A crise de 2008 é considerada por diversos economistas como a pior crise desde a Depressão de 1929. Tudo começou com a concessão de financiamentos imobiliários de alto risco concedidos pelos bancos americanos. O mundo balançou e segundo o presidente do Brasil, na época, Lula disse que por aqui essa crise não passava de uma "marolinha". Realmente os fundamentos da economia brasileira estavam mais sólidos. Passamos a ser a bola da vez, o que originou essa capa da revista The Economist em 2009.
Como o brasileiro tem a fama de estragar tudo, estamos prestes a entrar por um caminho sem volta no curto prazo. Depois de um ano bastante desafiador, com alta inesperada da inflação e dos juros ao redor do mundo, 2022 termina com as principais economias desenvolvidas apresentando crescimento abaixo do potencial e com inflação começando a ceder, diante do forte choque nos preços de energia registrado depois da invasão da Ucrânia. Diante de todo esse cenário, os juros já subiram bastante, especialmente nos EUA, onde a taxa básica já voltou para níveis próximos aos registados antes da crise de 2008. Olhando para 2023, existem alguns fatores que podem moldar o cenário, como o desenrolar da guerra na Ucrânia, o curso da reabertura chinesa após abandono da estratégia de Covid zero e a trajetória dos preços do petróleo. De uma forma geral, o risco menor de inflação e o fim do ciclo global de aperto favorecem o crescimento. Dessa forma, para 2023, elevamos nossa projeção de expansão do PIB global de 1,8% para 2,3%, devido a revisões para cima nas estimativas para os EUA, China e zona do euro.
Como ninguém tem bola de cristal, só nos resta analisar os dados e números disponíveis para o mercado. No mudo globalizado cada grande economia acaba sendo muito importante no todo.
• EUROPA: a guerra na Ucrânia continua em curso e traz, como uma das principais consequências, a crise energética que atinge a Europa Ocidental e que afetou diretamente muitos países, principalmente com a alta da inflação, que segue pressionando negativamente. Entretanto, as estratégias para preencher os estoques de gás foram bemsucedidas, mesmo que sob expressivo custo econômico, reduzindo o risco de apagões durante o inverno. Ainda assim, uma recessão continua como o cenário mais provável na região, dados os impactos da alta de preços sobre famílias e empresas, além do esperado aperto monetário. Do lado de atividades, esperamos recessão em 2023 e, provavelmente, no 4T22, porém mais branda do que se previa anteriormente. Revisamos a estimativa para a variação do PIB do ano de -0,8% para -0,6%. Em 2024, prevemos retomada do crescimento para 0,9%, à medida que a economia europeia encontra alternativas para se livrar da dependência do gás russo.
• CHINA: os dados de atividade evidenciaram a desaceleração da economia no país, por conta das restrições à Covid-19. No entanto, com o tom mais brando adotado agora pelas autoridades em relação à doença e às medidas de flexibilização, é prevista uma saída da política de Covid zero. Ainda assim, vemos dois fatores que limitam as chances de um grande aumento do crescimento chinês no próximo ano: primeiramente, a recuperação do consumo não será tão forte quanto no resto do mundo, dada a ausência de transferências de renda para auxiliar as famílias durante a pandemia. O balanço patrimonial das famílias está pior do que no fim de 2020, com maior desemprego e queda dos preços dos imóveis. Em segundo lugar, as medidas recentes para apoiar o financiamento às incorporadoras devem impedir uma retração adicional, mas o setor imobiliário parece estar mais equilibrado após anos de estímulos excessivos. Dessa forma, esperamos apenas uma estabilização no mercado imobiliário, que tem uma grande representatividade no PIB do gigante asiático. De maneira geral, acreditamos que a retomada da economia e a esperada estabilização do setor imobiliário melhorem as perspectivas para o PIB em 2023 comparado a este ano. Assim, projetamos um crescimento de 4,8% em 2023 (4,5% anteriormente).
• EUA: o mercado de trabalho e outros indicadores de atividade seguem apresentando resiliência, reduzindo o risco de recessão no curto prazo. Ainda assim, o país deve apresentar crescimento abaixo do potencial em 2023. Nossa estimativa é que devemos ver a atividade americana desacelerando trimestre a trimestre ao longo do próximo ano, encerrando 2023 próximo de 0,5%. Do lado da inflação, apesar de sinais de desaceleração, os números permanecem altos, alívio que vem principalmente da desinflação de bens, provavelmente devido à normalização das condições de oferta, voltando aos níveis pré-pandêmicos e permitindo que os bancos centrais implementem acréscimos mais moderados nas taxas de juros e se aproximem de uma pausa no aperto monetário. Porém ainda esperamos que os juros permaneçam elevados por mais tempo, dados os últimos discursos de dirigentes do Fed e a inflação global de serviços ainda alta. Dessa forma, esperamos que o Federal Reserve (Banco Central americano) siga em seu ciclo de aperto monetário, elevando os juros até 5,1% no primeiro trimestre e mantendo-os nesse nível até o fim do ano, uma vez que a inflação deve fechar 2023 ainda acima da meta.