos, princípios de igualdade em plena recuperação, depois de ter recebido uma administração desastrosamente sem dívidas. E, graças a Deus, não há mais miséria, nem queimadas na Amazônia, e os Yanomamis já não têm óbitos. Não é preciso mais músicas para salvar a floresta. Os cantores e artistas heróis, que com tanto ardor e amor pela pátria, defenderam aquelas matas, já podem se dedicar aos seus trabalhos com o apoio merecido da Lei Rouanet.
Agora, sem inflação, sem desemprego, cesta básica acessível, saúde para todos e com medidas severas que acabaram com a fome, e com a corrupção, conforme anunciado repetidas vezes, estamos mais tranquilos. Tanto é que CGU fechou o departamento de combate à corrupção.
Enfim, nos resta constatar e acreditar que não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe (embora demore).
*Sérgio Marchetti é consultor organizacional, palestrante e Educador. International Certification ISOR em Holomentoring, Coaching & Advice (coaching pessoal, carreira, oratória e mentoria). Atuou como Professor de pós-graduação e MBA em instituições como Fundação Getúlio Vargas, Fundação Dom Cabral, Rehagro e Fatec Comércio, entre outras. É pós-graduado em Administração de Recursos Humanos e em Educação Tecnológica. Trinta anos de experiência em trabalhos realizados no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br