O ano começou quente nessa terra chamada Brasil. O sentimento de aversão ao risco é grande. Grande não, gigante. Em uma série de equívocos de comunicação e atuação de membros do governo desde a posse, mostra um caminho temeroso que pode inviabilizar o terceiro mandato de Lula. Em outras palavras, devemos continuar a sentir sobre os ativos locais a pressão política de Brasília. A semana começou deixando péssimas impressões com as falas de integrantes do governo, como Galípolo, o secretário-executivo da Fazenda, e de Lupi, o ministro da Previdência.  Lupi foi pior e chegou a passar vergonha ao mentir sobre matemática e negar algumas verdades básicas sobre previdência social. A fala sobre "rever" uma suposta "antirreforma" é uma sinalização horrível — muito pouco provavelmente o governo conseguirá alterar alguma coisa da reforma previdenciária (não tem voto para isso e tem outras prioridades), mas a simples atuação vocal passa uma impressão péssima aos mercados. Não podemos ter retrocessos tão grandes (muita cabeça retrógrada ali).

 Comprar briga com o mercado pode ser um caminho sem volta e Lula parece ainda não ter entendido a gravidade da situação. Por incrível que pareça, entre os loucos, Haddad acabou se tornando o mais palatável. Caberá a ele (junto à dupla Alckmin e Tebet) dar uma arejada na situação toda. Devemos até abril já começar a debater a nova regra fiscal, que hoje vive ainda encoberta sobre uma densa neblina. Se não houver previsibilidade, as coisas vão piorar muito e em uma velocidade surpreendentemente rápida. 

Com a volta do governo Lula ou do PT, voltam também a preocupação com as empresas estatais. Lula defende que bancos do governo não pode dar lucro para os acionistas. Tem que investir na produção. A Petrobras que foi ao fundo do poço está a procura de um direcionamento. Neste início de governo a empresa comunicou ao mercado que recebeu ofício do Ministério das Minas e Energia  informando sobre a indicação de Jean-Paul Terra Prates, senador do PT, para o cargo de Presidente e membro do Conselho de Administração da estatal. Ainda segundo o comunicado, o nome do senador foi encaminhado à Casa Civil, que analisará a documentação, para então retornar ao Ministério e encaminhar à Petrobras. Após efetivada, a indicação passará pelo processo de governança interna da companhia.

Também esta semana, Caio Paes de Andrade teria renunciado à presidência da estatal. Segundo notícias veiculadas na mídia, Caio teria enviado carta de renúncia ao Conselho de Administração, mas permanecerá no cargo até que Jean-Paul assuma a posição. Andrade deixará a Petrobras para trabalhar com o novo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Caso seja confirmada a renúncia do executivo, os atuais conselheiros da companhia devem aceitar o nome de Jean-Paul como seu substituto, em reunião extraordinária (AGE), após a manifestação do Comitê de Pessoas (Cope) da Petrobras, o que deve levar em torno de 30 dias. Já no caso do atual conselho não aceitar a indicação, uma nova AGE deve ser realizada para destituir o conselho e eleger novos nomes, desta vez indicados pelo novo governo.

 Os investidores europeus estão avaliando nesta semana alguns dados de inflação que mostram uma desaceleração dos preços mais rápida do que se esperava.  Alemanha, França e Suíça. Em todos os casos vimos arrefecimento dos índices. A Itália vem com tendência positiva para o controle dos preços por parte das autoridades monetárias. Temos observado que a inflação global está finalmente desacelerando e devem ocorrer novas reduções acentuadas nos preços em quase todas as economias durante 2023. Provavelmente, a desinflação será mais acentuada do que o consenso dos economistas ou dos bancos centrais preveem, em grande parte por conta do efeito base e da normalização dos preços de energia e de alimentos.  

A recessão é agora a preocupação econômica número 1 em 2023. Deveremos ter demissões de trabalhadores e mais pessoas hesitando em gastar. Expectativas fracas ou excesso de investimento anterior também influenciam a equação, com muitas empresas sentindo que grandes áreas da economia poderiam experimentar o agravamento das forças macro e uma série de variáveis desconhecidas (guerra, pandemia e preços de energia, por exemplo).

Segundo a própria diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, o novo ano será mais difícil do que o ano que terminou. O motivo? As três grandes economias - EUA, UE, China - estão desacelerando simultaneamente. Ou seja, é possível ver um terço da economia mundial entrando em recessão. Mesmo em países que não estão em recessão esse cenário  pode parecer uma recessão para centenas de milhões de pessoas. Sim, a janela pós-pandêmica se provará um desafio tão grande quanto a pandemia em si.